Diversão e Arte

Poeta paraibano Zé da Luz ganha biografia em quadrinhos

A obra faz parte de coleção dedicada a biografias de grandes nomes da cultura brasileira

Alexandre de Paula
postado em 05/07/2017 07:30

A infância do poeta é ponto de partida para o livro

Um dos grandes nomes da poesia nordestina, o paraibano Zé da Luz virou personagem de HQ. Autor de poemas populares como Ai se sesse, o poeta é tema de biografia lançada pela editora Patmos, também da Paraíba. Zé da Luz em quadrinhos apresenta, com a linguagem convidativa da HQ, a trajetória do escritor.

A obra é o 16; volume da coleção Primeira Leitura. A ideia da série é preservar, por meio de quadrinhos, a história de personalidades importantes para o país. Jackson do Pandeiro, Ariano Suassuna e Pedro Américo são alguns dos outros nomes da coleção. Segundo a editora, a linguagem acessível do formato ajuda a dar valor mais pedagógico para o projeto.

Autor do roteiro da HQ, Jairo César ressalta as dificuldades de apresentar e pesquisar uma figura, nem tão conhecida, como Zé da Luz. ;Escrever a biografia em quadrinhos de um homem tão único não foi tarefa fácil;, escreveu na apresentação da obra. Ele acredita, no entanto, que a leitura tem muito a oferecer ao público. ;Os leitores serão iluminados com a luz dos versos deste genuíno poeta popular paraibano.;

O poeta nasceu em Itabaiana, na Paraíba, e se chamava Severino de Andrade Silva. A infância e as lembranças da pequena cidade paraibana nunca deixaram a memória do escritor, que fez delas mote de vários de seus poemas. A saudade que sentia da terra natal tem destaque na HQ publicada agora.

O autor ganhava a vida como alfaiate e se mudou para o Rio de Janeiro. Lá, trabalhou em uma casa vizinha da Livraria José Olympio, ponto de encontro de nomes ilustres da literatura brasileira no período. Assim, Zé da Luz se aproximou de outros escritores.

A saudade da terra natal é um dos temas da HQ

O pseudônimo Zé da Luz surgiu em 1936. Naquele ano, o poeta lançou o livro Brasil caboclo. A obra foi um sucesso editorial para os padrões do gênero e rendeu mais de dez reedições. O livro recebeu elogios da crítica. O jornalista Eudes de Barros escreveu, à época: ;Não há nada de falso, de artificial, de literário nos versos de Zé da Luz. Brasil caboclo é um livro de carne e osso. Um livro que vive. Um livro humano. No ano da graça de 1936, Zé da Luz revelou ao Brasil toda a alma do Sertão;.

O caminho percorrido, desde a infância até os anos de alfaiataria no Rio de Janeiro, é apresentado no quadrinho. Até mesmo uma homenagem póstuma (um busto de Zé da Luz na cidade natal) ganha espaço na HQ, que teve ilustrações assinadas por Américo Filho.

Reconhecimento

Zé da Luz foi reconhecido e louvado por nomes importantes da literatura brasileira. Quando lançou Brasil caboclo, o poeta pediu ao escritor José Lins do Rego que escrevesse o prefácio do livro. Rego aceitou, mas acabou escrevendo um texto que, no lugar de apresentar o livro, discorria sobre a desimportância de um prefácio diante da grandeza da poesia do paraibano. A situação é uma das retratadas na HQ.

;Pediu-me Zé da Luz um prefácio para o seu livro de versos. E eu lhe disse: Meu caro poeta, você não precisa de prefácios, porque a sua poesia fala com mais autoridade que qualquer palavra de apresentação;, escreveu o escritor. ;Que autoridade terei para dar carta de fiança a quem possui os melhores tesouros deste mundo? Ora, Zé da Luz, você vale pelo que é, e não pelo que se possa dizer de você;, continuou.

Outro que não poupou elogios a Zé da Luz foi o poeta pernambucano Manuel Bandeira. Citando inclusive José Lins do Rego, Bandeira lembrava a mudança do poeta para o Rio de Janeiro e de como exerceu o ofício de alfaiate na cidade e de como, mesmo assim, Zé da Luz não abandonou a poesia.

;O alfaiate-cortador continuou poeta, e a saudade da sua Paraíba, ainda mais da sua Itabaiana, veio desovando Versos que confirmam o juízo de José Lins do Rego, para quem Zé da Luz é cantador tão autêntico como as patativas de Mamanguape, os curiós de Gramame, as cigarras de Areia;, escreveu Bandeira.

Poema


Ai se sêsse

Se um dia nós se gostasse;

Se um dia nós se queresse;

Se nós dois se impariásse,

Se juntim nós dois vivesse!

Se juntim nós dois morasse

Se juntim nós dois drumisse;

Se juntim nós dois morresse!

Se pro céu nós assubisse?

Mas porém, se acontecesse

qui São Pêdo não abrisse

as portas do céu e fosse,

te dizê quarqué toulíce?

E se eu me arriminasse

e tu cumigo insistisse,

prá qui eu me arrezorvesse

e a minha faca puxasse,

e o buxo do céu furasse...?

Tarvez qui nós dois ficasse

tarvez qui nós dois caísse

e o céu furado arriasse

e as virge tôdas fugisse!

(Zé da Luz)


Zé da Luz em quadrinhos

Jairo César e Américo Filho. Patmos editora.

24 páginas. R$ 34,90.

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