Se fosse possível traduzir o som de notas musicais em palavras, é certo que a Fender Stratocaster de Jimi Hendrix diria muito sobre ele. Diante da impossibilidade de converter em fala a linguagem revolucionária da guitarra de Hendrix, ouvir suas falas (algo, em geral, negligenciado) pode revelar mais do que se imagina. Mesmo que muito mais calado que sua guitarra e bem mais retraído do que a postura no palco fazia crer, Jimi Hendrix, às vezes, se abria surpreendentemente em entrevistas (principalmente nas mais intimistas).
Foi a partir disso que o historiador Steven Roby reuniu no livro Hendrix por Hendrix (Edições Ideal) as principais conversas e artigos de jornalistas com o guitarrista americano, que ajudam a compreender a mente obscura e psicodélica de um dos maiores gênios da música.
;Eu sou um cara quieto. Normalmente, eu não falo tanto. O que eu tenho a dizer eu digo com a minha guitarra;, explicou Hendrix em uma entrevista concedida em 1967, aos 22 anos. Frequentemente, ele não falava tanto, mas, quando se sentia à vontade, poderia revelar muito. ;Hendrix respondia melhor em entrevistas privadas do que em coletivas de imprensa, ou em ocasiões em que os entrevistadores tinham suas próprias intenções;, afirma Roby, no prefácio do livro. ;Era sempre um bônus se a jornalista fosse mulher e se a entrevista acontecesse em um quarto de hotel ou em seu apartamento;, completa.
Com ares de autobiografia, Hendrix por Hendrix explicita passagens da trajetória do músico que estourou primeiro na Inglaterra do que nos Estados Unidos. Até por essa razão, são de publicações inglesas as primeiras entrevistas da obra, concedidas no início da carreira, quando Hendrix espantou ingleses com a forma visceral e estonteante de tocar guitarra. ;Ele é melhor do que o Eric Clapton. Ele tocou com o Cream em uma faculdade de Londres e expulsou Clapton do palco; Clapton admitiu que Jim era um guitarrista fantástico;, escreveu o jornalista Chas Chandler, em artigo de 1966, que apresentava o músico ao público inglês.
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