Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Exposição no Museu Nacional reúne acervos de galerias independentes do DF

Ondeandaonda II tem participação de 14 galerias da cidade


As galerias independentes de Brasília são excelentes espaços para conhecer a produção atual da arte contemporânea da cidade. Carentes de verbas e com espaços pequenos, elas se organizam como podem, na maioria das vezes com dinheiro do próprio bolso, para não deixar de dar espaço aos artistas contemporâneos. Por isso, a exposição Ondeandaonda II, em cartaz no Museu Nacional da República, pode ser encarada como uma grande celebração da sobrevivência desses espaços e da fertilidade da produção local. No total, 14 galerias participam do projeto com 248 obras criadas, principalmente, por artistas de Brasília.

A segunda edição da mostra traz uma redução no número de galerias ; foram 17 em 2015 ;, mas também uma quantidade maior de obras criadas e produzidas na cidade. ;O mercado se retraiu e o reflexo pode ser essa redução;, avisa Wagner Barja, diretor do museu e idealizador da mostra. ;Podemos arriscar dizer que a exposição é um recorte da produção local. A metodologia é fazer com que as galerias sejam as curadoras escolhendo o material e a gente só dá o tempero e faz as obras dialogarem.;



Além da exposição, fazem parte do projeto um seminário que reúne críticos e representantes do mercado e do terceiro setor. Nomes importantes, como Paulo Herkenhoff, ex-diretor cultural do Museu de Arte do Rio (MAR), Agnaldo Farias, crítico e professor da Universidade de São Paulo (USP), Tereza Arruda, curadora independente responsável por levar artistas brasileiros a exposições no exterior, Marcus Lontra e Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, participam do seminário marcado para hoje e amanhã.

Fazem parte ainda da programação uma oficina de arte e novos mercados com Baixo Ribeiro, curador da galeria paulistana Choque Cultural, e Mariana Martins. Haverá, ainda, uma oficina de roteiro das artes para Brasília. ;Essas galerias que participam da exposição estão se instrumentalizando e algumas não conseguem encontrar verbas de fomento, por isso estamos fazendo essa ponte com o terceiro setor;, explica Barja, que conseguiu apoio do Sesi, Fibra e CNI para viabilizar Ondeandaonda II.

Na exposição, há um pouco de tudo em termos de suportes e linguagens. ;Tem coisas que discutem o interior da linguagem, tem gente que polemiza o próprio espaço do museu e gente que politiza, devido ao contexto atual;, avisa Barja, que comemora os 10 anos do Museu Nacional da República com um público de 7,2 milhões de visitantes.

Interação

Cada galeria convidada ficou livre para escolher no mínimo oito e no máximo 10 artistas para participarem da mostra. Para Gisel Cariconde, da DeCurators, um espaço dedicado exclusivamente a exposições e performances, a experiência é de aprendizado. ;Aprendi muito, mas não sem sofrimento, porque tem vários desejos envolvidos;, conta. ;É uma experiência importante para quem tem espaço de arte. O museu é o espaço de arte mais visitado da cidade e coloca as pessoas que fazem arte aqui juntas. Os grupos são muito fechados e o Barja obriga todos a se misturarem.; Como a DeCurators não é uma galeria comercial e não tem acervo, Gisel convidou artistas que não participaram da última edição do Ondeandaonda, em 2015. São nomes como Oziel, Leopoldo Wolf, Rogério Quintão, Miguel Simão e César Becker.

Oto Reifschneider, idealizador da galeria que leva seu nome, lembra que a autonomia dos espaços para escolher as obras e os artistas da mostra acaba por conferir uma pluralidade à exposição. ;Se a diversidade que cada galeria leva é grande, a da exposição como um todo é ainda maior: desenhos, gravuras, fotografias, pinturas e instalações para se aguçar a vista e trabalhar o pensamento crítico. Além disso, como o Museu da República é uma instituição oficial e de peso, ela confere um reconhecimento da autenticidade do trabalho desempenhado pelas galerias independentes.

;O Museu representa uma espécie de legitimação em relação às galerias que têm feito um trabalho independentes. É uma oportunidade de ver uma exposição ocupada, principalmente, por artistas brasilienses;, diz Dalton Camargos, da Alfinete Galeria. Para o museu, ele leva nomes como Karina Dias, Elder Rocha, Bia Leite, Márcio Mota, Valéria Pena Costa e Ludmila Allves.

Pesquisadora, curadora e crítica de arte, Cinara Barbosa, do Elefante Centro Cultural, enxerga a mostra como uma confirmação de um sistema múltiplo de agentes de arte na cidade. Apesar das dificuldades em manter os espaços, há uma efervescência graças a iniciativas particulares e Ondeandaonda II é uma forma de reconhecer e valorizar essas experiências.

;É a oportunidade de verificar a reunião desse campo, apreciar as obras e conhecer uma parcela dos artistas em um só local. Para os espaços é relevante a divulgação desse trabalho, colocar em circulação os artistas e ter a oportunidade de levar mais público aos espaços onde estão localizados;, acredita. Onice Moraes, da Referência Galeria de Arte, lembra que na última edição da mostra havia várias galerias que ela desconhecia, mesmo trabalhando na área há mais de duas décadas. ;É uma forma de as galerias se inserirem no mercado;, avalia. ;E é importante pela visibilidade: você se integra ao grupo de artistas e galeristas e nas nossas galerias não conseguimos milhares de visitas como no museu.;

Ondeandaonda II
Exposição coletiva de 14 galerias. Visitação até 26 de fevereiro, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República.

Seminário Crítica, Mercado e Terceiro setor
Com Paulo Herkenhoff, Agnaldo Farias, Tereza de Arruda, Marcus Lontra, Eduardo Saron e Solange Lingnau. Hoje e amanhã, de 9h às 18h30. Vagas limitadas.

Oficina Arte e Novos Mercados
Com Baixo Ribeiro e Mariana Martins. Dias 19 e 20 de dezembro. Limite: 50 vagas.

Oficina Roteiro das Artes para Brasília
Com Mirian Rocha e José Carlos. Dias 21 e 22 de dezembro. Limite: 20 vagas.