postado em 08/06/2016 07:33
Afinal, qual é a diferença entre o charme e o funk? Em 1995, quando os DJs Markinhos e Dollores disseram, no disco Rap Brasil vol. 2, que ;um anda bonito e o outro, elegante;, a resposta pareceu insatisfatória aos ouvidos não iniciados à palavra charme como uma referência ao estilo de dança. Vinte anos depois, a beleza (ou elegância) citada no Rap da diferença faz todo o sentido para o número cada vez maior de praticantes do charme nas academias de Brasília.
;Tem que ter gingado. É um estilo que favorece a coletividade por meio de passos diferenciados, sempre com muito suingue e sincronia;, definiu o pedagogo aposentado Dionésio Mercês Lima, 45 anos, que há sete anos saiu de Salvador para morar em Brasília e há três meses vem fazendo aulas de charme no Sesc Estação 504. ;A capital tem suas tribos e, quando você chega aqui, você se sente meio deslocado. O charme foi uma forma que eu encontrei de me incluir, achar uma turma;, revelou.
O coro em relação ao aspecto social do charme é reforçado pelo servidor público João Carlos Terra, 54 anos, que, assim como Dionésio, faz aulas no Sesc Estação 504 e conheceu o estilo em um evento na Feira da Torre. ;Ninguém se destaca, todos precisam estar sincronizados para fazer o grupo funcionar. Já fiz várias amizades;, contou, adicionando que o interesse pelo som flashback dos anos 1980, por meio do hip-hop e do r, como Michael Jackson, foi outro fator que o atraiu à dança.
A coletividade do charme está presente desde as suas origens nos anos 1980, quando o DJ Corello, aproveitando o desgaste do soul e a ascensão da disco, começou a experimentar com diferentes estilos dentro da sonoridade black, misturando o soul com o hip-hop e criando a sonoridade e linguagem do charme. O nome mesmo veio a partir do convite que Corello costumava fazer aos seus convidados: ;Chegou a hora do charminho, transe seu corpo bem devagarinho;.
Experiência
Apesar de a novela global Avenida Brasil ter ajudado a resgatar a popularidade do charme por meio dos personagens Darkson e Ágata, para Petrônio Paixão, 39 anos, professor de dança há 13, há outro motivo para esse revival: ;O charme é uma parte da cultura brasileira que agrega todas as gerações, sem distinção de cor, idade, raça ou religião. Além da facilidade para se aprender, a sonoridade flashback proporciona uma nostalgia para os nossos entes queridos que curtiram os bailes de funk/soul dos anos 1970 e 1980, o que acaba sendo transmitido para gerações atuais;, analisa.
Petrônio, envolvido com a dança desde 1984, quando tinha 7 anos, já participou de diversos movimentos e bailes de black music pelo Brasil. Hoje, além de dar aulas em academias na capital, o professor tem sua própria companhia, chamada Pegada Black Dança & Cia. Ele também produz o Baile Charme da Torre de TV, desde setembro de 2015, com os DJs Kakuza (Gildo), Linguiça (Mario Balthar) e o professor Emerson Costa. ;Não temos fins lucrativos e colaboramos com creches de todo o DF que necessitam de ajuda, cadastradas pela ONG Acesso;, explicou Petrônio.
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