A injeção de mais de US$ 110 milhões na produção de Alien: Covenant celebra o significado de acordo ou, melhor, de pacto embutido na tradução do nome da aeronave (Covenant) acoplada ao título. Da habitual faixa de bilheteria mundial na casa dos US$ 120 milhões (para quatro dos longas da franquia Alien), o acordo pressentido com Alien: Covenant é o de inflar números, já que, cronologicamente mais próximo de Prometheus (2012), o mais novo filme do cineasta Ridley Scott pretende estender o estratosférico lucro da ordem de US$ 400 milhões alcançados, há cinco anos, pelo quase octogenário diretor inglês. Criador de todo um universo futurista, implantado no inconsciente mundial desde 1979, Ridley Scott, além de, abertamente, calcular o ;desconforto; a ser sentido pelos espectadores, com o novo Alien; não escondeu do produtor Mark Huffam (Guerra mundial Z) o desejo de ver ;sangue; invadindo a telona.
Grosso modo, Alien: Covenant tem uma aritmética clara: entra o climão soturno de Alien: o 8; passageiro, mas o longa é infectado pela ação vista, em 1986, com Aliens, o resgate. Denominador comum está na dose de terror do longa que estabelece ponte entre Prometheus e o clássico de 1979. Descortinando um universo desconhecido, os 15 tripulantes da espaçonave comprovam, pouco a pouco, a observação do colega Tennessee (Danny McBride, ator de Segurando as pontas): ;Nós não deixamos a Terra para estarmos seguros;.
Manipulação genética, limitação na energia de artefatos e o desvio do destino final da expedição calculada para alcançar o planeta Origae-6 estão em curso na trama de Alien: Covenant.
Ator sempre valorizado na filmografia de Ridley Scott, o alemão Michael Fassbender não escondeu da imprensa internacional de ver a fita como ;a mais assustadora; da saga. Sem se descolar do personagem David (o androide vivido em Prometheus), o astro agrega mais um tipo irremediavelmente lógico, ao interpretar Walter, uma espécie de mordomo de luxo que circula na Covenant. Programado de modo meticuloso, Walter é quem tem a tarefa de despertar abruptamente os treinados tipos adormecidos em câmaras criogênicas, entre os quais o sargento Lope (Demián Bichir), Faris (Amy Seimetz), Ledward (Benjamin Rigby) e Oram (Billy Crudup).
Muito da ação de Alien: Covenant se passa à sombra de Prometheus. Com uma década de distanciamento cronológico, os atos da missão da Doutora Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e de Peter Weyland (Guy Pearce) refletem na atual tripulação, que, de cara, perde a bússola, representada pelo capitão Jacob Branson (James Franco). Em meio às sequelas criadas pela explosão de uma estrela, os ocupantes da Covenant podem optar pelo encurtamento da missão original, com a descoberta de um planeta virtualmente equivalente ao inicialmente previsto. É a deixa para o despontar das paisagens da Nova Zelândia, que abrigaram parte das filmagens.
Quebra de estereótipos
Em 74 dias, com câmeras rodando ainda na Austrália, Ridley Scott deu vazão à história motivada também pela confecção de storyboards, feitos por ele mesmo. Dois módulos que fizeram as vezes do interior da nave, com peso próximo a 50 toneladas, abrigaram toda a tecnologia imaginária, sob a ótica do designer de produção Chris Seagers (de X-Men: primeira classe).
Numa das cenas mais fortes, há a terrível passagem do paciente Ledward pela saleta de emergência da espaçonave. É o momento em que a fragilidade masculina, diante do desconhecido (um ataque de alien), desponta. Entre armas e amores (alguns perdidos), algumas mulheres tomam a frente na tentativa de lidar com o caos e a violência trabalhados na trama. ;A chefe de operações Daniels é daquelas pessoas que se resolvem melhor durante uma crise;, destacou a intérprete da personagem, Katherine Waterston (Vício inerente), desde muito ; até em meio às filmagens ;, comparada à destemida tenente Ripley (imortalizada por Sigourney Weaver).
Com Michael Fassbender em cena, ao menos metade do caminho do enredo de Alien: Covenant aponta para intensidade e trajetória shakespeariana. Mas, o filme de Scott acopla também citações pop que vão de Take me home, country roads (música de John Denver) até recordações do universo lúgubre impresso por Lord Byron e Mary Shelley. Lidando com robôs desprovidos de emoção e muitos seres solitários, o filme abriga uma surpresa: o amor entre os guerreiros Hallett (Nathaniel Dean) e Lope (Demián Bichir). Dean foi quem destacou a importância da discrição do relacionamento cênico: ;Esperamos que, no futuro, isso (a relação gay) tenha muito menos importância para a raça humana;.
Números de outro planeta
Alien: O oitavo passageiro (1979)
US$ 11 milhões arrecadou quase US$ 200 milhões
Aliens: O resgate (1986)
US$ 18,5 milhões arrecadou mais de US$ 130 milhões
Alien 3 (1992)
US$ 63 milhões arrecadou quase US$ 160 milhões
Alien: A ressurreição (1997)
US$ 70 milhões arrecadou US$ 161 milhões
Prometheus (2012)
US$ 150 milhões arrecadou mais de US$ 400 milhões
Alien: Covenant (2017)
US$ 110 milhões
Em entrevista ao site IGN UK, o diretor Ridley Scott confirmou que está trabalhando na sequência de Alien: Covenant. A informação não foi confirmada pela 20th Century Fox.