Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Memes estão falando cada vez mais sobre política

Postagens cômicas estão ganhando contornos de crítica político-social. Especialistas e produtores apontam a importância das imagens na comunicação virtual


Enquanto o Brasil se encontra em meio a uma grave crise política, uma "instituição" continua firme e forte: o meme. No momento em que o país tenta lidar com escândalos e abalos governamentais, o brasileiro opta por fazer do próprio sofrimento um motivo para rir, e as imagens de crítica e humor político-sociais tomam conta da internet.

Em formato de fotos, vídeos, montagens ou hashtags, os memes fazem parte da história da web e se caracterizam pela rápida propagação. O conteúdo provém do repertório cultural de quem o cria, sendo extraído das percepções históricas, culturais, econômicas e políticas. De modo geral, os temas costumam girar em torno da agenda pública do país.

Ninguém sabe ao certo de onde os memes surgem, mas é fato que há ambientes propícios para a criação deste conteúdo, como fóruns, chats e páginas no Facebook. ;Praticamente qualquer conteúdo que tenha pré-disposição ao humor pode se repetir e virar meme;, conta Sandro Sanfelice, que cria conteúdo humorístico diário por meio da página Capinaremos. Já para Maurício Cid, responsável pelo site Não Salvo, os brasileiros são destaque na produção. "É como se nós fôssemos os violinistas do Titanic: estamos vendo tudo afundar, mas continuamos empenhados em rir", brinca.



Na prática

O mememaker Sandro Sanfelice é criador da página Capinaremos, do Facebook. Com mais de 1 milhão de curtidas, Sandro acredita que não existe um público-alvo. ;Qualquer pessoa que utiliza a internet como fonte de interação será atingida pelo conteúdo, mas é natural que alguns memes nasçam e fiquem dentro de pequenos nichos, sejam eles de idade, classe social ou interesses em comum;, explica.

Isso pode ser demonstrado no recente meme do presidente dos EUA, Donald Trump, em que o nova-iorquino fala a grande líderes do mundo a expressão ;Covfefe;, que tem nenhum sentido, mas foi tuitada pelo chefe da Casa Branca.

A utilização do meme como forma irreverente de retratar acontecimentos não é novidade. Pelo contrário, outras modalidades de humor já são empregadas como arma de crítica política e luta social. É o caso das charges e das tirinhas, por exemplo. No entanto, o surgimento do ciberespaço elevou os memes a um novo patamar.

Para Daniela Garrossini, pesquisadora em tecnopolítica e professora do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), essa modalidade de humor se classifica, portanto, como uma nova forma de comunicação que sai do tradicional. ;As pessoas que produzem memes são muito inteligentes, porque eles dão uma volta no status quo. É uma forma de transmitir informação, com humor e inteligência;, afirma. ;Os memes fazem parte da política nacional e internacional. Podem ser usados como participação do cidadão ; e são bastante efetivos;, completa.

Memes acadêmicos

Viktor Chagas, coordenador do projeto #MuseuDeMemes, explica que as imagens bem-humoradas já alcançaram um panorama de estudo, se apresentando, inclusive, como base acadêmica. O projeto de pesquisa e divulgação científica é uma nova forma de museu. Chagas defende que o trabalho, lançado em 2015, funciona como um banco de dados para futuras pesquisas, além de questionar a posição de conhecimento dos museus e a distância em relação às pessoas.;No fundo, ele é uma provocação sobre o lugar do museu e também uma brincadeira sobre o papel da cultura popular de internet na sociedade;, sustenta.

[SAIBAMAIS]Além dos museus, o caráter social das imagens tem invadido também as salas de aula. Weslley Alves, professor de física da Escola Dom Miguel de Lima Valverde, em Caruaru, Pernambuco, disse recentemente em entrevista que começou a usar memes em suas aulas para tornar o aprendizado mais divertido. Miguel coloca nas provas, por exemplo, imagens que refletem as notas dos alunos. Para o professor, a identificação é o segredo. ;Gosto da aproximação com os alunos por falar a língua deles. Tento entender o que cada um gosta e levar isso para a sala de aula;, contou ao portal.

*Estagiários sob a supervisão de Igor Silveira