Meio século depois do lançamento de Terra em transe, o cenário político do Brasil ainda se enquadra nas cenas dirigidas por Glauber Rocha. ;Ele é sempre atual, porque certas figuras sempre existem e você consegue encaixar os políticos de hoje nos personagens;, ressalta o estudante de audiovisual Gustavo Menezes. Ele é um dos responsáveis pela exibição do filme Terra em transe, que ocorre hoje na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB) e comemora os 50 anos do longa.
A ideia surgiu de uma conversa entre Gustavo e o amigo Victor Cruzeiro, estudante de mestrado da FAC/UnB, após um evento com o mesmo propósito. ;Nós fomos a uma exibição no início do mês e depois teve um debate com a Paloma Rocha, filha do Glauber, e o Luiz Carlos Barreto. Daí pensamos que seria interessante fazer algo assim na FAC.;
O evento conta com a participação de Paloma, que também é cineasta e restaurou o longa em 2007. ;É muito bom poder devolvê-lo a sociedade. Exibir ele hoje tem um significado forte porque o filme condensa todos os atores que compõem nossa crise política atual de uma forma muito clara;, conta. Após a exibição, ela vai conduzir um debate a respeito da obra com base em trechos do documentário Depois do transe, produzido por ela e Joel Pizzini.
;Serão exibidos alguns blocos que considero mais relevantes para contextualizar o filme e ajudar as pessoas a compreenderem a produção. Mas o ponto principal é dar o lugar de fala para o Glauber, que explica no documentário como foi o processo de criação e produção, as peculiaridades, o método, tudo isso no contexto de ditadura da época.;
Levar o Terra em transe para dentro da universidade tem uma importância social e profissional, segundo Gustavo. O estudante explica que esse é dos longas mais importantes do Brasil ; considerado o 5; melhor filme brasileiro pela Abraccine e vencedor dos prêmios da crítica, o Fipresci, e Luis Buñuel no 20 Festival de Cannes. Ele enfatiza que a relevância se dá tanto pela discussão política sobre Brasil e América Latina, quanto como parâmetro para estudantes de cinema. ;As nossas referências mais fortes são norte-americanas e aqui os recursos são muito diferentes. É preciso entender a história do cinema brasileiro e é fundamental conhecer esse filme. Ele é um exemplo de que, mesmo com poucos recursos, é possível fazer um trabalho excelente, porque, muitas vezes, nós trabalhamos em condições precárias dentro da faculdade e também quando chegamos ao mercado;, acrescenta.
Terra em transe: exibição do filme e debate
Auditório Pompeu de Sousa (Campus Darcy Ribeiro, Asa Norte, ICC Norte, Subsolo da Faculdade de Comunicação). Hoje, às 18h. Exibição do filme Terra em transe, de Glauber Rocha, seguida de debate com Paloma Rocha, cineasta e filha do diretor.
*Estagiária sob supervisão de Severino Francisco