A infância e a juventude do Rei do Baião se transformaram em HQ. Disponível gratuitamente on-line, Luiz Gonzaga do Nascimento apresenta a trajetória do artista desde os tempos de criança em Araripe (CE) até a partida para a capital cearense, Fortaleza.
O quadrinho foi uma produção do ilustrador Celso Hartkopf com a jornalista Débora Nascimento. ;Discutimos as ideias em reunião e Débora elaborou o roteiro baseado em uma biografia de Gonzaga. Daí ela me passou o texto corrido e eu transformei em HQ. A produção durou cerca de 2 meses;, conta Celso.
A biografia utilizada para embasar a HQ foi Vida do viajante ; A saga de Luiz Gonzaga. O livro foi escrito por Dominique Dreyfus, uma jornalista e pesquisadora francesa que se especializou na cultura nordestina e brasileira. A obra traça toda a trajetória de Gonzagão.
Na HQ, várias curiosidades da infância e da juventude do Rei do Baião são retratadas. Celso e Débora mostram, por exemplo, como surgiu o interesse de Gonzagão pela sanfona. O pai, Januário, consertava acordeons e isso provocava um grande fascínio no garoto Luiz, que entrava escondido na sala onde o pai guardava os instrumentos.
Outra curiosidade é que Luiz Gonzaga inicialmente se chamaria também Januário. O nascimento em 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, fez com que a ideia fosse descartada. A sugestão do novo nome foi de um padre, que propôs chamar o bebê de Luiz Gonzaga (nome de São Luís).
Ainda pequeno, Gonzaga começou a tocar a sanfona do pai. Com 5 anos, sem nem usar roupas direito ainda, ele já dava os primeiros passos no instrumento, brincando de tocar, inventar festas e dançar.
Aos 7 anos, Luiz foi colocado para acompanhar a mãe, Santana, no trabalho de roçado. Com o irmão Joca, de 9 anos, ele ia para a lavoura, mas mostrou logo que não tinha muita vocação para o serviço. O garoto só queria saber de tocar, o que irritava profundamente a mãe. ;Profissão de sanfoneiro não tinha futuro;, dizia.
A HQ mostra também como Gonzaga conseguiu comprar a primeira sanfona. Já adolescente, ele trabalhava acompanhando o coronel Manuel Aires de Alencar, prefeito da cidade de Exu. Gonzaga pediu ao patrão que lhe comprasse uma sanfona, que seria descontada, em parcelas, do salário. Assim que terminou de pagar, Gonzaga deixou o trabalho, para descontentamento do chefe.
Celso Hartkopf conta por que o recorte da infância e juventude de Gonzaga foi escolhido. ;O tom da história mescla as durezas da vida no sertão nordestino com a descontração e até, de certa forma, a pegada épica que a história de Gonzaga traz. De um menino que fugiu de casa e voltou como o Rei do Baião. Decidimos que seria interessante focar a história no início de sua vida, até a fuga de casa;, explica.
O quadrinho se encerra exatamente quando Gonzaga deixa a família para tentar a vida em Fortaleza. Hartkopf acredita que a maneira como o próprio artista contava suas histórias facilitou a produção do quadrinho. ;Gonzaga era um ótimo narrador de suas histórias, coisas que podemos ouvir em entrevistas, discos e shows. Ele contava muito bem seus causos;, ressalta.
O traço
Para encontrar o estilo das ilustrações da HQ, Hartkopf se inspirou na obra do italiano Sérgio Toppi. Um dos mestres do quadrinho europeu, Toppi tinha um traço muito peculiar. A influência ajudou a dar um tom épico e fantástico à biografia de Luiz Gonzaga.
;Eu sempre fui fã de Toppi, e a HQ dele sobre as mil e uma noites, Sharaz-de, me pareceu muito interessante por adaptar uma narrativa clássica a uma HQ de primor visual impecável. Eu me arrisquei a beber nessa fonte e ;sentar a mão na prancheta;, procurando trazer essa pegada épica e mística para o universo do sertão nordestino;, conta.
Luiz Gonzaga do Nascimento
Débora Nascimento e Celso Hartkopk. Revista Continental. 14 páginas. Disponível gratuitamente em https://goo.gl/pwD5hf