Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Em entrevista, Eduardo Giannetii fala sobre a civilização brasileira

Em Trópicos utópicos, o economista cria 124 micro-ensaios em que passeia pela história da filosofia e da ciência em busca de uma visão da identidade brasileira


Acolhimento e afeto são valores importantes para Eduardo Giannetti, economista de formação, escritor e pensador da cultura brasileira. Tanto que ele repetiu pela quarta vez o procedimento de se isolar em Tiradentes para escrever um livro. ;Tentei dois outros lugares e me arrependi, porque não tem nenhum outro lugar que se compare com as condições ideais de trabalho que eu encontro lá. Não é só de trabalho, e de acolhimento humano que eu encontro na cidade e na pousada;, diz referindo-se ao Solar da Ponte, onde se hospeda para se dedicar à escrita.

Em Belo Horizonte, sua cidade natal, encontrei o professor no café do Palácio das Artes. Gentil e solícito, contou-me que já conquistou seu espaço na cidade histórica. ;A cidade já se acostumou com a minha figura solitária, passando longas temporadas lá, isolada e fechada num quarto trabalhando, ninguém acha isso mais estranho.; Com visível carinho, ele fala sobre a gentileza e o modo particular e tranquila com que os moradores de lá lidam com o tempo.

Esse traço marcante da cultura mineira se estende a nível nacional em Trópicos utópicos ; Uma perspectiva brasileira da crise civilizatória, seu mais recente livro, no qual tece uma erudita reflexão sobre a identidade brasileira. Nele, expõe a experiência de pesquisador da história das ideias, critica a obsessão iluminista de que a ciência é capaz de explicar e dar conta de tudo, indaga sobre a evolução da cultura ocidental e aposta que a cultura brasileira, com suas especificidades, tem características positivas para lidar com dilemas da contemporaneidade.

Gostaria que me explicasse a oposição entre a metafísica e a ciência que faz no livro.
Durante muito tempo, houve a expectativa de que a ciência eliminaria a metafísica porque ela daria conta de todas as respostas que a metafísica não conseguia dar. A ciência moderna nasce com a promessa de desvendar os mistérios do universo e da própria condição humana na natureza. Mas o que ocorreu, de fato, foi que, à medida que a ciência avançou, a natureza se tornou cada vez mais impenetrável, a condição humana cada vez mais enigmática e até opressiva, porque realmente a ciência não atende a esse anseio humano de encontrar sentido nas coisas e algum tipo de explicação para o que ocorre no universo.

Poderia dar exemplos?
O que é existir? Porque existe alguma coisa em vez de não existir nada? Afinal de contas, o que está acontecendo no universo? Então, uma das grandes promessas da modernidade que não se cumpriu é a de que a ciência daria respostas a anseios que são parte da nossa humanidade em relação ao que tudo significa. Não há como a ciência eliminar a metafísica. Assim como não há como a ciência eliminar a religião e outras maneiras de se buscar explicação para o que acontece.

SERVIÇO
Trópicos utópicos ; Uma perspectiva brasileira da crise civilizatóriaDe Eduardo Giannetti
Companhia das letras
240 páginas
R$ 49,90

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