Houve tempo em que Noca da Portela vinha com frequência a Brasília para apresentações, principalmente no Feitiço Mineiro. Distante da cidade há alguns anos, ele está de volta para o lançar o CD Homenagens, em show que faz amanhã, na Aruc, no Cruzeiro Velho. ;Estou com muita saudade dos amigos brasilienses, que acompanham minha trajetória. Fiquei feliz da vida com o convite feito pelo Moa (Moacir de Oliveira), presidente da escola afilhada da Portela, para mostrar meu novo trabalho;, diz, entusiasmado, o veterano sambista, de 84 anos.
Com produção e arranjos de Mauro Diniz, Homenagens é o sexto título da discografia de Noca, mineiro de Leopoldina e carioca por adoção e afetividade. O álbum traz 15 faixas inéditas em tom de celebração a pessoas, companheiros de ofício e lugares. ;Convivi, em mais de 60 anos de samba, com pessoas maravilhosas. Fui acolhido com carinho não apenas pelo Rio de Janeiro, onde cheguei ainda na infância, como também por São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e por minha querida Brasília;, conta.
No primeiro verso de Obrigado meu samba, Noca diz: ;Tudo o que a vida me deu/ Eu devo ao samba/ Eu devo ao samba tudo o que a vida me deu;. Ele acrescenta: ;Me ensinou o caminho da sabedoria/ Me deu você meu amor/ Me deu versos para criar essa canção/ Falando das coisas que vêm do coração...;.
Em O dono da jogada, ele mostra-se solidário ao povo brasileiro ao afirmar: ;Vamos pro terreiro/ Fazer batucada/ Traz cavaco, viola, tantan e pandeiro/ É hora do povo brasileiro/ Ser o dono da jogada...;. Na Exaltação ao Rio, que compôs com o imortal Arnaldo Niskier Riko Donileo, Noca canta: ;Rio, o mar de azul profundo/ Nada assim no mundo/ Um povo de muita coragem/ Que louva a sua cultura/Faz da paisagem escultura/ Merece toda nossa homenagem;.
Encontro na Bahia
A inspiração de Noca para compor Maravilhado, com a qual homenageia a Bahia, veio de uma viagem que ele fez a Salvador, há muitos anos. ;Eu ainda era um jovem sambista e ao chegar a Salvador fui ao Mercado Modelo, para participar de uma roda de samba. Lá encontrei Batatinha, Riachão, Tião Motorista, Paulinho Camafeu, que fizeram uma festa para me recepcionar. Foi algo que me deixou comovido;, recorda-se.
Da mesma forma que Maravilhado, o cantor recorreu ao seu baú de lá tirou, por exemplo, Coração vadio, antiga parceria com Nelson Cavaquinho composta ;em meio a um pileque, há 45 anos, em plena Praça Tiradentes ( centro do Rio de Janeiro);.
Já Basta papai foi feito com Dona Ivone Lara, na década de 1970. Outra dama do samba, a partideira Tia Surica, da Portela, foi homenageada com Cabidela. ;Ela faz uma galinha à cabidela como ninguém;, elogia.
Brasília também tem uma história. ;Este samba eu fiz quando a capital completou 20 anos. O Flávio Cavalcante instituiu um concurso em seu programa, cujo tema era Brasília. Disputei com Adelino Moreira, Luis Vieira, Gonzaguinha e César Costa Filho e venci. Tive como parceiro, César Fonseca. Num dos versos, ele registrou: ;Feita de sangue e suor/ Feita de sonho por dentro/ Feita de dor ao redor/ Feita de amor pelo centro/ Feita de sombra e de brilho/ Feita de fome e de pão/ De tudo que é filho no encontro de céu e chão;;.
Noca da Portela
Show do cantor e compositor para lançar o CD Homenagens, amanhã durante a Feijoada do Gavião, na Aruc (Cruzeiro Velho), com a participação do grupo Pessoal do Samba, bateria, intérprete, passistas, mestre-sala e porta-bandeira da escola. Ingresso R$ 30, com direito à feijoada e ao disco. Não recomendado para menores de 14 anos.