Diversão e Arte

Tempo e natureza morta são temas de exposições na Alfinete Galeria

Com 'Still life - Estudos para uma natureza (quase) morta' e 'Constrangimento do tempo', Valéria Pena-Costa e Rodrigo Cruz permanecem até junho na galeria

Nahima Maciel
postado em 09/05/2017 09:24
As naturezas mortas são tema do trabalho de Valéria Pena-Costa
Há algo de muito delicado e meticuloso na maneira como Rodrigo Cruz e Valéria Pena-Costa encaram o trabalho no ateliê. Essa combinação fica clara nas exposições individuais dos artistas na Alfinete Galeria. Valéria apresenta Still life ; Estudos para uma natureza (quase) morta, sua versão para a natureza morta, um gênero clássico na história da arte. E Cruz reuniu sob o título de Constrangimento do tempo as pequeninas pinturas nas quais reflete mais sobre a passagem das horas e dias e menos sobre a espacialidade. Há alguns anos Valéria não realizava uma individual em Brasília. Já Cruz só havia participado de coletivas. Com linguagens que esbarram em temáticas como o tempo, a própria razão da arte, a vida e a morte, eles representam duas gerações diferentes da arte brasiliense.

O ateliê de Valéria é também um laboratório no qual ela recolhe as matérias primas para as instalações de Still life. O gênero, muito popular na história da pintura, sempre exerceu um certo fascínio sobre a artista. Para a mostra em cartaz na Alfinete, ela recolheu a poeira do ateliê, que acabou peneirada, misturada a metais e pedras preciosos, armazenada em frascos e molduras de vidro. Combinada com outros objetos em instalações como Poeira viva, Poeira de ateliê e a mesa Natureza quase morta, o pó é a base para um verdadeiro gabinete de curiosidades. Além da poeira, entram na coleta bichos mortos como insetos e passarinhos, um resquício da vida sobre a qual Valéria quer falar .

A perda é o tema central na obra da artista. Como o homem lida com a expectativa da perda, em que processos se envolve para compreender as ausências e como as coisas perdidas se tornam mais presentes na vida do que quando existiam são reflexões que guiam o trabalho. ;Falo sempre na presença da ausência;, explica. ;O que me fascina é esse contato com a tensão que a perda provoca. Para mim, toda nossa força emocional reside no ponto da perda.;

Parte do mobiliário da exposição veio da própria família de Valéria e costuma ficar guardado no ateliê. Ali estão o que ela chama de histórias em decomposição, um elemento presente em cada um dos materiais de Still life. ;É um tema que trabalho desde sempre: coisas que se decompõem como se houvesse uma revitalização da memória. Falo de relações que se desmancham, do desfazer;, avisa.

Na primeira individual, Rodrigo Cruz optou por dar prioridade a trabalhos recentes, mas que resumem a trajetória dos últimos sete anos. Duas séries novas compõem Constrangimento do tempo. Na primeira, Cruz trabalha em pequenos formatos com o que identifica como ;pinturas de duração;: ao artista não interessa a composição espacial, mas sim quantos minutos, horas ou dias foram necessários para deslizar o pincel sobre a tela antes de dar o trabalho por encerrado.

Textos gravados em madeira com anotações temporais, como se fosse uma agenda de cada pincelada, acompanham as pinturas. ;Isso me dá uma noção temporal de uma relação que o espectador não viu, mas que eu posso sugerir;, explica. ;A intenção é refletir sobre o movimento na pintura e como funciona o preenchimento do tempo. A história da pintura sempre foi ligada à noção de espaço, mas tento propor uma noção de tempo, falar de uma noção existencial, desse cotidiano do estar fazendo.;

Serviço
Constrangimento do Tempo
Exposição de Rodrigo Cruz. Visitação até 3 de junho, de quinta a sexta, das 14:30h às 18h, e sábado, das 15 às 20h, na Sala UM da Alfinete Galeria (CLN 103 bloco B loja 66).

Still Life ; Estudos para uma natureza (quase) morta
Exposição de Valéria Pena-Costa. Visitação até 3 de junho, de quinta a sexta, das 14:30h às 18h, e sábado, das 15 às 20h, na Sala DOIS da Alfinete Galeria (CLN 103 bloco B loja 66).



Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação