Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Fernanda Abreu chega a Brasília como atração da Noite Cultural T-Bone

Fernanda Abreu: "Fiquei emocionada, não só por ser Brasília que eu gosto, mas por reconhecer o valor dessa galera que está fazendo o projeto há anos"

A história da cantora Fernanda Abreu e do evento Noite Cultural T-Bone, que se cruzam na noite de hoje, tem alguns pontos em comum. A cantora carioca ficou 10 anos sem lançar um material de inéditas até divulgar o álbum Amor geral no ano passado. Já a Noite Cultural T-Bone ficou sem ser realizada por cerca de dois anos até que hoje retorna em sua 36; edição na comercial das quadras 312/313 Norte.

;Tem dois anos que a gente não faz o evento. Durante esse tempo, recebi muitos pedidos por e-mail, nas redes sociais e ao vivo. Vimos que realmente a Noite Cultural tem um peso bem legal na cidade e até por isso há uma expectativa do público;, explica Luiz Amorim, organizador do evento.

Essa será a primeira vez de Fernanda Abreu no evento. Ela não conhecia o projeto, mas diz que se encantou ao pesquisar sobre a Noite Cultural T-Bone. ;Vi que é um evento que existe há muitos anos e achei muito legal, porque qualquer coisa no Brasil que dura mais de 10 anos é espetacular. Ainda mais no momento em que estamos vivendo no país, é complicado você ter uma galera que acredite na cultura, invista e decida continuar fazendo todos os anos;, afirma a cantora. Fernanda ainda completa: ;Acho sensacional e fiquei emocionada, não só por ser Brasília, que eu gosto, mas por reconhecer o valor dessa galera que está fazendo o projeto há anos;.

Bastante animada com o show desta noite, Fernanda Abreu promete apresentar um repertório com seis músicas do disco Amor geral, além de sucessos da carreira ; alguns com arranjos clássicos e outros renovados ;, como Rio 40 graus, Kátia Flávia, a godiva do Irajá, Bidolibido e Baile da pesada. Além de adiantar detalhes da apresentação, a cantora contou ao Correio o processo até o lançamento de Amor geral, a dedicação do estudo do outro para as suas músicas e os projetos futuros.




36; Noite Cultural T-Bone
Comercial da 312/313 Norte. Hoje, das 13h às 19h, exposição e oficina de artes. Às 19h, programação com poetas da cidade (Menezes y Morais, André Giusti, Deliane Leite e Joãozinho da Vila). Às 20h, show com Fernanda Abreu e João Filho (Meia Boca Band). Entrada franca. Classificação indicativa livre.




Entrevista/Fernanda Abreu

Você ficou 10 anos sem lançar um álbum de inéditas até divulgar Amor geral. Por que demorou tanto tempo?

A minha vida foi me levando para essa situação. Eu saí de uma gravadora em 2003 e abri minha produtora, gravadora, editora e estúdio Garota Sangue Bom. Foi pancadão. Comecei a perceber que queria fazer projetos de forma independente. Em 2006 fiz o MTV ao vivo e em 2008 era natural fazer um novo, porque faço de dois em dois anos. Mais tinham muitas questões minhas e também da indústria. O mercado da música mudou, foi uma transformação profunda. Percebi que muitos artistas demoraram para fazer um disco de inéditas. É muito custoso e caro. É muita gente envolvida. Eu estava percebendo o movimento mais para o single. Ao mesmo tempo tive minhas questões pessoais, minha mãe ficou em coma, entrei em crise no meu casamento. Mas continuei trabalhando, fazendo show do MTV ao vivo e criei um outro show, o Eletroacústico, porque eu queria fazer um show em teatro. Mas fiz projetos paralelos, como o Samba Book do Zeca Pagodinho, Samba Social Clube, Elas cantam Roberto Carlos, Baile do Simonal... Eu pretendo lançar todos esses projetos em um CD digital em 2018.


Após esse hiato, o que você quis transmitir ao lançar Amor geral?
Esse disco talvez seja o mais autobiográfico da minha carreira. Gosto de escrever crônicas e observar a cidade, o Brasil, a sociedade. Nesse disco era quase meio impossível não falar um pouco da minha vida pessoal. Acho que é um disco que parte do sentimento autobiográfico e vai um pouco além. Quando se fala de amor se fala do outro, não dá para falar só de você mesmo. Então, chego na coletividade e na sociedade em termos de respeito. Especialmente porque acho que estamos precisando de respeito às escolhas individuais e de reflexão das ações da gente em relação ao outro.


Quais temas você trata em Amor geral, além do amor?
Temas como homofobia, racismo, violência contra a mulher, outros tipos de família, liberdade sexual, transexualidade. Temos uma agenda humana rica para refletir e ter um pouco mais de respeito, carinho, amor e generosidade. Abrir Amor geral com a faixa Outro sim resume isso. É uma música que fala sobre como é difícil aceitar alguém e ser aceito pelo outro também, o que é a base do amor e do respeito.


Você acha importante que o mundo da música retrate esses temas?
Acho fundamental, não é à toa que estudei sociologia. É uma coisa de que gosto muito: pensar e refletir a alma humana. Porque somos assim, como podemos tentar ser diferente. Não faço música panfletária, falo nas entrelinhas sobre a aceitação. Passo essa mensagem de compreensão e generosidade. Chegamos num limite do capitalismo e com tudo que estamos vendo no Brasil, vemos que o dinheiro e o poder subverteram os valores morais da ética. É o que estamos vivendo. Quando acordamos e lemos o jornal, a gente se depara exatamente com essa inversão de valores, inclusive algumas pessoas nem se dão conta disso. Precisamos de uma mudança estrutural. Você não é o que você tem no banco. Você não é os seus bens materiais. Temos que começar a pensar de uma maneira um pouco mais humana.


Além da turnê de Amor geral, quais são seus projetos?
Minha ideia é que em 2017 eu possa levar o Amor geral para o máximo de lugares que eu puder. Paralelamente estou trabalhando em três projetos. Esse disco digital para reunir o que fiz nesses anos. O outro é uma exposição que deve se chamar A imagem do som, pois tenho um material gráfico rico desses 35 anos de carreira. Estou buscando dinheiro para conseguir realizar esse projeto. Outro desejo é um programa de tevê em que quero relacionar a música e a dança. Minha ideia é viajar para alguns lugares para mostrar a força da relação entre a música e a dança. Temos músicas que inspiram danças, como samba, tango, rock, funk e ragga. Estou pesquisando tudo isso e querendo fazer esse projeto para a televisão.


Você sempre foi uma defensora dos ritmos brasileiros. Esse programa também tem essa intenção?
Eu quero ir a Belém, por exemplo, para ver como essas pessoas que dançavam os ritmos folclóricos transformaram isso na aparelhagem. Eu gosto da dança, eu sou da dança. Minhas paixões são a música e dança. Por isso me deu essa vontade de fazer esse projeto, buscando uma conexão de como a música te leva àdança e te leva a uma linguagem própria. Até por isso resolvi chamar o Dream Team do Passinho e a Companhia Focus para se apresentarem comigo no Rock in Rio no Palco Sunset. É uma novidade para o público.

Assista ao clipe de Amor geral, de Fernanda Abreu.

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