Ambas são jovens, artistas de hip-hop e compartilham nomes praticamente idênticos. No entanto, as semelhanças param por aí. Iggy Azalea, australiana, branca e loira, vendeu milhões de cópias do álbum The new classic. Azealia Banks, negra e nova-iorquina do Harlem, ganhou reconhecimento pelo trabalho Broke with expensive taste, lançado em 2014. Apesar das diferenças, seus caminhos se chocaram em 2012, quando, em uma briga via Twitter, a americana acusou Iggy de estar explorando economicamente uma expressão artística tradicionalmente negra, ou seja, cometendo apropriação cultural.
Susan Scafidi, professora de direito da Universidade de Fordham e autora do livro Who owns culture?: Appropriation and authenticity in american law (A quem pertence a cultura? Apropriação e autenticidade na lei americana, em tradução livre), definiu apropriação cultural da seguinte forma: ;Tomar a propriedade intelectual, os conhecimentos tradicionais, expressões culturais ou artefatos de outros grupos sem permissão ; isso pode incluir dança, música, linguagem, folclore, símbolos religiosos etc. ; é altamente negativo, justamente quando a comunidade-alvo é uma minoria que tem sido oprimida ou explorada de inúmeras formas;.
Apesar de ser um conceito que vem sendo estudado há décadas pela comunidade acadêmica, discussões sobre apropriação cultural têm ganhado mais espaço na cultura pop e em debates acalorados nas redes sociais. Além de Iggy Azalea, Taylor Swift foi criticada por retratar estereótipos de mulheres negras no clipe de Shake it off; já o uso de motivos egipícios por Katy Perry em Dark horse também rendeu à cantora pop a pecha de insensibilidade cultural; o mesmo aconteceu com Beyoncé, ao se caracterizar como uma estrela de Bollywood no clipe de Hymn for the weekend, do Coldplay.
;A cultura pop está associada à produção em massa e ao consumo em grande escala. Mas essa indústria fabrica ;mercadorias; que logo podem se tornar descartáveis. É um universo veloz e transbordante. O consumo de músicas, filmes, séries, roupas e jogos é pautado pelo desejo intenso por novidades. O próximo disco, o próximo clipe, a próxima coleção. Na cultura pop, o artista precisa se reinventar para continuar a ser interessante para seu público. Nesse reinventar, experimenta novas referências. E quando a referência vem de uma cultura marginalizada? Pode soar artificial e ofensivo. Pode soar, inclusive, que a pessoa entrou nessa só pela grana ou pela ;modinha;;, explica Carolina Cunha, jornalista e especialista no tema.
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