O 3; Festival Gonzagão de Quadrilhas Juninas chega ao fim neste sábado (22/7), em Samambaia. A principal tônica do evento é mostrar que, por trás do forró pé de serra e das comidas típicas, as festas juninas podem ser uma forma de incentivar projetos sociais. O melhor: o resultado pode ser sentido o ano inteiro.
[SAIBAMAIS];É uma festa que vem para fortalecer o terceiro setor para aquela molecada que não tem muita opção para diversão além das quadrilhas juninas e hoje pode ganhar dinheiro para participar. Nosso maior ganho é o de fomentar essa integração social;, afirma Hamilton Teixeira (mais conhecido como Parente Tatu), vice-presidente da União Junina Brasiliense, da Confederação Nacional de Quadrilhas Juninas, participante da ONG Amigos do Bem e um dos responsáveis pelo festival.
Este ano, o festival que já passou pelo Guará e por Planaltina, chega a Samambaia, cidade onde Hamilton mora há 26 anos. O evento apresenta uma competição de quadrilhas juninas que contou com 40 equipes e chega à grande final com apenas 12 representantes, entre as quais Rasga Saia, Mala Veia, Os Banguelas, Xique-Xique, Os Caboclos do Sertão, Pau Melado e Elite do Cerrado. A grande vencedora vai ser conhecida depois de todas as apresentações, à 0h de amanhã. De 15 títulos nacionais, Brasília tem oito, um com a Mala Veia e sete com a Pau Melado.
Teixeira não esquece a principal receita do sucesso: ;Brasília tem o estilo saruê, que é aquela dança brincada, particular da cidade. É a nossa marca.;
O ano todo
O trabalho de associações, como a União Junina Brasiliense, vai além do período das tradicionais festas juninas. Atividades de ensaios e aulas de esportes ocupam o tempo dos jovens. ;A Pau Melado, por exemplo, não é só uma quadrilha junina. Ela faz um trabalho de resgate, com 14 atividades sócio-culturais, como jiu-jitsu, judô, jogos, dança, fora a quadrilha. Não queremos só o evento, queremos provar que o projeto junino, que é um projeto barato, pode ajudar a longo prazo os jovens das regiões;, sustenta Teixeira.
Expandir é a ordem. Teixeira planeja um projeto que englobe a educação dos jovens: ;O que fazemos hoje é um resgate do jovem de 10, 11 anos na liga mirim, e o governo ajuda com um custo para transporte e vestimenta, pelo programa Brasília Junina.;
Há três anos, Marlucio Chagas é dos que sobem ao palco, com a quadrilha Elite do Cerrado, que tentará o título com o tema A arte Vitalino e os encantos do São João. ;Hoje eu vejo que grupos de quadrilhas são um trabalho social para o ano todo;.
Opinião semelhante tem Ivan Moura, representante, há sete anos, do grupo Paixão Cangaço. Ele vai à quadra com o tema O pequeno príncipe do sertão e ressalta: ;O trabalho social é muito importante. A valorização da cultura é fundamental e a gente está indo atrás. O trabalho social é a base dessa festa;.
3; Festival Gonzagão de Quadrilhas Juninas ; Final
Estacionamento da Igreja da Barca (QS 304 Cj. 5 1/3 ; Samambaia Sul). Sábado (22) e domingo (23), a partir das 20h. Entrada franca. Verifique classificação indicativa.
Leia a entrevista completa com Hamilton Teixeira
Como você vê a representatividade regional da cidade por meio da festa?
Cada estado tem seu estilo, sua representação. Em Brasília não é diferente. Temos o jeito saruê, que é o jeito dançado e brincado. É uma festa mais dinâmica, mais movimentada, temos os personagens. É como se tivéssemos botado o Brasil todo em um saco, sacudido e tirado de lá um estilo novo que hoje é respeitado em todo Brasil.
Além do período de festas juninas, quais projetos a União promove ao longo do ano?
A quadrilha Junina Pau Melado, por exemplo, tem duas parcerias, uma no DF e outra no Entorno. No DF, ela tem com o Amigos do Bem, realizando 14 atividades durante o ano todo. No entorno ela fecha atividades com o grupo Os Banguelas, de Valparaíso, realizando mais oito atividades o ano todo. O objetivo é que, além da festa junina, existam atividades culturais, de lazer.
Como a estrutura do Gonzagão poderia melhorar a imagem de Samambaia?
Eu acho que, independente do movimento junino, o que mais falta é a integração do governo com os serviços do terceiro setor. A grande mídia, às vezes, vê a cidade como palco de crimes, de tráfico, de tragédias, mas não enxerga os projetos que acontecem aqui. Cortes de verbas para o terceiro setor também são um problema. Muitas ONGs foram abandonadas e, sem esse setor, não tem como nada funcionar. Muitos espaços da comunidade também não são usados. Poderiam abrir esses espaços para o uso das ONGs, eu sempre digo ;gente, ninguém vai roubar nada, nem mexer;. Espaço é o que não falta.
De onde você acha que surge a percepção de que as cidades de Brasília são violentas, ou perigosas?
Olha, às vezes do próprio governo, do próprio Estado. Não são divulgados os projetos sociais que existem nas comunidades, o que chega às pessoas é o que sai nos jornais, na tevê, é que aqui é violento. Mas não chega a informação do trabalho que a gente faz, que aqui tem vários projetos socioculturais. A visão ia ser ;Samambaia virou uma cidade de cultura. Lá se matava, agora está cheio de projetos legais;. Falta o governo chegar, abater impostos de comerciantes que investem em projetos sociais. Você muda a visão da cidade. Mas eles nem fazem isso, eles não querem que isso aconteça, porque se você dá poder para os projetos sociais é isso que as pessoas vão ver. Mas a comunidade está ficando esperta, não é boba. Os projetos sociais estão se reunindo, se organizando.
* Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader