Na adolescência, Ankomárcio Saúde aprontou um bocado. ;Tinha um furacão dentro de mim;, ele costuma dizer. Para amansar os ânimos, acabou esbarrando com a Escola de Meninos e Meninas do Parque, instituição que atende jovens em situação de vulnerabilidade e os transforma por meio de lições de arte e cidadania. ;Lá. conheci o palhaço Serenata. Era a pessoa menos instruída ali, mas de muita contundência. Os meninos paravam de cheirar tiner para prestar atenção no Serenata. Foi ele quem me fez palhaço;, recorda Ankomárcio, que atende pelo nome de Chaubraubrau quando ocupa o picadeiro.
E ele se lembra da primeira vez que encarou o respeitável público: ;O Serenata iria se apresentar e me chamou para acompanhá-lo. Deu-me o figurino e disse: ;Se prepara;. Eu logo retruquei: ;Mas ainda não sei nada;. E ele não hesitou: ;Pois vai aprender exatamente como meu pai me ensinou: fazendo;;. E foi o que ele fez. A lembrança, tantos anos depois, ainda o emociona: ;Quando vi as pessoas rindo para mim, quando me dei conta de que eu estava provocando aqueles risos, descobri que faria aquilo para sempre. Descobri a melhor forma de transformar o mundo. Naquele dia, coloquei o nariz vermelho e nunca mais tirei;.
Influenciado pelo irmão mais velho, Ruiberdan trilhou a mesma jornada. Nasciam os Irmãos Saúde, ou melhor, os palhaços Raquaquá e Chaubraubrau. E lá se vão 15 anos levando adiante a arte da palhaçaria e do circo. ;Somos ali do Núcleo Bandeirante, onde não há teatro. E a falta de um teatro afasta a possibilidade de as pessoas se relacionarem com a arte. Por isso, desde o início, resolvemos que levaríamos nossa alegria justamente para locais como o nosso de origem, sem teatro, sem circo, sem arte. Iríamos às pessoas;, conta Ankomárcio.
E assim eles fazem. Ao longo desses 15 anos, eles percorreram todos os estados brasileiros, sem exceção. ;Pegamos trator para subir a Serra do Tepequém (Roraima) e viajamos de barco para chegar a Manacapuru (Amazonas). Começamos com perna de pau, fomos para a kombi, e hoje contamos com a Lindinha, nosso ônibus, até porque precisávamos de uma mulher nessa relação;, brinca Ruiberdan.