A Movida Literária reúne escritores, produtores, poetas, jornalistas e outros trabalhadores da palavra em Brasília durante o mês de maio. A ideia é expandir o espaço literário local e proporcionar o encontro e troca de ideias com o público leitor. A ideia é que os eventos ocorram de maneira acessível a todos e, desta maneira, foram escolhidos espaços que fogem aos tradicionais focos literários. O evento será protagonizado pelos próprios autores da cidade, que ocuparão cadeiras de bares e cafés da capital em busca de agregar a maior quantidade possível de estilos e linguagens. Serão 28 autores em sete noites de encontros, sendo que dois desses autores vêm de São Paulo especialmente para a Movida: Marcelino Freire e Sheyla Smanioto.
[SAIBAMAIS]
Cinco escritores brasilienses se juntaram para dar vida ao projeto: Jéferson Assumção, Nicolas Behr, José Rezende Jr., Paulliny Gualberto Tort e Maurício de Almeida. A escritora e organizadora Paulliny Gualberto acredita que a produção literária brasiliense está se fortalecendo, já que a cidade começa a mostrar uma identidade própria, aparecendo nas narrativas locais. No entanto, a produção brasiliense ainda fica à margem do circuito literário nacional e a Movida busca, junto a outras iniciativas, mudar esse quadro. ;O trabalho de curadoria não foi fácil, pois há muita gente boa escrevendo aqui. Alguns escritores excelentes ficaram fora da programação nesta primeira experiência, mas a ideia é agregar outros nomes nas próximas edições;.
A diversidade é um dos pontos altos do evento, que reúne representantes de diferentes linguagens e trajetórias. Para os curadores da Movida, o importante é levar a literatura para a vida cotidiana, para os bares e ruas. A ideia é mostrar que a escrita pode ser apreciada sem cerimônias e rituais e colocar o projeto no calendário de eventos fixos do Distrito Federal. ;Livros são para todos e esse é um valor fundamental para nós, que organizamos o evento. Unir os autores de Brasília em torno desta proposta é uma forma de fazer os livros circularem e de despertar o interesse pela leitura;, destaca Paulliny. O diálogo sem formalidades pretende estreitar o a interação entre autores e leitores, além de estimular aspirantes à escrita. Sendo assim, uma das recompensas do financiamento coletivo on-line é uma oficina de escrita criativa, a ser ministrada dia 13 de maio.
Os autores brasilienses mostram que estamos muito além da imagem burocrática associada à cidade e que a vida por aqui extrapolou o que foi planejado nas maquetes. ;É preciso ainda reconhecer que nossa escrita é de resistência, até por estarmos fora do circuito literário mais tradicional;, destaca a autora. Escritores de diferentes gerações, como a tradicional poeta brasiliense Noélia Ribeiro e a escritora estreante Beatriz Leal dividem as mesas. Para Noélia, o projeto é inovador e pode colaborar para resgatar a autoestima dos autores, além de ampliar a troca de experiências. A poeta lembra que a produção de romances, contos e poesias é intensa na capital e só precisa de mais visibilidade.
Para Noélia, é importante mostrar ao Brasil que em Brasília existe uma produção literária forte e ávida por espaço e por troca de informação. Entre saraus e encontros locais os escritores encontram espaço para fazer fluir suas obras, no entanto, a falta de distribuição ainda é uma constante. ;Conquistar mais leitores e mostrar ao público que vale a pena comprar nossos livros é outro ponto importante. Eventos em espaços abertos aumentam a chance de se formar um novo público leitor;.
A autora Cristiane Sobral se inspira na possibilidade de mudança e reflexão proporcionada pela literatura, tendo sido ela mesma transformada a partir desse encontro literário. ;É o que me provoca, atravessa, convida à reinvenção;. Para ela, é interessante observar os cruzamentos de uma literatura feita nas asas do avião com a escrita de autores periféricos, misturando sotaques e regiões. As assimetrias sociais também caracterizam essa produção. ;Entre os temas importantes a serem abordados estão: a estética literária, o campo da invenção, dicas de publicação e distribuição, encontros entre editores e escritores, ilustradores também, caminhos da prosa e da poesia;.
