Diversão e Arte

Lançamentos em HQs retratam acontecimentos históricos

Obras como Holandeses e A noive são uma oportunidade de conhecer melhor o país

Alexandre de Paula
postado em 10/06/2017 07:00
Página da HQ Holandeses, de André Toral

HQs podem ser uma maneira de conhecer melhor a história. Narrativas que unem quadrinhos a acontecimentos do passado são uma forma interessante de, com cuidado, estudar melhor o país, por exemplo. Mesmo com tintas de ficção, em alguns casos, as características das HQs permitem descobrir detalhes de certos períodos.

O professor Vinicius Rodrigues, mestre em literatura com um estudo sobre quadrinhos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, explica que as HQs históricas podem ter valor didático. ;Em alguns casos, nota-se que o detalhismo acerca dos fatos pode se sobrepor à ficção, criando narrativas gráficas que passam a ter um interesse mais didático do que artístico. O mais interessante é conseguir juntar os dois aspectos;, comenta.

Para o professor, no entanto, é preciso sempre que a utilização didática de uma HQ seja mediada, uma vez que nem tudo nas obras representam fielmente a realidade. ;O mais interessante é pensar nas possibilidades que se abrem para que se entenda de que forma os fatos históricos são representados nas narrativas gráficas e, juntamente com os quadrinhos, ir aos textos científicos, às fontes e à historiografia propriamente dita;, comenta.

A HQ Holandeses, de André Toral, é um dos exemplos em que o universo dos quadrinhos se encontra com a história. A obra retrata o período em que os holandeses dominaram Pernambuco. Os fatos históricos, no entanto, são amarrados por uma narrativa ficcional.

No enredo, um casal de portugueses e judeus desembarca em Recife no ano de 1635. Antes empregados do pintor barroco Rembrandt, eles chegam ao estado em busca de dinheiro. A chegada deles ocorre justamente no período em que Recife era dominado por holandeses.

A partir desse ponto, o livro aproveita a narrativa do casal para retratar como era o período. A mistura de ficção, quadrinhos e história é uma constante na obra de Toral, que, desde os anos 1980, mistura as áreas. O autor é doutor em História pela Universidade de São Paulo.

Outra obra que apresenta fatos ligados à história brasileira é A noiva. Desenhista que já trabalhou para Marvel e para a DC Comis, Thony Silas optou por adaptar aos quadrinhos o romance histórico A noiva da revolução, de Paulo Santos de Oliveira. O livro retrata o período da revolução pernambucana, de 1817.

A HQ é a primeira de uma série que contará com oito títulos para apresentar a história da revolução. A obra narra um caso de amor verdadeiro, ocorrida entre uma brasileira e um português durante o período e, a partir disso, apresenta o pano de fundo para os acontecimentos históricos da época.

A intenção da série é dar visibilidade a elementos pouco conhecidos da história do Brasil. Um dos fatos apresentados na HQ é que Pernambuco, há 200 anos, declarou-se independente do Brasil por mais de 70 dias.

Silas aliou a narrativa do romance a uma pegada mais popular. ;Como ilustrador mais situado no mercado internacional, o desejo imediato foi de adaptar o romance com visão pop. Então, é uma versão com olhar mais poético, romântico, com poesias e poemas;, disse em entrevista ao Diário de Pernambuco.

Duas perguntas // Vinicius Oliveira

Didaticamente, esse tipo de quadrinhos pode ser utilizado?
Didaticamente, sim, mas sempre de forma mediada, afinal, estamos falando de representação. Parece-me que o mais interessante é pensar nas possibilidades que se abrem para que se entenda de que forma os fatos históricos são representados nas narrativas gráficas e, juntamente com os quadrinhos, ir aos textos científicos, às fontes e à historiografia propriamente dita.

Nesse tipo de uso, então, é preciso tomar algum cuidado, fazer alguma ressalva?
Manifestações artísticas não constituem formalmente o que chamaríamos de fontes históricas, mas são sempre um dado importantíssimo acerca do imaginário. A arte é um mecanismo de representação, não de reprodução da realidade, logo, conta com uma certa subjetividade que passa a filtrar o olhar sobre a realidade. Sendo assim, a linguagem dos quadrinhos é mais uma dessas possibilidades, onde fatos históricos podem ser resgatados, entretanto, sempre a serviço de uma boa narrativa que precisa ter personagens interessantes.

A noiva
Thony Silas e Eron Villar. Ueon production. 28 páginas. Preço médio: R$ 15,90

Holandeses
André Toral. Editora Veneta. 96 páginas. R$ 59,90.



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