Diversão e Arte

Bruno Mazzeo aposta na comédia como melhor forma de encarar tempos críticos

Em entrevista ao Correio, o ator também falou sobre a importância do pai na carreira

postado em 17/12/2016 07:30
Em entrevista ao Correio, o ator também falou sobre a importância do pai na carreira
Há tempos, Bruno Mazzeo deixou de ser simplesmente ;o filho de Chico Anysio;. Depois de deixar uma bela marca atrás das câmaras, como redator de programas como A diarista, Bruno partiu para a ignorância e deu a cara a tapa. Estrelou séries de sucesso, a exemplo de A cilada, protagonizou blockbusters nacionais ; Muita calma nessa hora, E aí... Comeu?, entre outros ; e subiu no palco uma porrada de vezes. A primeira vez delas, vale dizer, defendendo um texto próprio, já que não encontrava um ator que pudesse fazê-lo.

Nem por isso, ainda mais importante dizer, Bruno se incomoda de falar do pai. E nem poderia ser diferente: ser filho de Chico Anysio já o tornaria figura relevante. Mas, para sorte dos espectadores, o cara herdou o talento paterno e construiu uma carreira autônoma, que nos brinda com uma das mais inteligentes expressões do humor brasileiro.

Atualmente, Bruno integra o elenco da peça 5 X comédia, em cartaz em Brasília neste fim de semana. Ele divide o palco com Debora Lamm, Fabiula Nascimento, Lucio Mauro Filho e Thalita Carauta, que sustentam a quarta montagem desse espetáculo, que marcou a década de 1990 em três versões anteriores. E ele não deixou de conversar com o Correio.

Entrevista // Bruno Mazzeo

Você teve a oportunidade de conferir versões anteriores de 5 X comédia?
Assisti a uma versão no Canecão.

Também assisti a 5 X comédia no Canecão, que está fechado. Assim como o Teatro Nacional em Brasília. Estamos displicentes com nossos equipamentos culturais?
Não sei se displicentes, não sei os motivos e acredito que nem sejam os mesmos. Mas são duas provas vivas (ou não mais vivas) do quanto não damos a nossa cultura o valor que ela merece. Você deu dois grandes exemplos. Mas outros muitos podem ser acrescentados. No Rio mesmo temos um teatro fechando após o outro. Eu fui algumas vezes ao Teatro Nacional, acompanhando meu pai, e só pelo projeto arquitetônico ser do Niemeyer já deveria ser o suficiente para que ele fosse um expoente eterno. Como já foi e Brasília merece. No Canecão, vivi muitas histórias durante minha juventude. Nesses dois palcos, só estive presente como ;público;. Espero um dia poder estar neles como artista.

Como surge o convite para integrar essa nova versão?
Através de um telefonema de Monique Gardenberg, com quem sempre quis trabalhar.

Alguém mais com quem gostaria de trabalhar e ainda não teve a chance?
Gostaria muito de trabalhar com Woody Allen. E de tocar nos Stones. Mas acho que dificilmente teria tais oportunidades! (risos) No caso dos Stones principalmente, até pelo fato de eu não tocar nenhum instrumento. Aqui no Brasil, tenho tido a sorte de trabalhar com muita gente bacana, sejam atores, autores, diretores; Acho que, aos poucos, tenho a oportunidade de conhecer gente nova, que me instigue e acrescente. A brincadeira é essa.

Você é um redator e autor experiente. Sente-se confortável levando adiante os textos de outros colegas?
Sim. Já fiz isso inúmeras vezes nos últimos 20 anos.

Falando nisso, você começa atrás das câmeras, escrevendo muito bem. Quando entende que poderia também render na frente das câmeras?
Na verdade ainda não entendi não! (risos). Comecei a atuar profissionalmente no teatro. Tinha escrito uma peça ; Enfim nós, que está em cartaz até hoje, há mais de 10 anos ; e não conseguia um ator pra montar. Para ela não parar na gaveta, acabei tentando eu mesmo.

Lamenta essa dependência do palco de patrocínios e editais para que sobreviva?
Claro que lamento. Minha peça anterior, por exemplo, foi 100% bancada do meu bolso, porque não consegui um único patrocínio. Mas tive a sorte de estar num momento de vida em que pude assumir tudo e acreditar que teríamos público para depois me cobrir. Mas isso é raro. Em países como o Brasil ; onde a cultura é tratada como coisa supérflua ; é fundamental que não se deixe o teatro nem as demais formas de culturas populares sumirem. Senão, perdemos nossa identidade. Que é o bem maior de um povo.

Se não fosse por seu saudoso pai, quão diferente teria sido essa trajetória?
Talvez eu não estivesse agora dando essa entrevista. Talvez nem tivesse seguido por esse caminho, porque a influencia dele foi 100%. Sobretudo na coisa de frequentar bastidores e ver como são criados os programas.

Te incomoda o fato de sempre ter uma pergunta sobre Chico Anysio?
Me incomoda mais o fato de as perguntas serem sempre as mesmas. (risos)

Onde foi que me repeti: ao perguntar sobre o quão diferente teria sido sua trajetória ou ao perguntar se lhe incomoda falar sobre ele? Ou nos dois? De qualquer forma, Chico sempre aguça nossa curiosidade... Aliás, o que gostaria de falar sobre seu pai e que não costuma ter oportunidade?
Nem falava da pergunta especificamente. Apenas que repetições de perguntas incomodam mais do que perguntas sobre meu pai. Isso não me incomoda nem um pouco, pelo contrário. Amo falar sobre ele. Falo muito dele e sempre. Uma coisa que nunca falei: por várias vezes pensei em gravar depoimentos dele próprio e de amigos próximos a ele para fazer um dia um documentário. Mas perdi o timming, não gravei. A maioria dos seus amigos também não estão por aqui. Espero que um dia consiga encontrar uma maneira de falar sobre ele de um jeito pelo menos próximo do que ele merece.

O que será que nosso querido Professor Raimundo falaria sobre a situação do país?
Continuaria achando que o salário; Ó;

É necessário uma boa dose de comédia para sobrevivermos a esse quadro político?
Necessário e fundamental. Não só para nos divertirmos um pouco em tempos de ódio, mas porque o humor tem o dever da crítica, a chance de colocar o dedo na ferida e expor à sociedade as nossas mazelas. Não temos o poder de resolver nada, mas o dever de denunciar tudo.

A comédia pode ser uma boa ferramenta de desconstrução de tabus sociais?
De desconstrução de tudo!

Quando a comicidade se torna gratuita?
Varia, porque é uma questão de gosto. No meu gosto, se torna gratuito quando não tem fundo crítico, quando é a piada pela piada;

O teatro ainda é um local sagrado de formação?
É o mais sagrado de todos. E é onde me sinto mais pleno quando estou exercendo meu ofício.
Serviço:
5 X comédia
Com Bruno Mazzeo, Debora Lamm, Fabiula Nascimento, Lucio Mauro Filho e Thalita Carauta. No Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Hoje, às 21h30. Amanhã, às 20h. Ingressos a partir de R$ 25 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 14 anos.

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