Apesar do amplo mercado literário e das novas possibilidades de circulação e acesso à literatura na sociedade contemporânea, a diferença de acesso à leitura ainda é grande no país. É possível perceber ; com base nas pesquisas Retratos da Leitura, do Instituto Pró-livro ; que o número de leitores varia consideravelmente de acordo com a raça e a classe social. Para equilibrar as estatísticas e tornar o acesso mais igualitário, profissionais da área afirmam que é necessário investir, principalmente, em bibliotecas públicas e comunitárias, e em edições populares de baixo custo.
Cleide Soares é coordenadora geral da Feira do Livro, que segue até amanhã no Pátio Brasil. Ela foi coordenadora de políticas de leitura no Ministério da Cultura e implantou o programa nacional de bibliotecas rurais Arca das Letras, com 10.142 bibliotecas no meio rural. Para Cleide, quando a comunidade participa das organizações dos espaços, as iniciativas sempre dão certo. A democratização do acesso literário poderia ser feita com pequenos investimentos, como acervo formado nas necessidades e interesses dos moradores de cada localidade.
Cleide lembra que na década de 1990, o programa Uma biblioteca em cada município investiu em bibliotecas com acervo básico, mobiliário, computador e treinamento. A contrapartida dos municípios era com espaço e pessoal. ;Foi a única iniciativa efetiva de apoio à universalização de bibliotecas no Brasil;, destaca.
Projetos populares como os pontos de leitura também seriam iniciativas eficazes para a população. ;As pessoas amam ler, mas precisam ter facilidade de acesso e isso é papel do governo, que deve criar políticas e programas de promoção de leitura e de popularização do livro;, destaca. Com a facilidade no acesso, mais leitores passariam a comprar livros, beneficiando também o mercado.
Inclusão
Na Feira do Livro, a coordenadora participou de um debate para refletir sobre a necessidade de que bibliotecas e publicações possam promover a inclusão de todos os tipos de público no mundo da leitura. As bibliotecas precisam criar condições para atender pessoas com mobilidade reduzida, deficientes, idosos, população de rua, entre outros públicos que estão fora dessa área. Cleide ressalta a importância do investimento nas bibliotecas escolares e na distribuição de vale-livros para que cada instituição escolha livremente as obras que vão compor o seu acervo literário.
Enquanto isso, o subsecretário de educação, Daniel Crepaldi, destaca que, no Brasil, a questão racial e de classes não é explícita apenas na literatura. O acesso cultural em diferentes segmentos costuma ser maior entre a população branca e de alta renda. ;Atualmente, há um fenômeno social de baixa na leitura, a população busca leituras mais fáceis, rápidas e menores na internet. Acredito que a renovação nas escolas e projetos de reabastecimento de livros sejam pontos de grande importância, destacando os interesses dos próprios estudantes na hora de adquirir as obras;, afirma.
33; Feira do Livro de Brasília
Pátio Brasil Shopping. Confira a programação de hoje: Café Tropicália: 14h ; Ficção e realidade, com Max Telesca; 16h ; Conversa literária com Cristovão Tezza, Anna Cristina Rodrigues. Papo Cabeça (3; piso): 18h ; O dinheiro e você, seus investimentos, suas dívidas, talk show com Rogério Olegário e Angélica Rodrigues Santos. Palco Sebrae: Contação de histórias das 10h às 19h. Arena Jovem: 11h ; oficina com Kássia Monteiro; 14h ; Conversa literária com Thalita Rebouças e Iris Figueiredo; 16h ; Bate-papo com Iris Figueiredo, Dayse Dantas, Marina Oliveira e Bárbara Morais; Mangá, com Valéria Fernandes.
Duas Perguntas / Cleide Soares
Espaços como a Feira do Livro são democráticos em questão de acesso e acessibilidade?
A Feira do Livro proporciona o contato dos leitores com vários autores, faz promoções, lançamentos e vários encontros que facilitam o diálogo entre a cadeia criativa, mediadora e produtiva. Escritores, editores, livreiros e leitores se encontram durante 10 dias num lugar próprio e específico. Durante a Feira, promovemos visitas de escolas distantes de bibliotecas para que se estabeleça o contato necessário entre leitores, autores e livrarias. Sobre acessibilidade, disponibilizamos pessoal de apoio para conduzir pessoas com deficiência aos locais de programação e promovemos divulgação especial ao público que tem necessidades específicas de atendimento.
A representatividade nas histórias pode influenciar em como essa literatura chega aos diversos segmentos sociais?
A literatura inclusiva traz a ideia de amplitude, de abordagem de toda a cadeia social. Coleções com a Meu amigo down, da jornalista Claudia Weneck, que alcançou várias bibliotecas e escolas na década passada foram importantes para que campanhas de inclusão fossem criadas em vários espaços e ampliaram os debates sobre acessibilidade cultural. Muitas iniciativas surgiram após a coleção. A literatura indígena também está crescendo após a criação de feiras indígenas que acontecem no Mato Grosso todos os anos com programação de debates literários, exposição de livrarias e autores indígenas se revelando. A Feira do Livro de Brasília realizou debates sobre literatura de inclusão, como as expressões literárias de gênero, a poesia de autores negros, a literatura de jovens nerds, entre outros.