;Não sei fazer outra coisa, além de cantar;. É assim que Elza Soares, 80 anos, explica sua constante permanência no mundo da música há tantos anos. Com mais de seis décadas de carreira, a artista sabe se reinventar e manter-se relevante a cada ano, como uma fênix. Em 2015, surpreendeu público e crítica ao lançar o álbum A mulher do fim do mundo, um material biográfico, com temáticas fortes, como violência doméstica, e produção do instrumentista Guilherme Kastrup. O material lhe rendeu o Grammy Latino de melhor álbum de música popular brasileira em 2016 e um lugar na lista dos 10 melhores álbuns segundo o The New York Times.
[SAIBAMAIS]Neste ano, vivenciou um momento emocionante durante a cerimônia de premiação do Prêmio da Música Brasileira, no Rio de Janeiro. Vencedora da categoria melhor álbum por Elza canta e chora Lupi (2016), em que revisita o repertório do compositor Lupicínio Rodrigues, foi ovacionada de pé pelos presentes, mostrando sua importância para a música brasileira. ;Nesta hora, eu acho que vale a pena continuar;, conta, em entrevista ao Correio.
Apesar de situações como essas fazerem com que Elza Soares tenha ainda mais motivação para continuar cantando ;até o fim;, como ela mesma diz em A mulher do fim do mundo (faixa homônima do álbum de 2015), questionada sobre ser um símbolo de força, militância e história, ela diz não perceber isso: ;Eu não consigo ver tudo isso como dizem... Eu vou vivendo.;
Sem tempo para pausas, Elza Soares estará em Brasília em 26 de agosto para show do projeto Elas cantam da bossa ao samba, em que se apresentará ao lado de Mariene de Castro, Zélia Duncan e Wanda Sá. O quarteto fará uma homenagem aos ritmos que perpetuam a música brasileira para o mundo em apresentação única. Os ingressos variam entre R$ 60 e R$ 160 e estão à venda no site www.eventim.com.br.
Ao Correio, Elza Soares fala sobre o projeto que apresentará na capital, além de comentar momentos da carreira e fazer uma análise sobre temas importantes, como a política atual e o racismo ainda presente no Brasil.
Entrevista // Elza Soares
A senhora é uma das artistas mulheres com mais representatividade por sua força, história e militância. Como vê o fato de ter se tornado um símbolo para as mulheres brasileiras ao longo dos anos?
Eu não consigo ver tudo isso como dizem... Eu vou vivendo... Enquanto eu puder, vou lutar pelas mulheres, pelos negros e pelos gays. Fiquei sabendo hoje que transexuais e travestis agora podem ter nome social no CPF, fico tão feliz, é uma notícia boa, até que enfim. Vou lutar até o fim!
O álbum A mulher do fim do mundo tem muito de resistência e autobiografia e foi um material que lhe rendeu bastante reconhecimento. A que atribui o grande sucesso e repercussão desse material?
Acredito que foi o encontro com essa meninada muito talentosa. Esse grupo de paulistanos da nova cena da música brasileira (nomes como Guilherme Kastrup, Rômulo Fróes, Alice Coutinho) que vem fazendo já há algum tempo um trabalho inovador.. Cara, achei a minha praia... (risos).
A senhora já está há muito tempo no mundo da música. O que a inspira a sempre continuar cantando, fazendo shows e lançando novos materiais?
Não sei fazer outra coisa além de cantar. Ah! Sei sim, sei cozinhar... (risos). Olha que eu sou boa na cozinha, faço um peixe que todo mundo gosta. Agora não posso ir para a cozinha por conta deste meu problema de coluna... Eu sou muito feliz quando estou no palco, é muito bom ser acolhida por este público que me segue, recebo muito carinho. Foi lindo no teatro Municipal do Rio de Janeiro, todos de pé me homenageando no Prêmio da Música Brasileira pela vitória na categoria de melhor álbum pelo CD e DVD Elza canta e chora Lupi. Nesta hora, eu acho que vale a pena continuar.
A sua história de vida tem muitas batalhas. O que a fez tão guerreira e de onde tira essa força?
A vida e as circunstâncias me fizeram assim... Eu tenho fé! Quando as coisas não estão do jeito que eu gostaria, paro e respiro e penso que tudo passa. As coisas boas passam, as coisas ruins passam. Tem que ter paciência e fé, cara.
Apesar de estarmos no século 21, o radicalismo impera, assim como o preconceito. É mais fácil ou mais difícil ser hoje uma mulher negra? O que mudou para melhor e o que piorou?
Ser ;humano; hoje é que está difícil. Está difícil presenciar tantas injustiças, tanto desrespeito com outro, não somos nada, absolutamente nada, somos uma folha de papel. Qualquer coisa nos destrói, mas o ser humano é de uma empáfia que eu não entendo...
A senhora sempre se posiciona politicamente. Como vê o atual cenário político brasileiro?
Terrível! Me dá medo! O Brasil é um país lindo, não troco isso aqui por nada, mas está difícil ver o que estão fazendo com o nosso país.
A senhora retornará a Brasília em agosto para o show Elas cantam da bossa ao samba. Como surgiu o convite de integrar esse projeto e o que pode adiantar em relação ao repertório que cantará?
Coisa do Juliano Almeida e da Regina Oreiro. Fiquei feliz com o convite, porque vou cantar músicas que eu gosto, como Madalena do Jucu, do Martinho da Vila, e Meu guri, do Chico Buarque.
Como se dará essa parceria com Zélia Duncan, Mariene de Castro e Wanda Sá no show?
Tenho carinho por todas essas meninas, admiro muito a Zélia (Duncan), grande artista. Me lembro que um dos filhos da Mariene (de Castro) eu vi ainda na barriga dela. A Wanda (Sá) tenho muito carinho, musa da nossa bossa.
SERVIÇO
Elas cantam da bossa ao samba
Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Em 26 de agosto, às 21h30. Ingressos a R$ 60 (poltrona superior), R$ 80 (poltrona B), R$ 100 (poltrona A), R$ 130 (poltrona lateral) e R$ 160 (poltrona gold). Assinantes do Correio têm desconto. Valores referentes à meia entrada. Não recomendado para menores de 12 anos.