Em novembro de 2016, a cantora Joelma deu o passo mais importante da carreira nos últimos anos. Foi quando gravou Avante, CD e DVD lançados no final de abril. Os ingressos se esgotaram dois meses antes do evento, em São Paulo. Pode parecer pouco. Mas o avanço foi significativo para a paraense. Um ano antes, ela havia se separado de Chimbinha, com quem foi casada por 18 anos, em meio a acusações de traições e troca de farpas públicas. Como agravante, mais que marido e mulher, eram também sócios nos negócios. Juntos, venderam mais de 20 milhões de discos com a banda Calypso.
[SAIBAMAIS]Na nova fase, Joelma parece querer se desvincular da imagem negativa do período, ou de quando se envolveu em polêmicas com o público LGBT. Não sem antes provocar quem acha que ela ainda pode ;estar na pior;. O DVD começa com a faixa Game over, em que diz: ;vê se me esquece / desencana / não te quero mais;. Uma indireta a Chimbinha? A nuance surge novamente em Não teve amor, escrita pela rainha da sofrência, Marília Mendonça, com versos como: ;tem coisas na vida que a gente não perde / a gente se livra;.
O lamento para aí. O resto do projeto é, em grande parte, uma celebração. Em #Partiu, a artista usa a linguagem da internet para se comunicar com o público. O figurino com inspiração futurista e o amplo uso de sintetizadores evidencia que a cantora fincou os pés no futuro. Já nas músicas Voando para o Pará e Menina do requebrado reverencia atrativos do estado de origem, que nunca esteve tão em alta. Com Ivete Sangalo, divide o palco em Amor novo. Também recebe Solange Almeida, que, assim como Joelma, é novata na carreira solo após saída do Aviões do Forró. Juntas, cantam Mulher não chora. Mensagem empoderada e que revela: Joelma flerta com o feminismo, está segura de si e acredita que para frente é que se anda. Avante!
[VIDEO1]
Entrevista / Joelma
Como definiria a nova Joelma?
Alguém mais feliz. Completamente liberta de mim mesma.
Em algumas músicas, percebe-se um tom que soa como indireta ao ex, Chimbinha. Como se quisesse passar uma mensagem...
Imagina! Se ouvirem algumas músicas do Calypso que gravei há bastante tempo, vão dizer que não é nem indireta, é direta mesmo. Foi uma coincidência. As nossas músicas falavam disso o tempo todo. Não tem nada a ver.
Avante representa sua melhor fase como artista?
Estou na melhor fase da minha vida e do meu trabalho. E do meu eu interno. Quando me examino em fotos antigas e fotos recentes, percebo que é notável a diferença, basta comparar o brilho dos meus olhos. Mudei de dentro para fora.
Credita esse bem-estar ao fim do casamento ou ao fim da banda?
A todas essas mudanças. Estava tudo muito entrelaçado em uma coisa só. Só Deus para dar um jeito. Agora estou mais leve, livre e solta. Quase conseguindo voar.
Este trabalho mostra a capacidade de brincar com outros gêneros sem deixar de ser fiel à sonoridade pela qual ficou consagrada. Nessa nova fase, quer se desprender do que fazia na Calypso, seguir por outra linha?
Pretendo continuar. É uma paixão. Vou misturar, ir de um canto musical a outro. Mas não pretendo seguir completamente outro ritmo. Fugiria da minha identidade.
No palco, nota-se uma postura empoderada e com mensagens de autoestima, de amor-próprio. Você se considera feminista?
Desde criança sou assim, independente, acredito muito na igualdade entre as pessoas. Defendo que somos iguais, semelhantes, que não sou melhor nem pior do que ninguém. É preciso respeitar para ser respeitada. Quando se age diferente, podemos nos machucar, meter ;a cara no chão;. Acredito no respeito, para estar tudo bem para os dois lados. É por isso que muitas coisas não dão certo, de negócios a casamento...
Foi o que aconteceu com o Chimbinha?
Perdeu o respeito, e não existiu mais nada. Sem respeito e confiança, acabou.
Você tinha nele um grande companheiro na carreira. Quem é seu companheiro, hoje?
Existe uma multidão, e que se chama fã-clube. Eles são meus companheiros de luta.
Eles te ajudaram quando aconteceu a polêmica com o público LGBT? Como está essa relação?
Está maravilhosamente bem, como sempre esteve. Eu tenho respeito, os amo. Mas a minha vida é a minha vida, e a deles, é a deles. Eles fazem o que querem, e vice-versa. Se todo mundo agisse dessa maneira, o mundo seria perfeito. Depois desse episódio continuei me posicionando do mesmo jeito. Tanto é que, quando aconteceu aquilo, eles foram os que mais me defenderam, porque me conhecem.
No início da carreira, a música nortista não tinha a visibilidade de hoje. Mudou muito a cena dos anos 1990 até aqui?
Em alguns lugares, sim. Hoje, a música paraense é muito conhecida, e valorizam mais o nosso trabalho do que há tempos atrás. Cresceu tanto para mim quanto para o Estado. E que bom! O Brasil é tão rico e grandioso, deveríamos conhecer melhor o país. Não falo só de música, mas de cultura, de turismo. Esses dias estava pesquisando lugares que quero conhecer. Quanto mais viajo para fora do país, mais amo o Brasil. Sou meio bairrista. A gastronomia paraense, por exemplo, é boa demais. Sou apaixonada pela nossa culinária. Quando vou a Belém visito lugares como o Point do Açaí. É uma briga para entrar, muito bom.
Vender 20 milhões de discos em uma época em que a música digital cresce em detrimento do álbum físico é algo histórico. Como manter esse sucesso comercial?
Não consigo dizer. O que não sei explicar eu atribuo a Deus. E essa é uma das coisas que defendo serem espirituais, presentes d;Ele. Aliás, religião é o amor. Temos que viver em harmonia. Não interessa quem faz o quê, quem é o quê. Precisamos amar.
Da cantora Joelma. Universal, 14 faixas. R$ 21,90 (CD) e R$ 29,90 (DVD).