Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Criado há três décadas, axé passa por reformulação

Artistas como Wado e BaianaSystem reiventam o estilo baiano

A axé music entrou no divã. Depois de três décadas de existência o gênero batizado, em 1985, pelo jornalista Hagamenon Brito, busca se reinventar. Muito se comentou sobre uma possível crise criativa e como seria o futuro da axé music, rechaçada por muitos que a classificam como musicalmente inferior, quando comparada a outros estilos. Mas o ressurgimento está aí. Artistas como Wado, até então frequentador da cena indie nacional, decidiram levar o gênero a outro patamar, despindo-se de qualquer preconceito. A música, então, renasceu. E bem longe da imagem do carnaval e dos multicoloridos abadás.

No disco Ivete (clara menção à estrela baiana), o catarinense radicado em Alagoas esmiúça a primeira fase da axé music, quando dominava as rádios exaustivamente, e que permeou grande parte da infância do cantor. ;Nessa época, eles eram mais malucos e políticos. Cantavam sobre a luta social de classes com força percussiva;, relembra. O disco tem uma ponte com Atlântico Negro, álbum de 2009. Como elo, ambos reverenciam a brasilidade. ;No Rio de Janeiro, a música africana vira samba. No Nordeste, axé. Mas o nome remete a ritmos ancestrais dessa diáspora africana. São matizes que compõem o DNA do Brasil. Não fiz piada com o gênero. Gosto de tocar e danço com tesão, me esquenta o sangue;, resume.

O axé ;com conteúdo; de Margareth Menezes e Carlinhos Brown é o que mais lhe apetece. Isso fica evidente na força das letras, que trazem problemas sociais latentes, como a questão evocada por Brown em composição para o Timbalada e regravada pelo cantor: em Terra Antiga, Wado repete os famosos versos de Jesus é palestino, que dizem que ;Jesus desde menino é palestino, ralé;. Uma forma de confrontar a tensa situação do Oriente Médio. ;Brown é um cara muito político. Já o vi peitar muitas situações na Bahia. Em 2009, fiz uma música chamada Cordão de isolamento, baseada em um depoimento dele dizendo que as cordas dos blocos eram um apartheid social, uma vergonha dentro do carnaval da Bahia. Por isso, falo que os nossos punks andam muito emo, os punks mesmo estão no axé. Eles tocam em feridas ancestrais que não cessam;, avalia.

A segunda fase do gênero, marcada por artistas que fizeram sucesso nos anos 1990, também aparece em Ivete, ainda que de maneira discreta. Na regravação de Um passo a frente, ele diz, brincando, que joga Moreno Veloso, ;no meio de um show do Asa de Águia;. Moreno é filho de Caetano e compositor da música junto a Quito Ribeiro. ;O axé é um ritmo muito jovem para sofrer preconceito. A banda Cê, do Caetano, às vezes, faz umas coisas que são axé, apesar de, à primeira vista, parecer rock. A Ivete Sangalo, por exemplo, tem momentos na carreira irretocáveis, como as parcerias com Lulu Santos e Maria Bethânia no DVD Pode entrar;, conta.

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