Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

'A vida lá fora': mostra no CCBB ressalta obras do vibrante Jean Renoir

Considerado o grande humanista da sétima arte, Renoir nunca foi elitista, como revela o recorte da mostra do CCBB , com curadoria de Júlio Bezerra

Foi no palco do Oscar de 1975, que a estrela Ingrid Bergman, 20 anos depois de ser dirigida por Jean Renoir, em Estranhas coisas de Paris, chamou o cineasta vencedor de estatueta honorária, atribuída pela ;admiração mundial; despertada entre cinéfilos, para uma celebração frente às câmeras de tevê. Na verdade, o mais ilustre filho do mestre da pintura Auguste Renoir estava ausente na cerimônia. Mas, pouco importou: fosse pela excelência desde os tempos do cinema mudo, pelas ideias progressistas em fitas de moralidade dúbia ou mesmo na consagração junto a pares como os ilustres admiradores Orson Welles, Charles Chaplin e François Truffaut, Renoir não precisava ser lembrado ; ele sempre foi parte da vida do cinema vibrante, como confirma a mostra A vida lá fora, a ser exibida no CCBB.
[SAIBAMAIS]
Considerado o grande humanista da sétima arte ; com obras-primas do porte de A grande ilusão (que uniu classes na tela de 1937, explorando a Primeira Guerra Mundial) e A regra do jogo (com classes divididas, mas corpos em comunhão, a partir do exame de adultério, em 1939) como estandarte ;, Renoir nunca foi elitista, como revela o recorte da mostra do CCBB que tem como curador Júlio Bezerra.

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Objeto de estudo para sumidades como Jacques Rivette (que terá o extenso documentário Jean Renoir, o patrão mostrado em sessão tripla de sexta-feira), o diretor soube se comunicar com as massas, pelo que demonstram filmes como O testamento do Dr. Cordelier (1959), baseado em O médico e o monstro (a partir do texto de Robert Louis Stevenson com adaptação exibida no CCBB, amanhã); A besta humana (1938), que uniu a literatura de Émile Zola à curiosidade de uma encenação de adultério e crime e Boudu, salvo das águas (1932), no qual um boa-vida atazana o dia a dia de um hospitaleiro gentleman.

Antes de representar a multiplicidade de amores de uma mulher vivida por Anna Magnani, em A carruagem de ouro (1952), Jean Renoir teve muitas experiências de vida, no contato com o boêmio ambiente da zona francesa de Montmartre. Da vivência mundana e do amor pela ex-modelo Catherine Hessling (com quem casou em 1919) que serviu ao pai Auguste, Jean extraiu a aplicação para o cinema. Com Hessling como inspiração e musa, ele filmou A filha da água (1925), Nana (outro derivado dos textos de Zola, em 1926) e A pequena vendedora de fósforos (1928), feito a partir de conto de Hans Christian Anderson.

Ousadia e retratos solidários

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Com apelo sensual, a filmografia de Renoir contempla o ambiente de formação arejado, com direito às estrepolias sexuais dos personagens Legrand e da prostituta Lulu, no ousado A cadela (1931). Volúpia e alpinismo social igualmente despontaram em Madame Bovary (1934), atração de amanhã no CCBB, criado a partir do controvertido texto de Gustave Flaubert e ainda em Segredos de alcova (1946), com a fatale Paulette Goddard (Tempos modernos), além de tema para French cancan (1955), com o ator fetiche de Renoir, Jean Gabin (ator, entre outros, de O submundo, filme interpretado na decadente atmosfera de uma pensão).

Com toda a programação de filmes recomendada para maiores de 12 anos, A vida lá fora: O cinema de Jean Renoir traz ainda filmes que exemplificam bifurcações importantes para a obra do mestre, gabaritado em retratar a vida no campo e, no ramo que o consagrou, fitas de guerra, mas com fundos pacifistas. Do primeiro grupo tomam parte longas-metragens como Toni, O rio sagrado (grande vencedor do Festival de Veneza, que conta do amadurecimento de três moças, com esplêndidas locações na Índia) e Amor à terra (filmado na fase norte-americana da produção de Renoir), além do média Um dia no campo (baseado em texto de Guy de Maupassant). Já inseridas no discurso que consagrou Renoir ; o da solidariedade em meio à hostilidade bélica ; figuram fitas da estatura de A grande ilusão, A marselhesa e O cabo ardiloso.

SERVIÇO

A vida lá fora
O cinema de Jean Renoir CCBB (SCES, Tr. 02, lote 22, 3108-7600). Até 13 de março. Confira programação no roteiro. Ingressos, R$ 10. Não recomendado para menores de 12 anos.

