Alguns dos melhores autores contemporâneos da América Latina estão com romances novos recém-desembarcados nas prateleiras das livrarias. É uma leva que vale a pena conferir. A colombiana Laura Restrepo, autora de Delírio, romance tocante sobre as consequências da violência imposta pelo tráfico no século 20, está de volta com uma história sobre imigrantes. O cubano Pedro Juan Gutiérrez retorna aos anos 1960 para falar de uma amizade dilacerada pela realidade e o colombiano Juan Gabriel Vásquez reflete sobre os julgamentos encenados pela opinião pública. Da Argentina, Samanta Schweblin, que já participou de uma Bienal Brasília, está de volta com um romance laureado com o Prêmio Tigre de Juan no ano passado e somente agora traduzido para o português. Do Brasil, o destaque é para o primeiro livro de contos de Adriana Lisboa, e o novo romance de Elvira Vigna, uma narrativa que descasca o íntimo de dois personagens incomuns. Confira uma seleção de obras que valem a pena ser lidas antes do fim do ano.
[SAIBAMAIS]
Realismo quase mágico
Considerada pela revista Granta uma das melhores jovens autoras de língua espanhola, Samanta Schweblin se aproxima do gênero que consagrou a literatura latino-americana ao narrar a história de duas crianças contaminadas por pesticidas em uma região do sul do continente. Samanta nunca é direta e prefere caminhos tão obscuros e insólitos quanto fascinantes e improváveis, daí a ligação com o realismo fantástico. ;O absurdo nos mostra o quadro inteiro, sem o recorte que fazemos constantemente da realidade. O insólito não é o impossível, e sim o real fora do quadro. O insólito é o que sai da norma mas, se a norma é uma invenção humana, um código social (e creio que é), então às vezes o insólito poderia ser mais real, inclusive, que essa norma;, explica Samanta. É muito contemporâneo esse Distância de resgate. Seria simplório dizer que é um romance sobre transmigração de almas, mas não inadequado. Também pode ser um livro sobre os conflitos humanos e ambientais do século 21, uma novela na qual o homem sofre as consequências de ter machucado o planeta. Seja lá qual for a perspectiva, a escrita envolvente de Samanta merece ser lida de um fôlego só. E é quase impossível não o fazer.
Antigamente, em Cuba
Sim, Fabián e o caos é uma obra autobiográfica. Pedro Juan Gutiérrez buscou nas próprias memórias o material do romance, o primeiro a tratar de sua própria história. E não, o autor cubano não se desviou nem um pouco de sua linguagem visceral e crua para descrever a história de uma amizade pouco provável na Havana dos anos 1960. A construção do personagem Fabián se espelhou em um pianista, um dos grandes amigos do autor, personagem delicado e quase oposto à rudeza masculina do próprio Gutiérrez. Com Fabián, ou Fabio Hernandez, nome real do amigo, o escritor foi condenado a trabalhar em uma fábrica de carne enlatada, um centro de abates para o qual eram enviados os desafetos da revolução. Gutierrez estava desempregado, Fabián era homossexual, justificativas suficientes para confinamento segundo o regime de Fidel Castro.