Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Filhos seguem passos dos pais na música e se destacam nos palcos da cidade

Clara Telles, Bento Tibúrcio mendes e Felipe Portilho são alguns dos músicos que atribuem o lado artístico à influência familiar

Dorival Caymmi, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, João Donato e Martinho da Vila. São incontáveis os exemplos de pais, no universo da música popular brasileira, que influenciaram os filhos a se tornarem profissionais do mesmo ofício. Há os que, como os ancestrais, seguiram carreira de sucesso; mas outros não obtiveram o necessário reconhecimento do público.

Em Brasília, não falta quem, ao se lançar como cantor, compositor ou instrumentista, teve a figura paterna como referência. Para o Correio, alguns músicos, de diversas vertentes, revelam até que ponto a contribuição familiar foi determinante na hora de dar início à trajetória artística. Entre eles, existem os que estão dando os primeiros passos na profissão, mas há aqueles já com experiência nesse segmento. Confira:



Clara Telles

Cantora da nova geração brasiliense, Clara participa desde a infância das reuniões promovidas, em casa, pelo pai, Aloísio Brandão, cantor, compositor e violonista, com longa e produtiva vivência na cena artística da cidade. ;Para mim, pertencer a esse ambiente era e é algo natural. Costumo ouvir o que ele ouve e tenho admiração pelo que cria, pois trata-se de um compositor talentoso;, destaca a cantora, que costuma passear por estilos diversos. ;Além disso, ele está sempre disposto a me orientar, mas sem interferir no meu trabalho, nas minhas escolhas musicais. Artisticamente, temos ótimo relacionamento. Já cantei em shows dele, que por vezes participa dos meus, o que, para mim, é motivo de satisfação.;



Bento Tibúrcio Mendes

O pai, Fernando Cesar, ex-integrante do grupo Dois de Ouro, mestre do violão 7 cordas e irmão do bandolinista Hamilton de Holanda, é a principal referência musical para Bento, que, aos 9 anos, tem os Beatles como ídolos. ;Meu pai sempre me levou para as rodas de choro que ele toca e também para assistir a shows. Em casa, sempre há ensaios e me interesso também pelo que minha mãe, Caisa Tibúrbio, faz. Ela compõe para trilha sonora de peças teatrais. E gosto de ouvir meu avô José Americo, que é violonista;, diz o jovem músico, que começou tocando cavaquinho, passou pelo sax e hoje se dedica ao contrabaixo. Bento participou do programa de Jô Soares, ao lado do tio Hamilton e do primo Gabriel.


Dudu Hermógenes

Filho de José Hermógenes, o Zezinho, cavaquinista do lendário grupo Sambrasil, Dudu toca o mesmo instrumento que o pai na banda que acompanha a cantora Dhi Ribeiro. Ele conta que adquiriu o gosto pela música com os familiares. ;A casa de minha avó era ponto de encontro de músicos, em festas em que o samba dava o tom. Ainda criança, ficava atento a tudo e, influenciado por meu pai, às vezes, pegava o cavaquinho para tocar;, lembra Dudu. ;Hoje em dia, ele não gosta muito de sair, prefere ficar em casa compondo. Às vezes, assiste às minhas apresentações e mostra-se orgulhoso. Participamos recentemente do Festival de Música da Nacional FM com um samba intitulado Tudo nosso;, acrescenta.


Rick Campos

Filho de Digão, dos Raimundos, Rick Campos também é roqueiro. Fã do The Smith e do Fleet Wood Mac, ele diz que admira o trabalho do pai e da banda da qual é guitarrista e vocalista. ;Recebi um legado dele, mas pressão de todos os lados. Meu pai sempre me levou para shows, me mostrou muita coisa que ouvia e já participei de algumas apresentações dele, em projeto solo;, revela. O jovem músico, de 19 anos, é vocalista e pianista da Novos Modernos, banda de pop rock, mais identificada com linguagem do new wave. ;Recentemente fizemos um show bem legal no Poizé da 105 Norte;, comemora.


Felipe Portilho
Ele não tinha como fugir da música. Ainda na infância vivia cercado por sons diversos, pois a mãe, Mariele, era vocalista da Escola de Escândalo e do Arte no Escuro; e o pai, Rem Portilho, era pianista e tecladista do Mel da Terra. Felipe ouvia pop e rock tanto nos ensaios quanto nos shows das duas bandas. ;Aos 5 anos, toquei Estrela cadente, o grande hit do Mel, no piano de casa. Aos 12 anos, tirava som nas reuniões da família e dos amigos dos meus pais; e, aos 14, formei a banda Quarto de Lua. Tenho um disco gravado e emplaquei a música Uma vez mais na trilha da novela Alma gêmea. Fiz muitos shows em Brasília, produzi outros e, agora, morando no Rio de Janeiro, estou na produção do ator e cantor Arthur Aguiar;, destaca o tecladista e cantor.


Lourenço Vasconcellos

Baterista, percussionista e vibrafonista, o brasiliense Lourenço Vasconcellos passou por diversos estágios na profissão. Estudou na Escola de Música, licenciou-se pela Universidade Federal do Rio de Janeiro ; onde mora desde os 18 anos ; e fez mestrado em bateria pela University of Louisville, em Kentucky, nos Estados Unidos. O instrumentista integra a banda Corações Futuristas, que acompanha Egbrtto Gismonti, tem dois discos gravados com grupos e um solo, o Reflexão, com improvisações livres. Tudo isso, porém, teve início em casa, na infância, aqui na cidade, sob a influência dos pais, o pianista e compositor Renato Vasconcellos e a flautista Beth Ernest Dias. ;Eu me despertei para a música ouvindo meus pais, depois é que busquei meu próprio caminho. Mas eles foram muito importantes para minha formação.;


Alexandre Alves

Há 30 anos, Alexandre forma com o pai, João Pedro, a dupla sertaneja Advogado & Engenheiro. A relação dos dois é antiga. ;Meu avô, goiano, era rabequeiro, violeiro, tocador de catira e é luthier, ofício que passou para meu pai. Tudo isso foi repassado para mim, que, além de cantar na dupla, estou à frente de uma oficina, em Taguatinga, que fabrica violão e viola;, recorda-se Alexandre.. Alexandre se formou em violão clássico pela Faculdade Dulcina, tendo Marco Pereira como professor, mas o gosto pela música sertaneja prevaleceu. ;Quando morávamos em Goiânia, convivi com Zé Mulato & Cassiano, Chico Rey & Paraná, Milionário & Zé Rico e com o Trio Parada Dura. Inicialmente, formamos a dupla Dico & Deco, e depois a Advogado & Engenheiro, com a qual já lançamos sete discos.;

Vavá Gomes

Antes de criar o Trio Balançado, há três anos, o sanfoneiro brasiliense Vavá Gomes dividiu o palco em vários shows com o pai, o piauiense Nivaldo do Acordeon. ;Influenciado por ele, depois que terminei o ensino médio, larguei os estudos e passei a me dedicar à música e ao acordeon;, diz. Para se profissionalizar, Vavá recebeu aulas particulares do instrumento, mas sempre sob a supervisão de Nivaldo. ;Com ele, compus Baião arrumadinho, que está no repertório do CD Viva o forró, do Trio Balançado, que será lançado no dia 26 próximo, no Forró Espilicute. Ah, sim! Do grupo, faz parte, ainda, Dadá Nunes, irmão de Vavá.