Diversão e Arte

Serviços de streaming estão cada vez mais perto do cinema

O crescimento dos vídeos On Demand pode alterar a dinâmica das telonas. A aposta é na aproximação com o streaming

Ronayre Nunes
postado em 06/06/2017 07:30

Frank Underwood e Claire Underwood em cena na série House of cards, sucesso da Netflix

Se o cinema fosse uma pessoa, com certeza estaria com a confiança abalada. Muitas ameaças já questionaram a existência das telonas ao longo dos anos. Com a ascensão da tevê, alguns apostaram que as salas de cinema não teriam mais espaço na vida das pessoas, porém, elas sobreviveram. Com a expansão da pirataria no final da década de 1990 e anos 2000, a previsão era de que os espectadores pagariam por um conteúdo consumido quase de graça, mas, mesmo assim, as exibições coletivas se mantiveram firmes.

Atualmente, o setor de entretenimento cinematográfico não só sobrevive, mas prospera. No entanto, uma nova ameaça dobra a esquina do caminho de Hollywood: os serviços de streaming e VOD (Video On Demand). Empresas que proporcionam uma gama de bons produtos audiovisuais a preço acessível no meio virtual estão borbulhando por todos os lados e, novamente, bagunçando o jogo do cinema.

O segredo da Netflix

O streaming de filmes em geral não é um serviço superinovador. De certa forma, é só uma grande locadora virtual. O que faz esse serviço ; especialmente, a Netflix ; ganhar mais espaço é o conteúdo original produzido, um conteúdo muito bem pensado para o público.

A Associação Brasileira de Produção de Obras Audiovisuais (Apro), representada pelo presidente Paulo Roberto Schmidt, lembra que a base de dados do streaming aponta exatamente para o que a população gosta de assistir, e o resto da equação é fácil adivinhar. ;A estrutura destes serviços conta com muita inteligência e se apoia nas informações fornecidas pelos seus usuários. O arsenal de dados armazenados lhes permite estabelecer estratégias, prioridades e direcionamento para novas produções e licenciamentos. Ou seja, a plataforma deve investir em produções que as pessoas queiram assistir;, aponta.

Compartilhamento

No começo de maio deste ano, a Netflix jogou as cartas na mesa para embaralhar ainda mais uma partida complicada. A empresa norte-americana divulgou em maio um passo ousado: pegou emprestado um investimento de U$ 1.4 bilhão para aplicar em suas produções. Os dados do portal Variety apontam que o canal de streaming está indo cada vez mais longe. O empréstimo soma-se ao débito de U$ 3.37 bilhões que a empresa tem.

Toda essa injeção financeira aponta que a expansão é um objetivo claro do canal. Segundo dados do portal Meio & Mensagem, o lucro bruto da Netflix foi de 8.3 bilhões no fim de 2016, com cerca de 93.8 milhões de telespectadores no mundo inteiro. Apostando alto, a empresa de streaming tem o objetivo de se tornar uma referência em criação.



Dilema da parceria

Paulo Schmidt, levanta um ponto importante: as grandes produtoras e os novos serviços de streaming não precisam necessariamente serem inimigos, mas sim produzir juntos. ;Para nós, produtores, estas plataformas abrem espaço ilimitado para o conteúdo nacional, ainda mais se levarmos em conta que o povo brasileiro gosta de consumir conteúdo nacional;, defende.

Tal situação também é atestada pela produtora O2 Filmes. A empresa tem uma vertente específica para serviços de Video On Demand, a O2 Play, e de acordo com o diretor Igor Kupstas, o plano não era entrar em rota de colisão com outros serviços de streaming. ;Desde o início, meu projeto trazia para a O2 o objetivo de termos contratos de distribuição e serviços de delivery para iTunes, Netflix, Google Play, Now, etc. Acreditávamos nesta tendência e entramos antes neste movimento, certos de que haveria este crescimento;, explica.

Para Dácia Ibiapina, as mudanças dos serviços de Video On Demand tiram parte da coletividade das salas de cinema, mas a associação entre as produtoras e as realizadoras de VOD são iminentes. ;É uma área que está sofrendo mudanças, passa por um dinamismo muito grande. O espectador está cada vez mais autônomo;, explica, e completa: ;A tendência é que esses conteúdos se integrem cada vez mais. Esse processo, de certa forma, já está acontecendo;.

[SAIBAMAIS]Gustavo Galvão, um dos sócios da produtora 400 Filmes, viveu uma experiência de produzir um conteúdo audiovisual independente que foi vendido à Netflix. O empresário e cineasta avalia aspectos positivos e negativos do processo. ;Eu já tive um filme adquirido pela Netflix, foi um bom resultado, mas ele é uma exceção, que inclusive foi retirado depois;, menciona. Sobre o futuro, Galvão aposta: ;De uma forma geral, a gente ainda precisa aprender a trabalhar e lidar com o VOD. Mas de outra forma, também a Netflix precisa aprender a lidar com a diversidade de conteúdo, especialmente na América Latina;, provoca.

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco

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