Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Pato Donald ganha reedição no Brasil

As histórias escritas por Carl Barks, criador do personagem, chega ao país em HQ com 240 páginas

É comum associar personagens da Walt Disney ao criador do estúdio que virou império de entretenimento. Mas algumas figuras famosas, como Tio Patinhas, Professor Pardal, Gastão, Escoteiros Mirins, Maga Patolójika e Irmãos Metralhas, foram imaginados por alguém de nome bem menos conhecido: Carl Barks (1901-2000). Apelidado de Homem dos Patos, o roteirista e desenhista norte-americano foi responsável por histórias clássicas dos habitantes de Patópolis, publicadas entre 1942 e 1966, material que ganha reedição especial no Brasil em coleção iniciada por Pato Donald: Perdidos nos Andes (Abril, 240 páginas, R$ 59,90), já disponível em bancas e livrarias.

O apelido não é sem motivo: das mãos e mente dele saíram mais de 6 mil páginas de HQs, a maior parte delas povoadas por Donald, Patinhas, Huguinho, Zezinho, Luizinho e outros patos da Disney. Mickey, Pateta e Minnie foram representados por ele nos quadrinhos uma única vez, em história curta publicada no ano de 1945. A extensa e competente produção, nos roteiros e traços, faz de Barks um dos grandes nomes da nona arte.

E mesmo não leitores de quadrinhos já entraram em contato com a obra de Barks. DuckTales, famoso desenho animado produzido entre 1987 e 1990 com aventuras do Tio Patinhas, teve vários episódios baseados nos roteiros quadrinizados por ele.

A considerável obscuridade sobre Carl Barks vem da política do estúdio, à época, de não creditar os artistas pelos trabalhos. Até a aposentadoria, o desenhista e roteirista trabalhou no anonimato, já que todos os quadrinhos vinham com a assinatura de Walt Disney. É um caso similar ao que ocorria até recentemente com os gibis da Turma da Mônica. As HQs estreladas pela baixinha dentuça e seus amigos tinham apenas o nome de Mauricio de Sousa: só a partir de 2015 que os artistas passaram a receber créditos pelo trabalho.

Os leitores de Barks, no entanto, reconheciam o estilo inconfundível do Homem dos Patos. A revista Walt Disney;s comics and stories tinha como grande atrativo as histórias dele e, em 1953, chegou a superar a marca de 3 milhões de exemplares vendidos. Ainda no final dos anos 1950, fãs de dispuseram a buscar a identidade do autor e, na década seguinte, o nome começou a ficar popular entre colecionadores de quadrinhos. A partir de 1980, começaram a ser publicadas, nos Estados Unidos, coletâneas de HQs já devidamente creditadas a ao autor.

Em 1966, justamente quando começava a gozar de alguma popularidade, Barks se aposentou, alegando esgotamento criativo. A partir dessa época, o artista se dedicou sobretudo a pintar telas a óleo com os patos da Disney e, esporadicamente, escreveu roteiros para outros autores. A última colaboração com o universo de Donald e companhia foi em 1994, aos 93 anos, quando escreveu a sinopse de uma aventura do Tio Patinhas ilustrada pelo desenhista Willian Van Horn.

Para o autor, as HQs eram ;peças de teatro exibidas sobre um palco que os leitores seguram em suas mãos. É uma encenação;. Ainda segundo o quadrinista, o segredo para desenvolver boas páginas era trabalhar como se fosse um diretor teatral. ;Você tem de atuar como se estivesse dirigindo uma peça. Você convoca os atores e diz a eles exatamente o que fazer, tudo precisa estar sincronizado;, disse. Além do paralelo com as artes cênicas, também cabe comparação com o cinema, já que outro ponto forte da arte barkesiana está justamente na fluidez da narrativa.

;As histórias de Carl Barks têm movimento cinematográfico. Elas fluem em tomadas ininterruptas, às vezes de muitas páginas, que conduzem a outras tomadas, como um filme;, chegou a afirmar o cineasta George Lucas. O criador de Star wars, junto com Steven Spielberg, se inspirou em uma das sequências ilustradas por Barks para criar a famosa cena de Indiana Jones fugindo de uma bola de pedra em Os caçadores da arca perdida.

Fidelidade
A série de livros que a Abril começou a publicar é a versão nacional de coleção norte-americana organizada pela Fantagraphics, que iniciou em 2011 o projeto de republicar toda a produção de Carl Barks para a Disney. Até agora, 12 dos 30 álbuns previstos já foram publicados nos EUA. No Brasil, já estão programados os lançamentos de mais dois volumes, um este mês e outro em dezembro, ambos com histórias protagonizadas pelo Pato Donald.

As criações



Tio Patinhas

Tio Patinhas (Uncle Scrooge no original) foi criado em 1947, com inspiração no Ebenezer Scrooge, personagem principal do Conto de natal, de Charles Dickens. O personagem apareceu na história Natal nas montanhas, retratado como um velho recluso que decide convidar o sobrinho Donald e os sobrinhos-netos Huguinho, Zezinho e Luisinho para passar a noite natalina em uma cabana nas montanhas. A ideia inicial seria para aparição única, mas Barks acabou se afeiçoando ao pato sovina e foi retocando a aparência e personalidade da criação.


Gastão
O ganso mais sortudo de Patópolis (Gladstone Gander, em inglês) foi pensado como antagonista para Donald, já que o primo Gastão compete para ser herdeiro da fortuna de Tio Patinhas e rivaliza também na conquista pelo amor de Margarida. A estreia foi em 1948, durante um dos períodos mais criativamente produtivos de Barks.

Professor Pardal
Apesar do nome (Gyro Gearloose), não é um pardal. A espécie da ave nunca chegou a ser definida nas histórias, mas Barks revelou que o inventivo Professor Pardal é, na verdade, um galo. O personagem surgiu em 1952, sendo retratado como o maior inventor de Patópolis, apesar de frequentemente ter as invenções envolvidas em trapalhadas.