Larissa Lins
postado em 15/12/2016 07:28
Nascido em Petrolina, no Sertão pernambucano, Zé Manoel temeu por anos o título de cantor romântico. Fez as pazes com o ;estigma; ; a fim de se posicionar além dele ; no recém-lançado Delírio de um romance a céu aberto, disponível nas plataformas de streaming e com chegada às lojas prevista para a segunda metade deste mês. ;Parei de resistir, de brigar com isso. O disco não foi concebido com esse viés, mas percebi (o romantismo) quando estava finalizado;, conta o músico ao Diário de Pernambuco, que distribuiu suas composições entre intérpretes de diferentes gerações da MPB para o novo álbum.
Das 11 faixas de Delírio, apenas três são inéditas: Aconteceu outra vez (gravada com Fafá de Belém), Nós que nos conhecemos num navio (gravada com Amelinha) e a faixa-título, interpretada pelo próprio Zé. ;A ideia era trazer outras vozes para minhas músicas, a maioria delas já registrada por mim. Eu não cantaria nenhuma. Mas surgiu a faixa-título, uma parceria com Vanessa da Mata, quando as 10 músicas previstas para o disco estavam prontas. Inspirada nelas, Vanessa compôs Delírio, e eu cantei;, explica o pernambucano. Elba Ramalho (Sol das lavadeiras) e Ana Carolina (Canção e silêncio) também estão entre as participações especiais, convidadas por Zé e pelos produtores Thiago Marques e DJ Zé Pedro ; criador do selo Joia Moderna, pelo qual o disco é lançado.
Ele planeja show de lançamento (com participação dos artistas convidados) para março do ano que vem, em São Paulo, onde vive há oito meses, debruçado sobre o novo álbum. O terceiro disco de inéditas ; o quarto da carreira ; deve ganhar vida no segundo semestre de 2017. ;Muitas das próximas músicas já estão prontas, nasceram ao piano. Em casa, tenho tocado somente piano elétrico. E quando me sento ao piano acústico, sempre me inspiro e escrevo. Isso acontece com frequência durante passagens de som, antes dos shows. Componho muito dessa forma;, conta o compositor, intérprete e instrumentista, cujo primeiro contato com o piano ocorreu aos 9 anos, ainda na cidade natal.
Três perguntas / Zé Manoel
Há um fio condutor entre as canções? Elas têm um recorte temporal em comum?
Elas foram escolhidas de acordo com os intérpretes convidados. Pensamos em qual música teria mais relação com Fafá, com Elba... As faixas têm sintonia com o universo das pessoas que nós convidamos. E os intérpretes deram sentido a cada palavra. Algumas composições são mais antigas, como Aconteceu outra vez, uma das inéditas. E outras, como a faixa-título, são deste ano. Não há um recorte temporal. Nós listamos as pessoas, as canções, associamos umas às outras, fizemos os convites e entramos em estúdio para gravá-las.
Como começou sua relação com o piano?
Comecei a estudar piano aos 9 anos, em Petrolina, com a professora Lúcia Costa. Em vez de me apresentar somente os compositores europeus clássicos, me apresentou os pianistas brasileiros. Eu já tinha essa inclinação, já apreciava os nomes da MPB. E ela teve sensibilidade para perceber isso e me incentivar. Ernesto Nazaré é uma referência, o pianista que mais me fascinou. Estudei também Chiquinha Gonzaga, Zequinha Abreu. Também me inspirei com o trabalho de Dorival Caymmi, Tom Jobim, sobretudo quando comecei a me aventurar na junção do piano com a música popular.
Como nascem as suas canções?
Não tenho uma metodologia, mas também não tenho um fluxo criativo constante. Tenho parceiros musicais como Juliano Holanda, que compõem em quaisquer circunstâncias, numa conversa, num show, em casa, a todo momento, em todo lugar. Para mim, o processo de criação não é tão recorrente. Vem de formas diferentes, às vezes em situações de estresse, correria. Eu guardo a música, gravo no meu celular e depois desenvolvo com calma. Sempre que toco em piano acústico, eu me inspiro e componho.