<div style="text-align: justify"> <img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2017/03/07/578734/20170307092122102687a.jpg" alt="Renam Samam diz que o rap empodera jovem brasileiro" /></div><div style="text-align: justify">O primeiro bloco carnavalesco de rap estreou no sábado de folia, no fim de fevereiro, arrastando multidão animada pelo Centro de São Paulo. MCs e DJs de várias gerações subiram no trio elétrico, que trocou a cuíca por beats e flows. Estavam lá os veteranos KL Jay, Helião e Edi Rock ao lado dos jovens do grupo 5 pra 1 e de Rincon Sapiência. Sucesso no YouTube com o <em>rap-batuque</em> <em>Ponta de lança</em>, que bateu 3,2 milhões de visualizações, Rincon compôs Meu bloco especialmente para a folia.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;Foi histórico. Fizemos aquele show na rua, que é a nossa casa, com todo mundo cantando e ;pulando; rap;, comemora Renan Samam, de 27 anos. Integrante do coletivo 5 pra 1, o paulistano é considerado um dos produtores mais talentosos da nova geração do hip-hop nacional ; trabalhou com Criolo, Emicida e Marcelo D2, entre outros. Comandado pelo respeitado DJ Cia, o bloco Beat Loko só veio comprovar: o rap abrasileirou de vez.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;Ele está cada vez mais forte aqui, o jovem se sente empoderado ao ouvir a nossa música;, diz Samam. Poderoso na cena internacional ; sobretudo norte-americana ;, o gênero tem tudo para ser a nova onda nacional, acredita Renan. E aposta: a próxima ;febre; será o encontro do funk carioca com o trap, subgênero do rap criado em Atlanta, nos EUA, marcado pelos graves e a eletrônica. As duas linguagens, aliás, já têm se dado muito bem nas pistas brasileiras, reforça Samam.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify"><strong>COSMOPOLITA</strong> </div><div style="text-align: justify"> </div><div style="text-align: justify">Há alguns dias, o 5 pra 1 mandou para as redes o clipe <em>Traps band$</em>, single marcado pela sonoridade de Atlanta. Dirigido por Victor Adelino, o vídeo remete a metrópoles, com ruas tensas, bares enfumaçados e o perigo à espreita. Pioneiros do rap nacional, KL Kay, o DJ do Racionais, e Xis participam. No início de fevereiro, o grupo divulgou o single <em>Inbraza</em>, que fala de garotas e bailes. Ambos fazem parte do EP <em>Fábrica de papéis</em>, com oito faixas, cujo lançamento está previsto para o primeiro semestre. Será o terceiro trabalho do grupo, depois dos CDs Kush e garotas (2014) e GoodFellaz (2015).</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">A diversidade é a marca do 5 para 1, formado também pelos rappers William, Filiph Neo e Dee. Além de trap, estão lá R, soul, funk, samba e MPB. ;As letras falam de problemas sociais, do cotidiano da quebrada, que é a nossa vivência, do ;corre; da cidade e também de amor. Nosso disco é eclético, assim como os outros dois;, explica Samam.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">O ecletismo, aliás, vem marcando o rap nacional. O veterano Racionais experimentou a sonoridade contemporânea do trap em seu último disco de inéditas, Cores & valores (2014). Estrela das pistas, Karol Conka explora novidades da música eletrônica em parceria com o duo Tropkillaz. Criolo flerta com o samba e a MPB. Mano Brown, no projeto solo Boogie naipe, bebeu na fonte do soul, R, samba-rock à Jorge Ben Jor e do funk das antigas. Fã de jazz, Tássia Reis celebra o empoderamento feminino e a negritude com R e eletrônica.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Projota, que aposta na veia pop, bateu 5,6 milhões de visualizações no YouTube com Oh meu Deus, parceria com Renan Samam lançada há um mês. O paulista Rashid, que passou a adolescência no interior de Minas, flerta com samba, Clube da Esquina, reggae e rock. Emicida mergulhou nas batidas africanas em seu último álbum. O mineiro Matéria Prima acaba de lançar 2 atos, produzido pelo paulista Gui Amabis, nome de ponta da MPB contemporânea.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Samam garante: ;O rap brasileiro tá no game;. Ou seja, luta por seu lugar no mercado e cria estratégias para conquistar novos públicos. O ;ritmo e poesia;, canto falado que veio dos Estados Unidos nos anos 1980, virou porta-voz das favelas e dos negros brasileiros, diversificou sua temática e vai deixando para trás a pecha de ;música de bandido;, carimbo que ganhou por dar voz a segmentos da população empurrados para o crime pela exclusão social.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;O gueto é o berço;, explica Samam, convicto de que o hip-hop sempre estará presente ali. Mas ele se expande tanto esteticamente (flertando com samba, forró, MPB e até sertanejo) quanto em termos de público. Para o produtor, a contribuição de sua geração ao rap brasileiro está na liberdade, fruto das facilidades oferecidas pela internet. A revolução tecnológica, além de pôr os jovens em contato com tudo o que é lançado no mundo, democratizou a gravação de singles, EPs e discos.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Porém, o ;game; é mais ousado do que isso, afirma Samam. Os jovens rappers vêm aprendendo (e ensinando aos veteranos) a estruturar a própria carreira ; da agenda de shows ao lançamento de clipes, EPs e CDs. Vendem camisetas e bonés com a própria marca, influenciando o visual dos jovens. Organizam-se coletivamente para gerenciar o negócio, de forma a tirar o sustento de sua arte. ;Trouxemos o pensamento empreendedor para o rap;, resume. O bloco carnavalesco de DJ Cia, inclusive, é prova disso, ao articular apoio de patrocinadores à iniciativa.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">IMPROVISO Acabaram-se os tempos da improvisação. Racionais MCs montou a própria empresa, a Boogie Naipe, que também cuida da carreira solo de Mano Brown, do RZO e do 5 pra 1. Rashid toca a produtora Foco na Missão. Emicida não se limita a gerenciar a Laboratório Fantasma, sua produtora e selo fonográfico ; um case do empreendedorismo ;, em parceria com o irmão, Evandro Fióti. Ano passado, a dupla e o estilista João Pimenta lançaram coleção de roupas da grife LAB, que bombou na São Paulo Fashion Week. Desfilaram jovens negros empoderados, com seus cabelos black power, modelos gordas e portadores de vitiligo.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">;Fiz com a passarela o que eles fizeram com a cadeia e com a favela. Enchi de preto;, declarou Emicida aos jornalistas. À sua maneira, o rap abrasileirou o fechadíssimo game do mundinho fashion.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">BOY KILLA Jovem revelação do rap paulista, Boy Killa está concluindo as gravações de Vários relatos, EP produzido por Beatz Blood com participação especial de Rincon Sapiência e Coruja BC1. Integrante do grupo de MCs que se apresenta com o Racionais, Killa mandou para as redes o single <em>No corre</em>. Com batidas pesadas, ele fala da realidade das favelas: racismo, drogas e a determinação de superar a exclusão social.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">LUXÚRIA E POLÊMICA O mineiro Flávio Renegado é outro rapper que incorpora pop, samba e MPB a suas batidas. Ele acaba de mandar para as redes o clipe de Luxo só, parceria com Jana Lourenço. A picardia do funk carioca e o refrão ;ai/ tá gostozim; marcam a canção, que simboliza a luxúria no disco Outono selvagem, cujas faixas são dedicadas aos pecados capitais. No vídeo, Flávio é o homem-objeto quase ;devorado; por garotas. Fãs e feministas criticaram o trabalho e o acusaram de ;objetificar a mulher negra;.</div>