Foi por meio da enxurrada de notícias na televisão que o adolescente Achilleas Souras se impressionou com o drama dos refugiados. Aos 15 anos, o menino nascido em Londres, filho de um grego e criado entre a Inglaterra, a Grécia e Barcelona, decidiu que queria fazer algo para falar da tragédia vivida pelos milhares de pessoas que atravessam o Mediterrâneo em botes e barcos precários em busca de uma vida melhor na Europa. Souras enxergou nos coletes salva-vidas usados pelos refugiados no momento do resgate um material simbólico e útil.
Por meio de uma parceria com o grupo de design Moroso, o adolescente conseguiu que a municipalidade de Lesbos, uma das ilhas gregas que acolhe os refugiados, recolhesse centenas de coletes e que a autoridade portuária de Trieste fizesse o envio do material para a Espanha, onde mora com os pais. Souras usou os coletes para construir iglus que intitulou de SOS Save our Souls e a instalação acabou exposta na Semana de Design de Milão, na área destinada ao showroom do grupo Moroso.
Mais tarde, os iglus também foram mostrados no Museu Marítimo de Barcelona e na África do Sul. Agora, a instalação faz parte da mostra Vidas deslocadas, em cartaz no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e dedicada aos grandes deslocamentos de pessoas pelo mundo em decorrência de desastres climáticos e guerras.
Souras observa tudo isso com o olhar de um adolescente que cresceu em um meio internacional e conviveu com diversas culturas. Radicado em Barcelona, ele está no último ano do Ensino Médio, adora arquitetura, área que pretende estudar na universidade, e sempre gostou de brincar com legos. Mais jovem, aproveitou a habilidade desenvolvida com as pecinhas de plástico para criar estruturas para a casa dos próprios pais.
A consciência social e ambiental o levaram à instalação SOS Save our Souls. ;Decidi usar os coletes salva-vidas, tive a ideia quando vi imagens dos refugiados de coletes na televisão e pensei que queria fazer algo artístico com isso;, conta. ;Nunca havia feito um projeto dessa magnitude, era a primeira vez que estava trabalhando com peças grandes.;
O rapaz acredita que os iglus são uma maneira bastante objetiva de falar da crise ambiental e dos refugiados. ;Essas pessoas precisam de casa e não podemos negar que reunir esses coletes salva-vidas é também uma questão ambiental, então é uma preocupação básica. Acho que, no futuro, vou transformar essa peça em algo maior, mas, por enquanto, meu objetivo é apenas alertar. Acho que essas peças podem angariar interesse pelo tema dos refugiados;, explica o artista, que contou com o apoio do Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas e com a Embaixada Grega para viabilizar o trabalho.
;No futuro, vou transformar essa peça em algo maior. Acho que o que essas peças podem fazer é angariar interesse pelo tema dos refugiados;
Achilleas Souras, artista plástico
Os iglus carregam toda uma simbologia que envolve a trajetória dos refugiados. As travessias precárias do Mediterrâneo acontecem após tragédias ambientais ou em decorrência de guerras que implicam em deixar para trás não apenas país, família e amigos mas também uma casa. Além disso, o próprio material é item essencial para a sobrevivência em alto-mar. A instalação, Souras acredita, pode ajudar o público a refletir e a se sensibilizar com a situação. E para ele, as soluções para os conflitos planetários contemporâneos envolvem também atitudes individuais. ;Acho que, para sair de uma situação como essa, temos que fazer o mesmo que fazemos com outras grandes questões como o aquecimento global: as pessoas têm que ter atitudes pessoais e fazer algo que contribua para a solução do problema;, diz. ;Foi o que pensei: sou bom em artes, então vou pegar esse problema, transformar em uma peça de arte e mostrar às pessoas para tentar causar algum impacto. Tudo isso é muito complexo porque há muitas vidas diferentes (entre os refugiados). Por isso, fiz o iglu, porque ele se refere ao mal que tudo isso causa.;