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Em 10 de outubro de 1998, a banda Móveis Coloniais de Acaju subia ao palco pela primeira vez. O show na Embaixada de Venezuela reuniu um bocado de gente. Difícil precisar quantas pessoas, mas sabe-se que era um número considerável para aquela que, 18 anos depois, se tornaria uma das mais relevantes formações musicais de Brasília. A mistura curiosa de rock, ska e ritmos brasileiros entusiasmou o público, que, a partir dali, se tornou o 11; integrante da big band.
Um sonho surreal a celebração da mobilidade movida por música e coração foram pautados por altos e baixos, que eles abraçam como parte do legado do grupo. Do show no Rock in Rio ao ônibus atolado na estrada. Das turnês internacionais à apresentação que só começou às 7h, depois de uma madrugada insone. Do bem-sucedido festival Móveis Convida ao assalto ao ônibus da banda em uma estrada goiana. O Móveis, definitivamente, era uma família. Como tal, sempre agiu pautado por emoções. Essa ligação afetiva se estendeu ao público brasiliense, que abraçou o grupo. Crescemos com eles.
Há pouco mais de uma semana, o grupo anunciou que pararia as atividades por tempo indeterminado. Um eufemismo para anunciar o fim repentino, que pegou desprevenidos os fãs da cidade. Nas redes sociais, a mobilização espontânea chocou os integrantes. ;A enxurrada de mensagens nos mostrou uma dimensão da banda que não tínhamos;, comenta Fabio Pedroza. Embora reconhecessem a grandiosidade do trabalho consolidado ao longo dos quase 20 anos de estrada, tornando-os uma instituição candanga, os músicos deram ouvidos a uma inquietude quase silenciosa que apontava: haviam problemas a se resolver.
De lá até aqui
De alguns anos para cá, os nove integrantes notaram que a dedicação aos projetos solo estava aumentando. Reunidos pela equipe do Correio, cinco deles concordaram ao apontar o respeito à individualidade como fator crucial para que decidissem parar. ;Cada um teve seu motivo particular. Não pensamos em algo tipo ;não estamos bem;. Foi uma decisão gradual, nada repentina;, comenta Paulo Rogério.
;Algumas coisas que deveriam ser resolvidas não foram. Decidimos parar, e evitar desgastes. Vínhamos em uma crescente das nossas outras ações culturais, que começaram a fazer mais sentido;, comenta Esdras Nogueira. ;Foi uma decisão tomada antes que algo explodisse ou implodisse;, emenda Fábio Pedroza. ;Uma das razões para entrar na banda foi ver um grupo da minha geração ter êxito. Acho que conseguimos;, comemora Fabrício Ofuji.
Amor é tradução
O público, espalhado pelos quatro cantos do país, concorda com Ofuji. Ainda descontentes com o anúncio inesperado, nomes como a gaúcha Fabiane Rizzardo guarda boas lembranças, como a de usar frases divertidas das composições em diálogos, em dialeto próprio em que os fãs se entendem. ;;Muito prazer, eu sou você amanhã; e nos tornamos fiéis ;cupins;. Acompanhamos todos os shows possíveis, foram muitas ;rodacapabanas; de lavar a alma. As músicas embalaram vários dos meus melhores momentos e a banda também se fez presente no dia do meu casamento, com mensagem de dois integrantes gravada para nós. Só posso desejar que a atmosfera alto-astral do Móveis seja eterna;, afirma.
;O que me encanta neles é a leveza e a profundidade ao mesmo tempo. Sempre tratando o público como parte e não à parte. Meu coração está partido e dói mesmo, mas ;verdade não me traz solidão. O amor vem sempre junto;, acrescenta a brasiliense Mariana Zurc. O paulista Henrique da Gama Fernandes não perdia nenhum show do Móveis na cidade cinza. ;Fiquei amigo de alguns dos componentes da banda e aprendi quase todas as letras em pouco tempo. A música deles é contagiante, a alternância entre o ritmo frenético e a calmaria, acompanhado de todos os instrumentos e a voz inconfundível do André, além do carisma e respeito ao publico de todos os integrantes, fez com que eles se tornassem, pelo menos pra mim, a melhor banda brasileira de todos os tempos;, defende.
