Adriana Izel
postado em 15/07/2017 07:30
Baiana de Alagoinhas, Solange Almeida conheceu o sucesso ao lado do amigo e cantor José Alexandre, o Xand Avião, nos vocais do grupo Aviões do Forró. Foram 14 anos de parceria na banda até que a cantora decidiu trilhar um novo caminho. A decisão foi inspirada por amigos, fãs e pela vontade da artista de celebrar os 30 anos de carreira na música.
[SAIBAMAIS]A nova fase de Solange tem sido muito rápida. Em dezembro, ela anunciou a saída da banda e em fevereiro já estava gravando o primeiro material solo, o CD e DVD Sentimentos de mulher, captado em show em São Paulo e que foi lançado oficialmente em 7 de julho. ;Esses 30 anos (de carreira) passaram tão rápido. Acho que esse DVD veio para ser um momento de consagração, de coroar esse tempo de muito trabalho;, analisa a cantora ao Correio.
O disco tem como objetivo mostrar todas as facetas de Solange, desde a compositora romântica, presente nas letras de Duas e vinte e três e Me faça o favor, até a intérprete mais animada, que pode ser vista em faixas como Revoltada e Luxo. ;A minha intenção foi demonstrar para as pessoas a minha diversidade. Tenho tentando fazer isso também em meu shows;, explica.
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Durante o processo de criação do álbum, a cantora teve acesso a 70 músicas. No DVD, ela escolheu 25 faixas e no CD lançou 14. Antes de divulgar o material completo, a cantora disponibilizou semanalmente alguns singles, como forma de esquentar o público para a chegada de Sentimentos de mulher. Em entrevista ao Correio, Solange Almeida fala sobre a nova fase, relembra o início da carreira e ainda comenta a polêmica entre forró e sertanejo.
Entrevista // Solange Almeida
As mulheres têm vivido um momento de ascensão em suas carreiras dentro do sertanejo, do forró e da música pop. Como você vê esse cenário?
É muito bacana e esse foi um dos grandes incentivos que eu tive para partir para a carreira solo. Já existia uma cobrança para que me juntasse a essa mulherada. Todas me diziam: ;vem com a gente que vai dar certo;. E me deu essa vontade de voar sozinha. A mulher sempre esteve em ascensão na música, a diferença é que agora há esse leque de grandes artistas, sejam elas sozinhas, seja em duplas. Eu entrei nesse meio para unir e levantar a bandeira do empoderamento.
Assim que você anunciou a carreira solo, comentou que era uma forma de celebrar os 30 anos de trajetória. Você acha que agora fez justiça à trajetória?
Esses 30 anos (de carreira) passaram tão rápido. Não acho que foi fazer justiça. Acho que esse DVD veio para ser um momento de consagração, de coroar esse tempo de muito trabalho. Foi uma trajetória árdua, porém de muitos sucessos. Nada nunca foi fácil para mim. O DVD foi a coroação do sucesso e do que eu plantei.
Como foi o seu início na música há 30 anos?
Eu comecei a cantar muito cedo, com incentivo do meu tio. Ele ia para a minha casa com violão e começava a cantar coisas que as meninas da minha época não cantavam. Eu tive inspirações de Clara Nunes, Roberto Carlos, Guilhermes Arantes, Elba Ramalho. Eu ouvia muita coisa e todas me serviram de inspiração. Mas, de coração, eu não imaginei que fosse virar essa cantora, que fosse ter ascensão musical no Brasil. Nunca imaginei que fosse fazer turnês fora do país, que fosse gravar como cantora solo, ter um dos DVDs mais vendidos... Mas tudo isso é merecimento.
Nesse DVD, você faz um mix com vários ritmos, mas sempre foi mais conhecida por ser romântica. Você queria mostrar uma versatilidade?
