O universo sombrio de Os vivos e os mortos quase não dá descanso ao leitor. Há poucas ; na verdade, duas ; histórias com finais felizes no novo livro de contos de José Rezende Jr., mas nada é premeditado e a tensão narrativa mantém um ritmo do qual é difícil descolar. A narrativa da coletânea de 13 contos é fruto da maneira como o autor enxerga a vida. E esse olhar não é nada ensolarado.
;Acho a vida muito pesada. Mesmo quando está tudo bem comigo, acho a vida pesada pelo que vejo à minha volta, é muito sofrimento. E tem o fato de ser jornalista também, a gente tem um contato mais explícito com essa realidade muito dura, senão para mim, para os que estão em volta;, explica.
E como a literatura dialoga com a vida, Os vivos e os mortos carrega um bocado de histórias tristes. O assassino que, logo após um homicídio, decide ;ser gente de bem;, ;nem que seja à bala;, o menino iniciado sexualmente com uma agressão do tio, os mortos que se esbarram no umbral, Rezende perfila uma coleção de personagens desesperados, frequentemente perdidos. ;E sempre o conto narra um momento crucial na vida dos personagens, um momento de ruptura. Mas não é uma coisa que eu busque, minha escrita é assim;, avisa.
Cotidiano
Em dois momentos, no entanto, o autor faz concessões em contos mais solares, divertidos ou com final mais leve. Rezende ficou em dúvida se deixava as duas narrativas ; uma sobre um trabalhador cuja vida sexual aprimorada graças à iniciativa da mulher traz um pouco mais de graça para um cotidiano puxado e outra sobre uma fantasia feminina ;, teve medo de que quebrassem a unidade do livro. No entanto, os dois contos contribuem para uma quebra na sequência de histórias tristes. ;É bom porque dá um refresco para o leitor;, acredita.
O autor garante que seus finais infelizes, na maioria das vezes contundentes e sempre muito bem estruturados, não são premeditados nem milimetricamente planejados. Acontecem naturalmente, como um destino evidente do personagem.
De dois gurus, Rezende herdou conselhos que sempre coloca em prática. O gaúcho Moacyr Scliar ensinou que o conto deve ser preciso, cortante. ;Ele dizia que a boa literatura tem que vir das vísceras;, lembra o escritor, mineiro de Aymorés e radicado em Brasília desde 1987. Do conterrâneo Luiz Vilela, ele carrega uma explicação sobre finais infelizes. ;Uma vez perguntei a ele por que escritor não gosta de finais felizes;, conta. ;Ele disse que porque, com o final feliz, as pessoas relaxam e acham que está tudo bem. O final triste leva a pessoa a refletir mais.;
E sempre o conto narra um momento crucial na vida dos personagens, um momento de ruptura. Mas não é uma coisa que eu busque, minha escrita é assim;
José Rezende Jr., jornalista e escritor
Os vivos e os mortos
De José Rezende Jr. 7Letras,98 páginas. Preço: R$ 30. Lançamento hoje, às 19h30, no Academia Café (SCLN 201, Bloco A, Loja 67). Pocket show com Thais Siqueira e Guilherme Carvalho e leitura dramática dos contos com Lyvian Sena