Muita coisa mudou desde a primeira vez que Ozi colocou os pés na rua para pintar os muros da Zona Leste, em São Paulo. Na época, lá pelos anos 1980, ninguém falava em graffiti. Era pichação mesmo e quem se dispunha a passar horas na rua escrevendo ou desenhando em muros era considerado bandido e subversivo. Por isso o artista fica contente quando vê os trabalhos dispostos na galeria para a exposição Ozi ; 30 anos de Arte Urbana, na Caixa Cultural Brasília. "O que aconteceu nesses 30 anos é que a arte urbana se tornou um fenômeno importante", acredita o artista.
Ozi começou a pintar estêncil nas ruas paulistanas graças a Alex Vallauri, pioneiro na arte urbana brasileira e mentor de um grupo que tinha ainda nomes como Carlos Matuck, Waldemar Zaidler e Mauricio Vilaça. "A rua sempre foi algo difícil porque implica vários riscos, mas a rua é a expressão da liberdade, então é um risco calculado. É na rua que você tem o público e consegue buscar algum diálogo com o trabalho. No começo, a história era criar um diálogo com a cidade e foi isso que aprendi com o Alex", conta.
[SAIBAMAIS]
Os anos 1980 foram marcados pelo fim da ditadura no Brasil e pelas Diretas Já. A temática política era a mais comum entre os trabalhos de Ozi. "Os artistas viam a rua como um espaço de desobediência civil para a sociedade questionar", lembra.
A mostra da Caixa faz uma retrospectiva do trabalho de Ozi e está dividida em três partes. A primeira traz a rua como o espaço de excelência da arte urbana. A segunda, que o artista chama de "arte fina", uma rebeldia contra o termo inglês fine arts, reúne trabalhos feitos em suportes variados para circularem fora das ruas, em galerias e no mercado de arte.
A terceira é dedicada à biografia do artista, com fotografias, textos, clippings e alguns trabalhos escolhidos para evidenciar o processo de produção do grafitte. "É uma maneira de o público entrar no mundo visual do estêncil", avisa. "São alguns trabalhos grandes para que o público tenha percepção de como o trabalho se comporta na rua." Vídeos com depoimentos de outros artistas também fazem parte da exposição.
O contexto político do Brasil ditava as mensagens estampadas nos bairros paulistanos. O fim da ditadura e um clamor pela democracia impregnavam a arte de Ozi e seus companheiros. Hoje, ele constata, há ainda muita denúncia social. ;E, ao mesmo tempo, essa arte está revitalizando espaços antes abandonados. Onde eu vivo, no Tatuapé, o graffiti tem um lado social. Os meninos da periferia organizam eventos sempre em prol da comunidade;, conta.
Serviço
Ozi ; 30 anos e Arte Urbana no Brasil
Exposição de Ozi. Abertura hoje (10/01), às 19h, na Caixa Cultural (SBS - Quadra 04 - lotes ;) Visitação até 26 de fevereiro, das 9h às 21h.