Vinte anos depois de pagar pela publicação de Os sete para tentar o sonho de ser escritor, André Vianco tornou-se um dos maiores fenômenos da literatura brasileira e um dos principais vendedores de livros no país. A história de Os sete narra a descoberta de uma caravela portuguesa repleta de vampiros no Brasil. Fazendo ficção fantástica ambientada no próprio país com vampiros e outras criaturas, Vianco se firmou como autor e segue conquistando fãs. Agora, ele relança o primeiro livro na editora Aleph, em situação bem diferente da de duas décadas atrás. Mais 10 livros do escritor serão reeditados pela renomada casa.
Em conversa com o Correio, Vianco fala sobre a literatura brasileira, os preconceitos com a fantasia no país, o processo de escrita de seus romances, as conquistas na carreira e o que falta para o país se consolidar como grande mercado de livros.
O que representa para você ver Os sete, lançado inicialmente de maneira independente, ser relançado agora com uma editora do porte da Aleph?
Vejo a continuidade desta aposta se renovar, a parceria com os leitores se oxigenar pelas mãos de uma editora que acredita nos fãs da literatura, não só nos leitores.
Seus livros, diferentemente de muitas outras obras do gênero, trazem um cenário fantástico ambientado no Brasil. Por que essa decisão?
Sempre acreditei que a fantasia também podia acontecer no Brasil. Cresci lendo Monteiro Lobato, Turma da Mônica, Ziraldo. Por que não deixar os cenários explodirem aqui no Brasil?
Ainda existe preconceito contra literatura produzida como forma de entretenimento? Você vê sua obra como pensada para isso?
Existe uma parcela pequena de preconceito, mas ele existe, sim. Sim, minha obra é pensada para entreter, para enredar o leitor. Sou filhote do folhetim.
Em algum momento, você acredita que escritores de fantasia serão colocados no mesmo patamar de escritores de outros gêneros?
Sim, mas os escritores de fantasia já conquistaram reconhecimento. E esse reconhecimento sempre vem depois de você criar uma obra relevante, então, antes de tudo é preciso escrever e escrever muito para almejar algum destaque. Para ser escritor no Brasil é preciso ser persistente e apaixonado.
Não há dúvidas de que você é um sucesso estrondoso de público. Muitas vezes, porém, é deixado de lado pela crítica mais tradicional. Isso te incomoda?
Não me incomoda. Como eu disse, o reconhecimento costuma vir depois. Ainda sou um autor que está formando a sua obra. Minha profissão é escrever e pagar minhas contas de casa com o que eu escrevo. Não me sobra muito tempo para ficar choramingando sobre o porquê da crítica literária tradicional não ter descoberto meus livros.
Durante o seu processo de escrita, existe alguma influência externa na sua produção? Você se preocupa com o que vai agradar ou não o leitor?
Não me preocupo demais com o leitor quando estou escrevendo. Quando estou imaginando a história eu penso, ;caramba! a galera vai pirar com isso!” Depois é arregaçar as mangas e trabalhar.
O que falta para o mercado se consolidar ainda mais no Brasil?
Mais trabalho, mais livros saindo, mais leitores lendo e comprando literatura. Mais paciência dos escritores que querem ver fama e noites de autógrafos lotadas no primeiro livro. Essa carreira se forma um livro de cada vez.
O que influenciou sua obra quando começou a escrever? Hoje, depois de tanto tempo, ainda há algo que te influencie?
O sombrio sempre foi uma forte influência sobre minha carreira. Essa indagação sobre o depois do nosso crepúsculo é permanente. Acho que amadurecer influencia bastante e todos os dias.
O que você lê atualmente?
O de sempre, leio de tudo. Leio autores do mundo todo e tenho lido bastante teoria também.
Depois de 20 anos da publicação de Os sete, de colocar sua grana na vontade de ser escritor, olhando pra trás, considera que valeu a pena?
Sim. Sem dúvida.
Em algum momento, o público pode ser surpreendido com você escrevendo outros gêneros ou com um estilo muito distinto?
Eu tenho uma porção de ideias e nem sempre elas transitam na minha zona de conforto, então uma hora ou outra eu vou aparecer com livros bem diferentes dos que já escrevi até aqui. É um desafio interessante para mim, narrar coisas diferentes.
Você também escreveu para outras mídias, como a tevê, o que muda quando o formato é outro?
Muda muita coisa. Escrever romances é uma arte solitária. Você e o processador de textos. Já escrever para audiovisual é bem diferente. Além da linguagem, mudam também as necessidades. Roteiros são peças muito mais técnicas do que artísticas, é um grande barato. E você escreve para uma equipe, não escreve só para você.
A literatura brasileira, em geral, se leva a sério demais?
Penso que sim. Não é para tudo isso.
Dá para alcançar um meio termo? Ter qualidade e não ser chato?
Claro que dá, é preciso ter imaginação e disposição. Essa divisão é um grande bobeira. Escritores têm que escrever, contar suas histórias, externar suas vísceras, só isso. O leitor vai fruir do nosso apanhado de letrinhas e se se conectarem com as palavras que juntamos, missão cumprida.