Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Mostra de filmes traz ao CCBB raridades sobre os rebeldes da geração beat

Longas e curtas narram histórias sobre o movimento que se destacou pela contestação

Os escritores beatniks são mais conhecidos pela literatura, mas o impacto causado por essa geração de contestadores foi tão grande que ecoou em quase todas as linguagens artísticas. Pensando nisso, a produtora e curadora Roberta Sauerbronn achou que uma mostra de cinema com o tema renderia bons momentos. Não foi fácil reunir os 34 filmes de Geração Beat, que tem início hoje no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), mas o esforço trouxe muitas surpresas. ;É um universo que conversa muito com o rock, a cultura pop dos anos 1960 e 1970, um universo no qual sou viciada desde garota;, avisa.

Produtora acostumada a sets de filmagem e festivais, Roberta sentia falta de compilações que reunissem tanto filmes adaptados dos livros que gostava quanto documentários e cinebiografias. Depois de se embrenhar em arquivos públicos e pessoais, ela descobriu, além das adaptações, uma boa leva de documentários e cinebiografias raros, além de filmes nos quais os beats participaram como atores ou colaboradores para os roteiros. ;Esse grupo era muito articulado culturalmente nos Estados Unidos e tinha amigos no cinema;, conta a curadora. Jack Kerouac, por exemplo, escreveu roteiros e William S. Burroughs gravou uma banda sonora para um filme mudo. Faz parte da mostra um conjunto de 14 curtas que Roberta elege como preciosidades. ;São filmes de difícil propagação, tive que ir a acervos e aos diretores pessoalmente;, conta.

Reedições
Como parte da programação, a curadora também convidou o poeta e crítico Claudio Willer para uma master class sobre os principais autores dessa geração. Para Willer, o espírito de contestação dos beatnik está bem vivo e basta um passeio pelas redes sociais para comprovar. Especialista no movimento, Willer escreveu Geração beat e Os rebeldes: geração beat e anarquismo místico, além de ter traduzido Uivo, Kaddish e outros poemas, de Allen Ginsberg. Ele acredita que o interesse nos beats ganhou novo fôlego nos últimos anos. Willer cita algumas reedições, caso de Almoço nu, de Burroughs, e uma edição de bolso de Na estrada, de Kerouack, publicada pela L. ;A crítica está entendendo de modo melhor a geração beat. O que significa tudo isso, esse crescimento não só de leitores, mas de pesquisadores? Em primeiro lugar, que a beat é literariamente substanciosa, que suas obras não se reduzem ao impacto momentâneo, ao modismo, como queriam alguns;, garante.

; Para entender
Formado por escritores e poetas, o movimento beat se caracterizava pela contestação. Essa geração vivia em grupos, se deslocava muito e questionava os valores sociais impostos por uma sociedade, à época, bastante conservadora. Na década de 1950, os Estados Unidos eram palco de extrema vigilância política com o macartismo, marcado pela repressão aos comunistas e desmantelamento da espionagem soviética. Os beats levantavam a voz contra o macartismo e pregavam a exploração dos sentidos na produção artística. As viagens psicodélicas eram um símbolo dessa geração que protagonizou um dos auges da contracultura.

Geração Beat

Mostra com 34 filmes. Curadoria: Roberta Sauerbronn. De hoje a 1; de agosto, de quarta a segunda, às 19h e às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB ; SCES Trecho 2). Master class com Claudio Willer: quarta, 13 de julho, às 18h. Entrada gratuita, mediante retirada de ingresso uma
hora antes do evento. Confira a programação completa aqui.

; Alguns destaques da mostra


Haxan
O filme mudo de 1922 está na fronteira entre o documental e a ficção. Extremamente experimental, o filme sueco encantou William S. Burroughs, que fez para ele uma banda sonora comentada na qual lê poemas e faz comentários. ;Uma das vertentes de interesse dos beatniks eram as culturas orientais e o misticismo;, explica Roberta Sauerbronn. Ocultismo é um dos temas de Haxan.

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