Na seara de programas de entrevista da TV brasileira, A arte do encontro, do Canal Brasil, é exceção à hegemonia de conversas convertidas em shows e testemunhadas por plateias ávidas por gracejos, risos e afagos. A atração da tevê por assinatura se notabiliza por extrair dos entrevistados, artistas com larga experiência na carreira, declarações sobre assuntos contemporâneos, existenciais e periféricos - mas não menos importantes - da profissão e da vida longe do batente.
[SAIBAMAIS]O primeiro episódio colocou o entrevistador, Tony Ramos, de frente com o também veterano Antônio Fagundes, ambos em um diálogo entrecortado por releituras de textos clássicos e atuais, interpretação de improviso e investigação de dilemas humanos. O segundo, exibido nesta quarta-feira, às 21h30, é com a atriz Maitê Proença, a quem caberá tratar de poesia, tempo, vaidade e fazer leitura de Roque Santeiro, novela de Dias Gomes. "Gastei muito tempo da minha vida tentando seduzir o mundo", diz a atriz.
O cenário do bate-papo é minimalista: ambiente escuro, mesa, excertos de obras e luz postada sobre entrevistador e convidado. A sonoplastia é quase inexistente e surge apenas para costurar os recortes da edição. À frente de um bate-papo na TV pela primeira vez, Tony sacraliza o silêncio, respeita o tempo do entrevistado, deixa as palavras fluírem. A primeira resposta de Antônio Fagundes, por exemplo, passa de seis minutos, sob o olhar atento e diante do ator imóvel.
Os textos de apoio do programa são tesouro à parte. Tony lê Fernando Pessoa, Manoel de Barros, Shakespeare, Clarice Lispector no começo, meio e ao fim da entrevista, para pontuar momentos de relevo do diálogo. A arte do encontro, dirigido por Felipe Nepomuceno (do curta Caetana, sobre Ariano Suassuna), é um diálogo saboroso e está disponível no Facebook do canal.