;Tachar os 2000 filmes feitos, anualmente, na Índia, disso ou daquilo seria um reducionismo displicente incrível;, afirma a curadora da mostra Novo Cinema Indiano (em cartaz no CCBB) Carina Bini que, ao lado do colega Shankar Mohan, se esforça na desconstrução da eterna associação entre a cultura indiana e o filão da chamada Bollywood (representativa de 40% da produção daquele país). À mostra, somam-se outras iniciativas sediadas na Embaixada da Índia (SES 805, Lt. 24), ambas detidas na difusão da cultura estrangeira: uma delas batizada Velha Goa, resultado da investida, por 35 anos, do fotógrafo e historiador Benoy K Behl na criação de mais de 80 imagens (em mostra que pode ser vista, diariamente, das 9h às 17h) e a outra é a 17; edição do Chá com Letras (evento, com entrada franca, amanhã, às 18h), que contará com a presença do escritor Chandrahas Chondhury.
Um apelo universal cerca a cinematografia da Índia, em mostra que prossegue até 9 de julho, no CCBB. Levantar questionamentos sociais é função dos filmes, como observa Carina Bini, participante de debate, hoje, às 19h30. ;A cultura indiana é incrivelmente complexa e autêntica. A maneira de olharem para as questões da vida remete a um corpo de conhecimento de mais de 5 mil anos;, pontua. A curadora destaca que não há baixa qualidade, como muitos consideram, equivocadamente. ;O filme indiano é muito rico, e encontramos de tudo. Ressaltamos títulos autorais, detidos nas influências dos renomados Satyajit Ray, Ritwik Gathak, Mani Kal e Adoor Gopalakrishnan;, observa Bini.
A renovação de linguagem, num país que se afirma nas telas com, ao menos, uma dezena de línguas diferentes se projeta em fitas como Ovo do corvo (a ser mostrado hoje) e ;Armadilha (destaque na programação de sábado). Além do dado da transformação, há de ser levada em conta a tradição, sendo a Índia formada por 28 estados, com 18 línguas oficiais, e mais de 1.200 dialetos. Paira o peso de reinados, com diversas comidas, vestimentas e costumes. Enquanto o cinema comercial indiano domina o sul da Ásia, ainda encontra bela aceitação em países como o Japão e Emirados Árabes.
Inovações
;Os indianos têm uma visão mais inclusiva, pois lá existe de tudo o que se pode imaginar. Temos, na mostra, até um Bollywood chamdo Pink, inovador em termos de mercado. Não tem dança, e levanta o debate para a condição da mulher na sociedade indiana, o que é uma quebra de tabu para o cinema comercial. Assim, também é o cinema da indústria Tamil, a segunda maior da Índia. Na fórmula, há inclusão de roteiro melodramático, em filmes de longa duração, permeadas por performances de dança, perto do que seja um videoclipe;, comenta a curadora.
Em ocasião de debate marcado para o dia 6 de julho, Carina Bini trará questionamentos no ramo da condição feminina. Haverá exibição do curta India, my love story, resultante da incursão dela nos bastidores da filmagem do longa Ilha de Munroe (com exibição amanhã). Por três semanas, Bini foi a única mulher a trabalhar em set dominado por 70 trabalhadores indianos.
Apresentar um país de alta tecnologia, com uma indústria de ponta crescente, está nos objetivos da mostra Novo Cinema Indiano. A indústria cinematográfica saltou de qualidade, a ponto de Hollywood valer-se de animações locadas na região e render-se a efeitos especiais de pós-produção indianos, dada a mão de obra enorme e de mais baixo custo. ;Outro ponto a ser considerado é a diáspora, pois os indianos estão espalhados pelo mundo todo e isso cria uma demanda muito grande de filmes ; inclusive em termos de financiamento;, conclui Carina Bini.