Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Orquestra de Ouro Preto apresenta repertório dedicado às Américas

Gravado na Igreja São José dos Homens Pardos Bem-Casados, o álbum sai pelo selo Naxos, o gigante da música erudita internacional

A Orquestra Ouro Preto já gravou Beatles, Alceu Valença, Vivaldi, Bach e Mozart, mas é com brasileiros e latino-americanos que ela chega ao mercado da música instrumental internacional. Latinidade: música para as Américas é um disco muito singular e pra lá de tocante. Gravado na Igreja São José dos Homens Pardos Bem-Casados ; lugar de acústica perfeita ; e com repertório representativo da música realizada no continente latino-americano, o álbum sai pelo selo Naxos, o gigante da música erudita internacional, dono do maior catálogo do gênero no mundo.

Latinidade começa com uma singeleza. Toada e desafio, do pernambucano Capiba, abre o disco executada de maneira apaixonada pela orquestra. Conhecido como compositor de frevos, Capiba (1904-1997) também fazia música erudita e era figura ligada ao Movimento Armorial. A peça escolhida pelo maestro Rodrigo Toffolo, regente da Orquestra Ouro Preto, fez parte da trilha do filme Central do Brasil (Walter Salles) e ganhou um ar ainda mais melancólico na leitura dos mineiros. Em seguida, Quatro momentos n; 3, de Ernani Aguiar, revisita danças típicas brasileiras, ritmos que também dão o tom de Três peças nordestinas, de Clóvis Pereira, outro nome ligado ao movimento Armorial.

As bandas de Minas Gerais, uma tradição musical que vai de Diamantina a Ouro Preto, são homenageadas em Dois corações, de Pedro Salgado, e Marcha fúnebre Virgínia (Anônimo, século 20). Nesta última, o ritmo das batidas de uma caixa marca a melodia triste introduzida pelos acordes da Marcha fúnebre de Chopin. É um dos momentos mais bonitos do disco. A peça costuma acompanhar as procissões da Sexta-Feira da Paixão, em Ouro Preto. Com Pequena Suíte Americana, uma encomenda para Mateus Freire, o repertório acena para o norte, já que a peça traz citações bem explícitas ao jazz, aos musicais da Broadway e ao hino protestante inglês Amazing Grace.

Combinação

O ouvinte é então convidado a pular para o sul do continente com uma envolvente milonga encomendada ao argentino Rufo Herrera. Cinco clássicos do gênero integram a combinação de arranjos feita pelo compositor e é possível reconhecer trechos de Adiós Nonino e Libertango (Astor Piazzolla) e La cumparsita (Gerardo Matos Rodríguez). Intitulada Buenos Aires siglo XX, a suíte é executada pelo próprio Herrera, um mestre do bandoneón. ;É um repertório de música latino-americana baseada naquilo que nos difere, que nos faz diferentes;, avisa o maestro Toffolo.

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