Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Exposição sobre afeto reúne 10 artistas contemporâneos brasileiros na Caixa

Mostra tem obras de nomes como Tunga, ANa MIguel e Arhtur Bispo do Rosário

O afeto é o tema de Nós, coletiva com 10 artistas contemporâneos em cartaz na Caixa Cultural. O sentimento, no entanto, nem sempre ganha expressão positiva. Pode-se falar de afeto, nas artes plásticas, de forma muito perturbadora e, eventualmente, até mesmo perversa. Quando a curadora Fernanda Pequeno começou a reunir os trabalhos para a exposição, ela pensou em duas maneiras de encarar o afeto, as duas contidas no título Nós, que pode ser a primeira pessoa do plural ou um emaranhado de ataduras. ;Eu queria fugir de um recorte positivo das relações afetivas;, avisa.

A curadora queria investigar como a arte contemporânea reagiu às mudanças nas relações afetivas em um cenário no qual a tecnologia é onipresente. ;No mundo contemporâneo, as relações se tornaram cada vez mais virtuais e as conexões podem ser desfeitas com certa facilidade. Interessava-me pensar qual o lugar da arte nesse território de relações cada vez mais superficiais;, explica.

Os vínculos entre os artistas e os outros também estavam na mira da curadora. Os afetos, ela aponta, podem fortalecer ou fragilizar o homem. Essa relação ambígua e tensa é interessante para as artes visuais e pode gerar reflexões que ampliam a noção do sentimento. Assim, as obras trazem referências que vão do corpo e da casa à história do Brasil e à sexualidade.

Para navegar por esse universo, Fernanda escolheu obras como Sonho escrito na tinta de Brasil e Notas para Dionísio, de Ana Miguel, Medula, de Tunga, Um minuto por favor e Quaquaraquáquá, de Ana Maria Maiolino. ;Ana Miguel se debruça sobre a história do Brasil. O trabalho tem uma relação com os escritos dos viajantes e o que as narrativas traziam de fantasioso e etnográfico;, explica a curadora. Uma instalação antropofágica apresenta uma grelha com corpos esquartejados prontos para serem devorados, tudo em miniatura, uma característica do trabalho da artista.

Produção
Na obra de Tunga, um vídeo em parceria com o cineasta Eryk Rocha, um casal vai do romantismo à perversão e ao descontrole ao transitar pelo universo fantástico tão comum na produção do artista. De Arthur Bispo do Rosário, a curadora explorou a paixão platônica pela psicanalista Rosângela Maria na Colônia Juliano Moreira. Bispo era paciente psiquiátrico e produziu boa parte de sua obra enquanto estava internado. Nos vídeos de Ana Maria Maiolino, a artista aparece em situações domésticas cotidianas e traz para a galeria o universo rotineiro afetivo da casa.

O trabalho com a memória está na obra de Renato Bezerra, que constrói um vocabulário próprio com bordados e palavras e o registro da performance de Alexandre Sá revela o afeto pelo público da exposição em frase resultante de uma conversa. A diversidade de expressões, suportes e linguagens propõe ao público diferentes maneiras de olhar para um dos sentimentos mais caros ao ser humano.

Nós
Coletiva com 10 artistas contemporâneos. Curadoria: Fernanda Pequeno. Visitação até 26 de fevereiro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural (SBS Quadra 4 Lotes 3/4 (edifício anexo à Matriz da Caixa)