A brasiliense Marina Sousa Silva esteve na primeira apresentação, em 1998, um marco na história do quadrado. ;Só quem foi em algum sabe o que é aquele mundo paralelo onde o amor é lei e a alegria transborda. Só tenho que agradecer tudo que a gente dividiu em todos esses anos. Sem dúvida, o coração vai apertar ao pensar nessa ;pausa; mas a felicidade reinará ao ouvir e me lembrar de todos os momentos inesquecíveis;. O clichê, nesse caso, é compreensível. Mal acabou e o Móveis já deixa saudade.
Pra manter ou mudar
Os fãs de um dos mais longevos grupos brasilienses não ficarão órfãos. A maior parte dos antigos integrantes continuarão trabalhando com música. Conheça os projetos que, agora, serão tocados pelos integrantes do Móveis Coloniais de Acaju.
Anderson Nigro, baterista
Sempre envolvido com musicais e tributos, que permanecerá fazendo, Nigro abriu a Panderolê, uma escola de musicalização infantil, com objetivo de proporcionar experiências musicais a crianças de 0 a 8 anos. Esteve envolvido no projeto solo de Beto Mejía e, em 2017, lançará seu segundo álbum solo, Nigro. Também está no Tras Z Unte.
André Gonzales, vocalista
Além das atividades como designer (ele é formado em desenho industrial e divulga projetos em www.andregonzales.com.br), comanda o Sr. Gonzales Serenata Orquestra, um baile e uma radionovela voltados a pessoas com mais de 60 anos. Em 2014, organizará um festival de videoclipes produzidos por bandas da cidade.
Beto Mejía, flautista
Morando no Rio de Janeiro, o músico se dedicará a sua carreira solo, com a produção do disco intitulado Wahyoob. O álbum tem previsão de lançamento em novembro deste ano. Também está envolvido com um projeto, que consiste de um livro e um disco infantil sob o nome de Funky e Maia, onde o infinito é som, que deve ser lançado em 2017.
Fabrício Ofuji, produção
Além de dar sequência a um doutorado na área cultural, recebeu convites, que está estudando, para produzir novas bandas da cidade. O objetivo? Ver grupos da sua geração marcando, modificando e edificando a cena local.
Esdras Nogueira, sax barítono
É parceiro de André no Sr. Gonzales Serenata Orquestra. Também toca com a banda Consuelo, e, agora, se dedicará com mais afinco à carreira solo. Dois discos já foram lançados, sendo Na barriguda o mais recente deles. Paralelamente, continua com o Coma lá em casa, que é um site de receitas, e também promove jantares intimistas e eventos ao ar livre.
Fábio Pedroza, baixista
O décimo ano do festival Móveis Convida foi de responsabilidade do músico, que, desde o começo do ano, assumiu a produção por completo do evento. Outras iniciativas são o Vai Thé Chá, casa de chás itinerantes, a incubadora de bandas independentes Circula e a produtora cultural NTCA, que responde, entre outros eventos, pela festa Afete-se. Para encerrar, prossegue com aulas de produção cultural na UnB.
Eduardo Borém, gaitista e tecladista
Mora em São Paulo e, desde então, trabalha com música, design de mobiliário, design de interiores, artes plásticas, poesia e fotografia. O mais recente lançamento foi feito na Semana do Design em SP, o trabalho transmídia Caco abismo (disponível em www.eduardoborem.com.br), que se constitui na criação de uma mesa de centro, série fotográfica abstrata, instalações-objetos artísticos, poema e música.
Fernando Jatobá, guitarrista
Está em outro grupo chamado Brown-Há, que lançará o primeiro disco em breve. O músico gravou e mixou a produção, além disso abriu um estúdio de gravação JatoBeats, na Asa Norte. Também está atuando como guitarrista e compositor do cantor Dillo D;Araújo e ainda acompanha Gonzales no projeto Sr. Gonzales Serenata Orquestra como guitarrista e arranjador das músicas.
Paulo Rogério, sax-tenor
Desde 2015, o músico tocava em paralelo com o Duo Salimanga, dupla instrumental, à qual dedicará, agora, boa parte do tempo. A ideia é lançar um EP até 2017. Outra banda em que Paulo continua em ação é o Distintos Filhos. Ele também produz o artista baiano O Liberato. Assim como outros do grupo, continuará a trabalhar com os amigos do Móveis, como Anderson Nigro, com quem dá aulas na Panderolê.