Diversão e Arte

Cantora Tássia Reis se une a rappers que brigam por representatividade

Tássia Reis esteve em Brasília para o Festival Sai da Rede, no CCBB

Rebeca Oliveira
postado em 03/04/2017 07:30

Tássia Reis esteve em Brasília para o Festival Sai da Rede, no CCBB

A internet e as redes sociais possibilitaram que, desde o ano passado, uma cantora nascida em Jacareí, no interior de São Paulo, fizesse uma pequena revolução que tomou o Brasil. Na onda de rappers como Karol Conka, Tássia Reis veio ao mundo para ser grande. Ela é uma das criadoras do coletivo feminista Rimas e Melodias. As músicas da artista, portanto, dão amplitude às pautas do movimento. Tássia concentra as forças nas questões negras. É dela a potente frase: ;a revolução será crespa;. Doa a quem doer, Tássia Reis veio para ficar.

Uma prova foi dada há alguns meses, quando o disco Outra esfera, o segundo da cantora, entrou na lista dos melhores do ano da revista Rolling Stone brasileira. Lançado gratuitamente na internet e de forma independente, a combinação de sete faixas reunia uma deliciosa mistura sonora e letras atuais, contundentes e necessárias. Tássia Reis esteve em Brasília para o Festival Sai da Rede, no CCBB (que continua este fim de semana). Em conversa com o Correio, manifestou o desejo de ver mais mulheres na cena mainstream, seja do rap e do hip-hop, seja de qualquer outro gênero musical. ;Desejo, sim, que possamos alcançar mais, e ocupar muito mais espaços, seja onde for. Estamos trabalhando nisso;, garante.

; Três perguntas / Tássia Reis

;Não toleramos mais o seu xiu;, você canta em Ouça-me. A carreira no rap foi uma escolha ou uma espécie de chamamento social?
A carreira foi uma escolha minha. Começar a escrever, que vem bem antes de pensar em carreira, foi algo natural, como uma forma eficaz de expor sentimentos. Funcionou e eu fui ficando viciada em colocar em letra e melodia situações cotidianas misturadas a sentimentos, sensações e lembranças. Uma das coisas mais bonitas que já me aconteceu foi cair em lágrimas depois de escrever algo e chorar de emoção. Um sentimento sem igual.

Muitas das faixas de Outra esfera falam de amor. Também é uma forma de fazer revolução?
Outra esfera é sobre uma investigação de si mesmo, que passa por várias etapas. Do amor-próprio, do questionamento dos limites, da liberdade, da indignação, e também da paixão, do entendimento do amor como algo profundo, tanto o próprio como o compartilhado com outra pessoa. Amar é libertador, logo revolucionário.

Você é uma das representantes da nova geração de artistas com as quais muitas meninas têm se inspirado. Essa responsabilidade pesa ou motiva?
Sinto uma responsabilidade, sim, mas é leve. Não me importar com padrões e imposições me fez e me faz ser quem eu sou hoje. Se ficar pensando muito nisso, viverei para atender expectativa, e a ideia não é essa. A ideia é ir além, desbravar e correr mundo.

; Tássia Reis por ela mesma:

;O que me incomoda, sincero
É ver que pra nós a chance nunca sai do zero
Que, se eu me destacar, é pura sorte, jão
Se eu fugir da pobreza não escapo da depressão, não
Num quadro triste, realista
Numa sociedade machista
As oportunidades são racistas
São dois pontos a menos pra mim
É difícil jogar;
(Da lama / Afrontamento)

;Eu tentei falar baixinho mas ninguém me ouviu
Eu tentei com carinho e o sistema me agrediu
Então eu grito! Elevo o meu agudo ao infinito!”
(Ouça-me)

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