Nascida em Brasília e radicada no Nordeste desde os 5 anos, a fotógrafa Barbara Wagner tem um jeito particular de investigar as expressões culturais. Com foco na documentação de uma cultura pop periférica, seus ensaios e vídeos trazem a carga da investigação e da observação sempre guiadas por um interesse que vai além do etnográfico ou antropológico. Formada em jornalismo, Barbara quer contar histórias de como o corpo pode tomar a dianteira e transpor barreiras de raça e classe em uma sociedade pautada por histórias de opressão e desigualdade. É sobre isso que a fotógrafa fala nesta terça (25/07), às 18h30, durante a primeira palestra da Semana Pensamento Criativo,na Caixa Cultural.
Barbara divide a mesa com Moacir dos Anjos, que foi curador da 6; Bienal do Mercosul e da 29; Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Durante a apresentação, ela vai mostrar alguns vídeos e fotografias para explicar ao público como trabalha. ;Vou fazer apresentação de três trabalhos em relação a trabalhos em vídeo, porque meu trabalho transita entre esses dois suportes;, avisa. ;A pesquisa é a mesma, apesar de, às vezes, usar a fotografia e o vídeo. O foco é o corpo em movimento, as performances, como os jovens da região metropolitana do Recife, seja os bailarinos de frevo ou os mestres de cerimônia do brega. Quero mostrar como esse mundo de uma cultura popular mais tradicional se relaciona com o mundo dessa cultura pop que tem essa indústria. A ideia principal é mostrar o espetáculo como forma de trabalho.;
A intenção de Barbara é mostrar como existe uma geração de jovens hoje no Brasil, sobretudo nas classes populares, que trabalha como artista no que ela chama de periferia do circuito artístico. ;São pessoas que trabalham com expressões completamente do mainstream e gosto de falar disso como forma de resistência. Para mim, não tem muita diferença entre um bailarino de frevo tradicional e um de vogue, um dançarino de maracatu e um bailarino do brega;, explica. A resistência, a artista afirma, é uma forma de evitar o apagamento cultural que é histórico e tem a ver com relações de poder e o passado colonial brasileiro. ;São mecanismos de opressão se repetem, apesar de estarmos vivendo em um sistema democrático;, lamenta Barbara.
Para explicar o trabalho, ela gosta de comparar os bailarinos de frevo e maracatu com os cantores e bailarinos do brega. ;As pessoas do maracatu e frevo são fotografadas o tempo inteiro e se transformam em emblema da tradição pernambucana, então elas são muito acostumadas a virarem imagens, emblemas, produtos. É um capital simbólico;, explica. ;No brega, é a mesma coisa. São meninos que trabalham na segurança privada, motoboys, trabalhadores da construção civil, pessoas com trabalho precário que começam a trabalhar com cultura, se unem para construir uma imagem. E aí tem toda essa coisa massiva da indústria do brega. Conversar com essas pessoas sobre imagem é muito rico porque eles sabem muito bem como fazer a transformação dessa coisa de classe. Eles se dizem `tudo bem, tou fadado a trabalhar com subemprego, mas eu posso ter um trabalho afetivo que é de uma outra economia;. É essa subjetividade que me interessa. Trabalhar o corpo e o espaço que ele pode ocupar.;
Semana Pensamento Criativo
Hoje, às 18h30, na Caixa Cultural (SBS, quadra 4, lotes 3/4 - Asa Sul, anexo à matriz da CAIXA). Palestras até 28 de julho, das 18h30 às 22h30. A retirada de ingressos pode ser feita na bilheteria mediante o doação de um agasalho ou 1kg de alimento não perecível (exceto sal).