Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Festival itinerante reúne filmes de cineastas entre 12 e 17 anos

O festival Pequeno Cineasta é dedicado a criar base de linguagem de cinema

Com intensa programação de filmes e uma oficina chamada Claquete ; voltada para dar base de linguagem de cinema para 60 jovens entre 12 e 17 anos ;, o Festival Internacional Pequeno Cineasta Itinerante é apresentado, a partir de hoje, para a capital. Desde que foi criado, em 2010, 350 filmes já foram difundidos na mostra que coloca crianças e jovens com a mão na massa: é deles a produção que circula, representando mais de 30 países. A exibição de 11 curtas das seis edições prévias do evento carioca (e agora, também paulistano e candango) chega como cartões de visitas para o público que terá acesso gratuito aos filmes.

Mesmo com a pouca idade, os candidatos a futuros cineastas demonstram a capacidade de reflexão, em filmes com título autoexplicativo (caso de O palhaço que não conseguia mais sorrir) ou em curtas de conteúdo insuspeito como visto em Viva a revolução, sobre um eterno adolescente de 30 anos, criticado em família e Jogo da velha, protagonizado por uma melancólica senhora em processo de análise.

No conjunto de filmes, por exemplo, há espaço para a percepção da interferência das redes sociais na vida cotidiana (em Desconectado) e para inesperados regimes de exceção, como projeta o curta O portão de chocolate, ao tratar de absurda lei grega que restringe o acesso à iguaria. Com segmento dedicado a fitas internacionais, o festival revela, no caso do curta As memórias do albino louco, curiosas pontes culturais. Um vínculo entre Portugal e Brasil se estabeleceu no filme de animação que reuniu em coletivo jovens lusos que deliraram, criativamente, em torno do passado do músico brasileiro Hermeto Pascoal.

Dividido, na programação, entre filmes realizados por jovens e, noutro grupo, por crianças, o festival trará filmes de entretenimento amplo, como a produção portenha Guerra dos piolhos, na qual uma nave invade o terreno de Piolhonópolis. Visões bem particulares também revestem títulos como Coração de mamão que, feito no Tocantins, trata de uma conquista amorosa pretendida com o uso de uma fruta e A bicicleta (feito na Georgia), vencedor do prêmio dado pelo júri popular da Mostra Internacional Jovem.

Na trama, um rapaz agrupa garrafas para financiar a compra da desejada bicicleta. Outra fita premiada (pelo júri oficial de 2013, na instância carioca) integra a Mostra Nacional Criança: é Quatro estações (de Rafael Valença), em que, em menos de três minutos, traz paralelo entre as fases da mãe natureza e as do amor.


Três perguntas
Daniela Gracindo, curadora da mostra


Os filmes nacionais feitos por crianças diferem muito dos realizados em outras nações?
As linguagens são das mais diversas, bem como os gêneros. Isso num caráter universal. O que mais nos chama a atenção é a qualidade dos trabalhos. A criatividade e a lucidez da juventude traduzidas em filmes que têm enorme potencial.

Quais os três filmes que mais te impressionam?
Butoyi é um filme realizado por 12 meninas adolescentes, que retratam sua dura realidade através de um conto animado onde os seres humanos são representados por animais. A história começa de maneira bem genuína e surpreende demais. Multidão é um outro título, realizado por Jáchym Bouzeck, um jovem da República Tcheca, que por meio de imagens muito poéticas faz uma crítica severa ao sistema educacional em voga. Finalmente, Quarto branco, de João Lucas Pedrosa, um carioca de 17 anos, traz a questão do gênero, um assunto que tem estado muito presente nas discussões e reconstrução de valores da nossa sociedade. Faz de modo a não cair no lugar-comum. Ele nos leva à reflexão muito além dos pensamentos prontos que compramos e que pouco definem atitudes.

A expressão de inocência infantil ainda é um fator fecundo no conjunto de filmes a serem exibidos?

A inocência ainda aparece, mas na sua melhor forma. É fato que os jovens estejam amadurecendo cada vez mais cedo. Na minha opinião, com muito mais sagacidade e personalidade. A democratização ao acesso à cultura que a tecnologia traz para nosso mundo hoje dá oportunidade de o jovem, que está formando suas ideias e conceitos, ter a sua própria visão de mundo. E estou bastante feliz com o que tenho visto!