Quantos negros são protagonistas de um filme? Quantos deles são diretores, produtores e roteiristas? As respostas para esses questionamentos costumam ter números baixos em relação à presença branca. Em busca de aumentar essa representatividade, os jovens Marcus Azevedo e Bruno Victor, estudantes de audiovisual da Universidade de Brasília (UnB), decidiram criar o doc-ficção Afronte. ;Pensamos muito sobre a representatividade no cinema, que é praticamente nenhuma. A gente sempre viu uma não representação, ou uma má representação do negro. Não só no cinema, mas na tevê, na política, em todos os âmbitos... Estamos mal representados;, conta Bruno ao Correio.
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[SAIBAMAIS]Durante três meses, a dupla pesquisou personagens que morassem tanto no Plano Piloto quanto na periferia do Distrito Federal, para que eles contassem as histórias do Afronte. O foco eram jovens, negros e gays. ;Vamos pegar os depoimentos de fato de cada um ano. Mas no enredo do filme teremos um personagem principal que vai ilustrar alguns acontecimentos que foram vivenciados por uma pessoa real. Por isso chamamos o Afronte de doc-ficção, por ter as duas linguagens;, explica.
O filme é o trabalho de conclusão de curso da dupla, as gravações terão início em novembro, principalmente, pelo fato do período ser marcado pelo Mês da Consciência Negra, e o documentário deve ficar pronto até abril de 2017. Para conseguir fazer a produção, a dupla fez uma benfeitoria em que pretende atingir quatro metas: R$ 3 mil, para pagar alimentação e transporte da equipe; R$ 6 mil, com objetivo de melhorar a direção de arte; R$ 10 mil, para o aluguel de equipamentos de filmagem; e R$ 15 mil, para finalização do filme. As ajudas variam de R$ 15 a R$ 3 mil, garantindo recompensas como postais ilustrados e podem ser feitas até 2 de dezembro pela internet.
Panorama
Segundo Bruno, a escolha das gravações no Mês da Consciência Negra não foram coincidência. ;Foi a nossa intenção. É um período de resistência, um supersímbolo;, afirma o jovem. Para ele, o filme dialoga bastante com o período, por ser independente e representar essa parcela da população negra.
Sobre o atual panorama do cinema negro, o estudante acredita que ainda há muito a ser feito. ;Está engatinhando, mas falta muito. São muitos anos de imagem denegrida. É preciso ter uma força muito maior para romper barreiras, por conta do conservadorismo;, analisa. Bruno Victor acha que a presença dos negros ainda é pequena no âmbito mais comercial do audiovisual e mesmo, quando há, ele considera pouco marcante. Mas no cenário independente, Bruno Victor cita o brasiliense Das raízes às pontas (de Flora Egécia), premiado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, sobre a valorização do cabelo afro, e o filme Favela gay, do Canal Brasil, que trata de temas como homofobia e preconceito.
Para ajudar
Até 2 de dezembro pelo site https://benfeitoria.com/projetoafronte. Valores para doação
R$ 15 (visibilidade), R$ 40 (postais ilustrados), R$ 70 (memorial Afronte), R$ 100 (colagem Afronte), R$ 300 (combo libertino), R$ 500 (Afronte em fine art), R$ 1.000 (combo Afronte) e R$ 3.000 (combo É o poder).