Marizilda Cruppe já havia trabalhado em muitas reportagens relacionadas a direitos humanos quando recebeu e aceitou o convite do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para realizar um ensaio fotográfico com familiares de desaparecidos. Em agosto de 2016, ela começou a viagem que a levou a Curitiba, Maceió, Rio de Janeiro e São Paulo e rendeu as 40 imagens da exposição A falta que você faz, em cartaz no anexo do Museu Nacional da República.
As imagens retratam dois grupos de familiares: um de desaparecidos durante o regime militar, o outro de pessoas que sumiram do convívio familiar nos últimos 20 anos. Antes de começar a fotografar, Marizilda já conhecia boa parte das histórias, mas sempre fez questão de ouvir das próprias famílias as narrativas sobre a dor de não saber o que houve com um ente querido.
A seleção foi feita pelo próprio CICV, o que ajudou a fotógrafa a encontrar um ambiente de confiança ao se aproximar dos fotografados. ;As famílias têm muita necessidade de falar, então, quando cheguei, eles foram falando, contando. Não era uma entrevista formal para contar o contexto do desaparecimento, e sim para falar sobre os sentimentos, a emoção, a ausência. Dessas conversas saíram vários elementos que a gente pôde usar nas fotos;, conta Marizilda.
Na exposição, há um total de 12 painéis com fotografias coloridas, uma para cada família. Dessas, sete são de desaparecidos do período do regime militar e o resto, pós-ditadura. Além disso, Marizilda também realizou retratos de 40 familiares. A fotógrafa conta que não era fácil levantar a câmera após as conversas. Ela procurava fazer um exercício de silêncio para absorver as histórias e se conectar com o que acabara de ouvir. ;Sempre se fala de desaparecido, mas nunca da ausência dele;, aponta a fotógrafa. ;Na expressão do rosto deles, tentei mostrar essa ausência, ela se reflete nos olhos, no corpo.;
O CICV começou a trabalhar com famílias de desaparecidos em 2013, depois de receber um pedido de ajuda das autoridades públicas para dar assistência na Vala de Perus. Aberta em 1990, a vala recebeu corpos de desaparecidos políticos, indigentes e vítimas de esquadrões da morte. Com a ideia de que não se pode tratar dos casos de desaparecimento de maneira isolada, o CICV também passou a auxiliar o grupo Mães da Sé, de São Paulo, que reúne familiares de desaparecidos nas mais diversas situações.
A falta que você faz
Exposição de fotos de Marizilda Cruppe. Visitação até 11 de junho, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Anexo do Museu Nacional da República.