Com três discos, os paulistanos d;O Terno se tornaram uma das principais bandas do rock nacional produzido hoje. A pegada bem-humorada (mas também reflexiva) da banda conquistou um público fiel, interessado num rock mais indie e produzido fora dos valores do mainstream.
De Tame Impala a Clube da Esquina e Mutantes, o caldeirão d;O Terno mistura referências antigas a elementos modernos ao mesmo tempo em que produzem letras que são crônicas da geração nascida no início dos anos 1990.
O grupo se apresenta neste sábado (25/3) e no domingo (26/3) com o Boogarins na Caixa Cultural. O baixista Guilherme d;Almeida (Peixe) e o vocalista e guitarrista Tim Bernardes conversaram com o Correio sobre o crescimento da banda, o cenário independente e as canções d;O Terno.
Entrevista // Guilherme d;Almeida e Tim Bernardes
Algumas músicas d;O Terno, como Melhor do que parece, Eu confesso e 66, conseguem retratar muito bem do que é essa geração; Isso é proposital?
GUILHERME D;ALMEIDA: Eu acho que tem muito a ver com o contexto que a gente vive e está inserido. Reflete a nossa geração e o momento em que os discos foram gravados e o também momento que cada um está passando na própria vida. É bacana também ver como essas letras foram evoluindo e como os fãs também envelheceram e continuam envelhecendo junto com as propostas e com os temas que a gente traz. Claro que temos músicas mais fictícias, mas muitas são mesmo crônicas do contexto em que a gente está, isso de ser uma banda paulista do anos 2000, com temas dos anos 2000, que foge daquela estrutura batida de canções com ;eu te amo e você não me ama;...
Mas ao mesmo tempo que rola essa visão de interpretar uma geração, de refletir sobre o que está acontecendo, vocês tem uma abordagem muito direta, coloquial; Como é fazer esse tipo de letra, falar sobre coisas mais densas sem ser chato?
TIM BERNARDES: Eu não gosto muito de quando a mensagem é passada de uma maneira muito rebuscada, acho que a simplicidade é um jeito muito comunicativo, mais eficaz. Isso rola também na coisa sonora, de deixar ganchos para as pessoas entrarem naquilo. Existe a reflexão nas letras, mas existe uma vontade de comunicar. No som, existe uma experimentação, mas continua essa vontade de comunicar. Dá para ser pop e arte ao mesmo tempo.
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Vocês misturam referências antigas com elementos mais modernos, como é isso de juntar o velho e o novo, o antigo e moderno?
TIM BERNARDES: Vem de uma coisa natural de gostar muito das coisas dos anos 1960. A gente é dessa nossa geração que gosta de certos elementos da música dessa época. Claro que certas coisas fazem sentido e outras não. Mas o que eu penso é que se ainda faz sentido agora é porque de certa forma continua atual, continua dizendo algo, então não é velho para a gente.
E como é o processo de composição? As músicas são do Tim; Mas como a banda influencia nessa construção?
GUILHERME D;ALMEIDA: É bastante variado, tem música que o Tim já apresenta com o conceito dela mais pronta, tem música que chega completamente aberta. No último disco, Melhor do que parece, a gente fez uma viagem para Indaiatuba e ficou lá uma semana, quase duas. O Tim mostrou as composições e a gente foi escolhendo, vendo o que servia ou não para O Terno. É engraçado que algumas que ele achava que eram a cara da banda não entraram e outras que ele pensava que não serviam a gente acabou usando.
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Como foi a gravação do Melhor do que parece?
GUILHERME D;ALMEIDA: É um disco que a gente chegou no estúdio muito cru. Nos outros chegamos sabendo o que queríamos, ;ah, aqui vai ter uma introdução, aqui entra o solo etc.; Nesse disco, a gente chegou completamente aberto. Até por ter mais tempo, recursos. Tem metais, cordas, harpa... A gente começou a gravar imaginando que ali entrariam algumas coisas que foram surgindo no estúdio. Foi muito de ouvir e ficar imaginando o que falta, o que poderia ter e ver o que seria melhor. Na verdade, nesse disco, as composições foram um pretexto para a gente conseguir pirar, para conseguir chegar no estúdio e criar o clima com aquelas temáticas.
A banda cresceu muito nos últimos tempos, como tem sido isso para vocês?
GUILHERME D;ALMEIDA: É muito bom, é legal fazer um show em Belém, por exemplo, e ter gente cantando. É bacana que tem canções que a gente imagina que são mais restritas, como Eu confesso. Ela é super de bairro, da nossa região de São Paulo, mas reflete uma realidade. Você chega em Belo Horizonte, Brasília, em vários lugares, e vê gente que se reconhece nela. O interesse por esse tipo de canção é muito vasto. É interessante ver como as músicas vão se transformando, algumas ficaram calmas e outras acabaram ficando mais pesadas nesse processo de tocar em muitos lugares.
Esse crescimento de vocês também reflete como o cenário independente está se fortalecendo?
GUILHERME D;ALMEIDA: Independentemente das adversidades ou não da cena, a vontade de fazer música sempre vai ser muito grande, sempre vai existir gente interessada em fazer música. Mas realmente tem coisas que mudaram. Hoje o músico independente pode gravar em estúdio, mas também consegue fazer isso na casa dele. Então, o artista independente está em todo o processo, ele não é o cara que vai ao estúdio, só grava e depois vê o disco pronto. Ele participa de tudo, vai ao show de outras bandas e isso cria um mercado muito interessante.
Vocês já tocaram com o Boogarins antes, como é que foi esse encontro, essa ideia de juntar as duas bandas?
TIM BERNARDES: A cena hoje tem muita diversidade, é muito bom fazer pontes com pessoas diferentes, mas é muito legal também fazer parcerias pelas afinidades, que é o caso desse encontro. Eles têm a ver com a gente, a gente se identificou. De perto, você vê que é diferente, mas as filosofias e as afinidades de gosto e estilo são grandes. Nós nos conhecemos no começo das duas bandas e é bacana observar os caminhos que estamos seguindo. Eles indo para essa coisa mais eletrônica, um outro tipo de experimentação e a gente procurando o caminho da canção, de encontrar arranjos bonitos...
E o que aproxima as duas bandas?
TIM BERNARDES: Todos somos mais ou menos do começo dos anos 1990. Então, naturalmente a gente ouviu as mesmas coisas. E somos uma geração que quis buscar uma alternativa ao rock que tocava nas rádios, no mainstream. E encontramos um pouco disso nas coisas dos anos 1960, na psicodelia lado B, no Clube da Esquina. Temos uma formação musical que é semelhante, quando nos conhecemos, por exemplo, estava todo mundo empolgado com o Tame Impala e com o modo como eles estavam misturando essas sonoridades.