Hoje:

18:00 - A Mulher desejada (71;)

20:00 - Amor à terra (92;)

Amanhã

16:00 - Madame Bovary (101;)

18:00 - O testamento do Dr. Cordelier (95;)

20:00 - A Marselhesa (135;)

17 de fevereiro (sexta):

16:00 - Jean Renoir, o Patrão - 1; Parte - Em busca do relativo (94;)

18:00 - Jean Renoir, o Patrão - 2; Parte - Michel Simon, a direção dos atores (95;)

20:00 - Jean Renoir, o Patrão - 3; Parte - A regra e a exceção (95;)

18 de fevereiro (sábado):

14:30 - Boudu, salvo das águas (85;)

16:30 - O submundo (90;)

18:30 - A cadela (91;)

20:30 - French cancan (102;)

19 de fevereiro (domingo):

15:00 - Jean Renoir - Parte 1 e 2 (120;)

17:30 - Tire-au-flanc (83;)

19:30 - Boudu, salvo das águas (85;)

21:30 - Um dia no campo (40;)

20 de fevereiro (segunda):

18:00 - A filha da água (89;)

20:00 - O submundo (90;)

22 de fevereiro (quarta):

15:00 - Nana (150;)

18:00 - A cadela (91;)

20:00 - A grande ilusão (114;)

23 de fevereiro (quinta):

15:00 - Tire-au-flanc (83;)

17:00 - A Marselhesa (135;)

20:00 - Esta terra é minha (103;)

24 de fevereiro (sexta):

16:30 - La vie est à nous (66;)

18:00 - French Cancan (102;)

20:00 - Toni (81;)

25 de fevereiro (sábado):

14:30 - Esta terra é minha (103;) - 35mm

16:30 - A grande ilusão (114;) - 35mm

19:00 - Toni (81;) - 35mm

21:00 - Um dia no campo (40;) - 35mm

1 de março (quarta):

18:00 - O testamento do Dr. Cordelier (95;)

20:00 - O segredo do pântano (88;)

2 de março (quinta):

15:00 - Jean Renoir - Parte 1 e 2 (120;)

17:30 - A regra do jogo (110;) - 35mm

20:00 - Debate com Pablo Gonçalo, Filipe Furtado e Júlio Bezerra - Tradução em Libras

3 de março (sexta):

16:00 - O testamento do Dr. Cordelier (95;)

18:00 - A mulher desejada (71;)

20:00 - Estranhas coisas de Paris (95;) - 35mm

4 de março (sábado):

14:30 - Madame Bovary (101;)

16:00 - Segredos da alcova (86;) - 35mm

18:30 - O crime do monsieur Lange (80;) - 35mm

20:30 - O cabo ardiloso (105;) - 35mm

5 de março (domingo):

14:30 - Charleston %2b A pequena vendedora de fósforos On purge bébé (98;)

16:30 - Le déjeuner sur l;herbe (91`)

18:30 - A carruagem de ouro (103;)

20:30 - A regra do jogo (110;) - 35mm

6 de março (segunda):

14:00 - Curso aula 1 (90;)

16:00 - Jean Renoir, o Patrão - 1; Parte - Em busca do relativo (94;)

18:00 - A filha da água (89;)

20:00 - A besta humana (100;) - 35mm

8 de março (quarta):

14:00 - Curso aula 2 (90;)

16:00 - Jean Renoir, o Patrão - 2; Parte - Michel Simon, a direção dos atores (95;)

18:00 - O segredo do pântano (88;)

20:00 - Estranhas coisas de Paris (95;) - 35mm

9 de março (quinta):

16:00 - A carruagem de ouro (103;)

18:00 - Amor à terra (92;)

20:00 - O rio sagrado (95;)

10 de março (sexta):

14:00 - Curso aula 3 (90;)

16:00 - Jean Renoir, o Patrão - 3; Parte - A regra e a exceção (95;)

18:00 - Charleston A pequena vendedora de fósforos On purge bébé (98;)

20:00 - Segredos da alcova (86;) - 35mm

11 de março (sábado):

14:00 - Jean Renoir - Parte 1 e 2 (120;)

16:30 - La vie esta à nous (66;)

18:00 - O cabor ardiloso (105;) - 35mm

20:30 - O crime do monsieur Lange (80;) - 35mm

12 de março (domingo):

14:00 - Le déjeuner sur l;herbe (91;)

16:00 - Amor à terra - Sessão Closed Caption Audiodescrição (92;)

18:00 - A besta humana (100;) - 35mm

20:00 - O rio sagrado (95;)

13 de março (segunda):

16:00 - Nana (150;)

19:00 - A Marselhesa (135;)