Novas possibilidades
Um financiamento coletivo on-line foi criado para permitir que o projeto tenha a melhor estrutura possível para a comunidade, colocando a literatura em destaque no imaginário coletivo local. Para a jovem escritora Beatriz Leal, finalista do Prêmio Jabuti, o importante é possibilitar trocas que inspirem produções e criar espaços para conhecer o panorama dos gêneros que se destacam nas cidades. A escritora lembra que a literatura feminina e feminista tem ganhado um forte impulso na capital e que é preciso encontrar caminhos para espalhar essa produção pelo restante do país. ;Eu, particularmente, gosto de filosofar e poder pensar em diversos temas em mesas de literatura. Política, democracia, liberdade de pensamento e de expressão podem entrar em pauta nas conversas;. Desta maneira, a arte pode oferecer um espaço de debates maduros.
Beatriz destaca a característica literária de expor uma ideia e a possibilidade de cada leitor assimilar aquela informação em seu próprio tempo, além de personagens bem construídos que podem modificar certezas por meio de empatia ou rejeição. ;Quando o leitor tem a oportunidade de dar um feedback, com percepções sobre o livro que o autor talvez não tenha, cria-se a ponte para um diálogo que dificilmente será superficial;. A autora destaca que essa troca pode ser feita em clubes de livro, com outros leitores, com ou sem a presença do escritor. ;As reflexões costumam ser intensas e, sem saber, o autor criou o caminho para aquele momento acontecer;.
A poética presente
Conhecida por seus talentos na poesia, Brasília mostrará na Movida Literária alguns dos nomes tradicionais da criação candanga, como João Bosco Bezerra Bonfim e Carla Andrade. O veterano conta que utiliza as ferramentas da poesia também em contos e histórias, como no caso dos cordéis. Para ele, os espaços de literatura ainda precisam ser firmados no DF, com constância e divulgação. ;Trazer o debate literário para a cena pública dos bares vai ser um bom modo de divulgar e festejar a literatura;. João Bosco lembra que o importante é lembrar que fazemos literatura brasileira e nacional, sem fronteiras. ;É importante abordar nas conversas as novas possibilidades de difusão literária, espaços valorosos de críticas, articular mais movimentos;, afirma o autor. A distribuição virtual entra também como uma importante aliada dessa produção.
A poeta Carla Andrade também participa dos debates e lembra que movimentos como este estão espalhados por todo o Brasil. ;Uma coisa que me chamou a atenção na campanha de crowdfunding é que a recompensa de uma oficina literária com os curadores é uma das contrapartidas com mais adeptos. As pessoas querem trocar conhecimentos, experiências literárias, querem viver a literatura;, destaca.
Carla lembra que escrever exige solidão, mas a divulgação e a propulsão da Literatura são feitas com muita união. Os espaços abertos em Brasília, talvez sejam um diferencial, são ótimos locais para essa circulação literária acontecer. Desta maneira, é possível perceber que o eixo literário ampliou-se no país e a relação entre leitores e escritores torna-se mais próxima e eficaz. Para a autora, a literatura seria um dos caminhos mais eficientes para a compreensão das diferenças. A longa jornada literária entre os bares brasilienses promete aumentar essa conexão e despertar novos interesses.
;Todo escritor é um pensador de seu tempo. Sempre que escrevo, dedico-me a ver como os leitores receberão minha obra. Como dizia o Mestre Drummond o presente é meu tempo, os homens e mulheres presentes. A vida presente. Então, toda literatura é reflexão;
João Bosco Bezerra Bonfim
SERVIÇO
Festa Movida Literária
Amanhã, às 20h, no Canteiro Central (SCS Q. 3 bl. A lt. 210). Toda a verba levantada ba festa vai para a realização e divulgação da Movida Literária. Para colaborar com o financiamento coletivo basta entrar no link: https://www. catarse.me/movida_literaria