Eu quis realmente mostrar isso. A minha intenção foi demonstrar para as pessoas a minha diversidade. Tenho tentando fazer isso também em meu shows. O DVD foi uma surpresa para todo mundo. Aquele foi o meu primeiro show sozinha numa casa de shows grande como o Citybank Hall, em São Paulo. Eu quis mostrar também essa diversidade da nossa música com encontros inusitados, como unir uma forrozeira, como eu, com o Padre Fábio de Melo mostrando que o amor é universal. Também chamei Anitta; Ivete Sangalo; Claudia Leitte, com quem cantei um reggae, tem Joelma comigo na sofrência; o maestro Eduardo Lages com quem toquei Roberto Carlos; Xand; Gusttavo Lima, que é do sertanejo; Tiago Iorc... Fiz um DVD para agradar ;gregos e troianos;. (Risos). Eu gosto de abordar o amor, mas acho que temos que cantar o que o povo quer ouvir. Eu, no início, tinha muito essa coisa de ser restrita, de não querer cantar as músicas mais ousadas. Hoje, estou me permitindo e faço tudo isso no show. Eu canto música para a galera tomar uma, ir até o chão, dançar agarrado... Então, eu me permito, mas eu gosto mesmo é do romantismo.
Como foi essa sensação de cantar sozinha pela primeira vez?
Foi uma responsabilidade enorme. Se para uma cantora que já vive isso diariamente já é difícil, imagina para mim... Eu cantei a minha vida inteira com alguém do lado. O dia da gravação foi a primeira vez que eu me vi sozinha no palco. Foi um desafio e uma grande batalha que consegui vencer. Eu não conseguia olhar para o lado e não ver o Xand. Mas acho que desempenhei uma coisa bacana e espero que o próximo seja ainda mais massa. Eu estarei mais solta.
No DVD, há algumas canções de composição sozinha, com outros parceiros e com nomes do sertanejo, como Marília Mendonça e Lauana Prado. Como foi o processo de composição e escolha do repertório?
Essa foi a parte mais difícil. Eu gravei mais de 70 canções sabendo que no DVD só teriam 17 faixas, mas acabou que gravei 25. Todas eram músicas muito boas. Eu tenho uma relação ótima com Marília Mendonça, que é hoje uma das maiores compositoras do Brasil. Ela tem letras muito bacanas. Ela fez a música que eu canto com Claudia Leitte (Dê 3 passos pra trás), que é uma canção linda e fizemos com uma batida de reggae. Quando as pessoas pensam na Marília Mendonça, já imaginam uma sofrência e nós fizemos um reggae. Eu quis mostrar o inusitado. Também tem canções minhas com Paula Mattos e Lauana Prado. Inclusive, a música Duas e vinte três foi feita na casa de Roberta Miranda. Graças a Deus, tenho essa ótima relação com o sertanejo. Temos uma relação de reciprocidade que é muito massa.
Falando em sertanejo e forró, tem surgido muitas polêmicas em torno dos ritmos dentro do são-joão. O que você pensa sobre o assunto?
A música é muito universal. Acho que cabe todo mundo e acho que Elba Ramalho () talvez tenha sido mal interpretada no contexto do que ela quis falar. Ela é minha amiga e sei que não quer em hora ou momento algum que artista A ou B deixe de se apresentar. O que ela quer é que o forró mais tradicional não seja extinto, que não esqueçam as raízes. Ela é uma pessoa que tenho respeito como mulher, mãe e cantora. Houve uma interpretação ruim do que ela disse e acho que não cabe ter essa divisão. Acho que isso também não é culpa das pessoas, mas de quem contrata. É preciso encaixar todo mundo. As pessoas querem ouvir o sertanejo e o forró também. Tudo tem que ser dosado.
Recentemente, você esteve em Brasília para participar de uma festa junina e o público dá cidade sempre foi muito fiel à sua carreira no Aviões do Forró. Como foi a sua recepção na cidade como artista solo?
O que me impressionou quando estive em Brasília é que eu fui numa festa tradicional, mas que o público nos dias anteriores não foi o esperado. E no meu dia tinham muitas pessoas. Eu fiquei encantada pela forma como fui recebida. O tempo inteiro o pessoal ficou me elogiando, me passando tanto carinho. Eu amo Brasília, amo as pessoas e amo fazer show na cidade. É um povo caloroso e há muitos nordestinos. Quero voltar logo.
Sentimento de mulher
De Solange Almeida. Sony Music, 25 faixas (DVD) e 14 (CD). Preço médio: R$ 34,90.