Diversão e Arte

Retomada: novos artistas e bandas revitalizam o rock candango

O grupo Joe Silhueta é exemplo de uma nova geração de músicos que podem trazer de volta o título de capital do rock

Rebeca Oliveira
postado em 07/09/2016 07:01

Guilherme Cobelo:  projeto Joe Silhueta é um entre vários representantes da efervescente cena local

O rock brasiliense pulsa. Na contramão de quem pensa que ele foi sepultado com os grandes ícones que marcaram gerações ; de Paralamas do Sucesso ao Legião Urbana, dos Raimundos ao Móveis Coloniais de Acaju ; novos artistas mantém viva a tradição que, há três décadas, transformou Brasília na capital nacional do estilo. A banda Joe Silhueta surge como exemplo dessa nova onda que tem por norte o experimentalismo sonoro, com influências que vão da psicodelia a surf music.

Guilherme Cobelo (voz/violão), Kelton Gomes (baixo/voz), Gaivota Naves (voz), Carlos Beleza (guitarra), Tarso Jones (teclado), Márlon Tugdual (bateria), Lucas Sombrio (sanfona/clarineta) e Thiago Delimacruz (percussão) integram a banda. A sonoridade mora em um lugar indefinido do rock, entre o clássico e o progressivo, mas com nítida influência do folk norte-americano e até do brasileiríssimo baião. Composições com forte carga literária são marca do grupo, que começou como um alterego musical do vocalista. Brasiliense, Cobelo e a mulher, Tâmara Habka (que produz a Joe Silhueta), têm relação antiga com a literatura ; é deles o sebo Dom Caixote, que comercializa livros antigos em caixotes durante eventos da cidade.
[VIDEO1] No começo do mês, a banda lançou o primeiro clipe. Com imagens melancólicas e toque vintage, Não ligue o rádio foi dirigido pelo cineasta André Miranda. O EP, divulgado meses antes, tem na capa imagem do desenhista Gabriel Mesquita. Ambos talentos brasilienses. Esse entrelaçamento entre artistas da cena musical com os de outras esferas é que torna ainda mais interessante a boa repercussão da banda, que divide palcos com outros nomes que também merecem apreço. ;É uma questão inevitável. Vivemos em bando. Quando vamos pensar nossas produções, escolhemos quem compartilha nossos símbolos, significados e gostos;, conta Guilherme.
[SAIBAMAIS]
A reunião ficou conhecida como Movimento Grogue, como é chamado o encontro criativo que movimenta a nova música brasiliense. ;Tudo começou em 2009, quando houve uma junção de bandas como a Rios Voadores, Korina, Vintage Vantage, e se intensificou agora, com a criação da Sala Fumarte, um estúdio onde estamos fazendo nossas gravações, e o selo Martelo;, explica Cobelo.

Incansáveis, Guilherme e outros jovens músicos permitem que Brasília reviva, ainda que timidamente, os anos de ouro quando o assunto era o bom, velho e destemido rock;n;roll. Ele, por exemplo, divide os vocais com Gaivota Naves, rosto conhecido pelas performances viscerais à frente da banda Rios Voadores. Nos teclados, Tarso Jones também é vista na Rios, além de Kelton Gomes, que faz um bonito trabalho solo na cidade. O baterista Márlon Tugdual é outro que bate ponto em outro grupo: ele toca na Almirante Shiva. Essa teia se repete em outras bandas.

Programe-se
Nessa quarta, a Joe Silhueta é atrações na mostra de cinema Capital na Tela, no CCBB, evento com produções cinematográficas inteiramente filmadas na cidade. Três dias depois, são convidados do Móveis Convida, no Complexo Cultural Dulcina, no Conic. Mais para frente, também integrarão line-up do Satélite 061, na Torre de TV, e no Porão do Rock, no estacionamento do Estádio Nacional Mané Garrincha.

Que a agenda cheia, esperam eles, seja uma realidade constante na capital, ainda marcada pela controversa Lei do Silêncio (lei número 4.092/08). ;Essa quantidade de eventos foi surpreendente. São festivais com certa tradição, como o Móveis Convida, que faz 10 anos, e o Satélite, realizado há cinco anos. Espero que dê uma agitada no cenário. Que aumente o número de casas noturnas e espaços para tocar, já que a Lei tem tido, justamente, um efeito contrário;, sugere o músico. A ideia é repetir, em Brasília, o boom musical que tomou conta dos vizinhos goianos há algum tempo. ;Goiânia ganhou luz por conta do Boogarins e da Carne Doce, e nosso quadrado ficou esquecido. Mas está havendo uma onda nova de produtividade;, avalia. O público, maior beneficiado, aplaude e os agradece.

SERVIÇO

Dylanescas
Primeiro EP da banda Joe Silhueta. Miniestéreo da Contracultura, 5 faixas. Download gratuito.

Preste atenção / Outras bandas de destaque na cidade

Rios Voadores
Rita Lee, Mutantes e Secos e Molhados figuram entre as referências da banda, que explodiu em 2014, impulsionados, em grande parte, pela figura transcendental da vocalista Gaivota Naves. Marcelo Moura (vocal e guitarra), Tarso Jones (teclado e vocal), Hélio Miranda (bateria) e Roberto Ramos (baixo) completam o time, que está em estúdio mixando o primeiro ; e muito aguardado ; álbum.

Consuelo
Além da vocalista que dá nome ao grupo, a banda é composta por Vavá Afiouni (baixo), João Ferreira (violão), Thiago Cunha (bateria) e Esdras Nogueira (sax e flauta), conhecido pelo trabalho com o Móveis Coloniais de Acaju, além da carreira solo. Folk, rock e ritmos latinos se encontram nas canções da banda de originalidade e sensibilidade ímpar.

Vintage Vantage
Também instrumental, o trio composto por Gabriela Ila (piano), Lucas Pacífico (guitarra) e Renan Magão (bateria) esbarra na psicodelia setentista, evidenciada no EP Neblina, lançado em junho.

Almirante Shiva
Psicodelia também é a alma do trio de Pedro Souto (baixo, guitarra e vocal), Márlon Tugdual (bateria e vocal) e Carlos Beleza (guitarra, baixo e vocal). O EP Foco, lançado pelo selo Martelo, foi gravado na sala Funarte, a mesma de onde saiu o disco da Joe Silhueta.

Muntchako
Formada por Samuel Mota (guitarra, programações e synths), Rodrigo Barata (bateria e samplers) e Macaxeira Acioli (percussão e samplers), a banda ultrapassou as fronteiras brasilienses e, hoje, leva divertido som, que vai do afrobeat ao ska, por todo o país.

Lista de Lily
Além do experimentalismo que marca a produção sonora do grupo capitaneado por Israel Lara (ou Tynkato), o grupo chacoalha a cena local com o Vai Tomar no Cover, evento que serve como palco amplificar para novas (e autorais) bandas da cidade.

Os gatunos
Não se deixe enganar pela performance bem-humorada do trio de Felipe Rodríguez (baixo), Marcelo Melo (bateria) e Fabrício Paçoca (guitarra). A surf music instrumental com interpretação fora do óbvio ; marcada pela influência de ritmos latinos e sonoridade vintage ; é coisa séria e vale ser ouvida.

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