Em cartaz na Caixa Cultural, a exposição da segunda edição do prêmio Transborda Brasília funciona como um pequeno mapeamento da produção em artes visuais no Distrito Federal. Entre os 20 selecionados por um júri formado por Fernanda Lopes, Agnaldo Farias, Marília Panitz, Divino Sobral e Moacir dos Anjos, há pelo menos sete nomes novos no cenário brasiliense de artes plásticas. O Correio apresenta abaixo alguns desses novos artistas cujos trabalhos devem despontar ao longo dos próximos anos.
Dança e artes visuais
Ary Coelho e Luisa Günther se conheceram em 2007. Ele, bailarino clássico formado em Porto Alegre, era aluno de artes visuais da Faculdade Dulcina de Moraes e montava um espetáculo para o qual pedira a ajuda dela, doutora em sociologia da arte. ;A gente se encantou e acabou casando;, conta Coelho, 44 anos. Ele vem da dança e já ganhou o Prêmio Açorianos de melhor bailarino do Rio Grande do Sul, mas nunca havia sido premiado em um salão de artes visuais antes do Transborda. No ano passado, os dois criaram a dupla PLUS, uma forma de estimular a produção audiovisual enquanto Coelho passava por um tratamento após um diagnóstico de cânc]nsborda veio graças ao coletivo, criado a partir da ideia de unir dança e videoarte. Coelho e Luisa produzem pequenos vídeos e séries de fotografias que chamam de fotodança. ;O prêmio é importante porque a gente entrou no edital sem pretensão nenhuma. E é um batismo em artes visuais;, conta o artista. ;O que nos interessa é esse encontro da dança contemporânea com a performance.; Só no ano passado, a dupla produziu 55 vídeos, 50 a mais do que Ary Coelho estava habituado a realizar por ano. O PLUS da dupla é para reforçar o caráter de coletivo: além dos dois artistas, há sempre um convidado.
Trabalho de trânsito
Humberto Araújo também é um novato no mundo das artes visuais. Nascido em Uberaba há 41 anos e residente em Brasília há mais de uma década, ele descobriu a fotografia autoral enquanto realizava trabalhos comerciais. Formado em administração, decidiu se inscrever no edital do Transborda com o segundo ensaio realizado com a intenção de colocar um olhar pessoal na própria fotografia. Memórias da construção de Brasília reúne fotografias de utensílios de cozinha utilizados por pioneiros na época da construção da capital. As imagens foram feitas, originalmente, para um catálogo de uma exposição, um trabalho comercial que fazia parte da produção de uma mostra. ;É aquele material que a gente descarta mas não joga fora, as fotos que deram ;errado;, que não atenderam aos padrões de mercado;, explica o artista. O ensaio foi criado especialmente para o edital do Transborda com a intenção de pensar sobre os limites da fotografia documental. Retiradas do contexto de registro para um documento sobre uma exposição, as imagens ganham outra conotação. ;Pensei muito nessa questão do transbordamento, em sair do limite, que nesse caso foi a fronteira documental. Essas fotos são ;não documentais;;, descreve Araújo, que tem a pesquisa relacionada à memória como alvo. ;A questão da memória vem para levar o leitor a buscar sua própria imagem, suas próprias referências: ao ver o objeto, ele lembra de momentos do passado e cria imagens no inconsciente. Isso, para mim, é fotografia.;
SERVIÇO
Transborda Brasília ; Prêmio de Arte Contemporânea
Mostra dos trabalhos de 20 artistas selecionados. Visitação até 21 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Galeria Vitrine da Caixa Cultural (SBS Quadra 4, Lotes 3 / 4).