Sem data certa para começar, o tradicional Curso Internacional de Verão (Civebra) da Escola de Música de Brasília (EMB) está, mais uma vez, ameaçado de não sair do papel. As aulas ocorriam regularmente no mês de janeiro desde 1978. São aguardadas durante meses por quem quer se aprofundar na aprendizagem vocal ou de algum instrumento, e não se restringem ao público de Brasília. Atraem pessoas de todo o país e até candidatos internacionais. Entretanto, a lamentável instabilidade dos anos anteriores voltou a rondar a instituição e ainda não há um dia certo para o início das matrículas.
Procurada, a EMB informou que o período de matrículas teria início nessa semana, a partir de quinta-feira. Porém, acrescentou que cabe à Secretaria de Educação a definição do calendário. A secretaria, por meio de assessoria de imprensa, garantiu que as aulas vão acontecer no início do ano. Porém, não definiu nem quando começarão as inscrições e, muito menos, quando ser;ao ministradas aulas.
Nos tempos em que era uma prioridade, o evento já foi considerado o maior da América Latina e o quarto maior do mundo no segmento. Criado pelo maestro Levino de Alcântara, o Civebra tenta resistir em um cenário pouco favorável à cultura local. Ainda não há, segundo a Secretaria de Educação, um orçamento previsto para a realização do evento. Em 2016, o curso que deveria agregar palestras, oficinas e aulas oferecidas por nomes consagrados em todo o mundo em janeiro foi adiado para o fim daquele ano, mas nem assim aconteceu. De 2014 para 2015, o orçamento diminuiu em mais de 10 vezes, caindo de R$ 12 milhões para R$ 1,4 milhão.
Legado
Professor aposentado da Escola de Música de Brasília, o violoncelista Jaime Ernest Dias chegou a Brasília em 1974 e foi aluno da EMB nesse período. Lecionou de 1979 em diante e deu aulas em várias edições do curso, até 2013, quando optou pela aposentadoria. Ele relembra que, a partir desse período, a crise de gestão na escola se intensificou, com problemas que passavam, inclusive, pela falta de reparo nas instalações. ;O nome já diz que é um festival internacional, com procura de pessoas de todo o mundo. Já vi pessoas saírem dos igarapés de Belém de barco para assistir as aulas aqui. Ele funcionou muito bem durante todo esse tempo, com importância vital para a consolidação da música de Brasília;, recorda.Jaime defende que, assim como Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o curso é vital para a história da cidade. ;Ele tem um algo ;mais;, pois é de formação, tem aspecto educacional, além de ser um intercâmbio maravilhoso entre músicos do mundo todo. Infelizmente houve uma crise, que começou no período em que me aposentei;, comenta. Mesmo afastado, Jaime espera que a escola recupere o prestígio do Civebra para que ele volte a ter a dimensão de outrora.
A atual diretora da Escola de Música de Brasília, Edilene Maria Muniz de Abreu assumiu a função em abril do ano passado. Antes, era Ayrton Pisco quem ocupava o cargo e, no mesmo mês, foi afastado por supostas irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) e pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Denúncias de alunos, pais e docentes ampliaram a crise. Má gestão e falhas no sistema de matrícula eram algumas das reclamações. Pisco era diretor da EMB desde 2013 e teve uma gestão turbulenta. Em 2015, ele se desentendeu com 193 dos 220 integrantes do corpo docente da instituição depois de supostamente tentar barrar uma assembleia do Conselho Escolar que votaria um documento pedindo ao governador sua exoneração.
1978
Ano em que o Civebra foi realizado pela primeira vez
"Já vi pessoas saírem dos igarapés de Belém, de barco, para assistir às aulas aqui. O curso funcionou muito bem durante todo esse tempo, com importância vital para a consolidação da música de Brasília"
Jaime Ernest Dias, músico