Folguedo cênico brasileiro, o Cavalo-marinho é uma tradição que vem lá do interior de Pernambuco para mostrar a força artística presente nos canaviais. Ensinada por mestres, a brincadeira representa uma das maiores riquezas da raiz brasileira e carrega a essência cultural cultivada pelos escravos na época da colonização. ;Essa tradição se tornou um grande folguedo entre os cortadores de cana da Zona da Mata;, explica Nice Teles, brincante que ministrará uma oficina do estilo durante o fim de semana no Teatro Dulcina, no Conic.
Nascida no município de Condado (PE), Nice aprendeu a brincar Cavalo-marinho com o pai, mestre Antônio Teles. ;Somos muito felizes em carregar a tradição ao lado do nome da nossa família e manter viva uma brincadeira tão bonita.; Ao lado dos filhos, Totó da Rabeca e Natan Teles, ela continua a dar voz às toadas da região e no ritmo da rabeca, do ganzá e do pandeiro, conta os causos dos personagens Mateus e Bastião. Típica da zona norte pernambucana, a brincadeira é representada por diferentes mestres e carrega parte da temática do festejo de Boi de Reis, além de apresentar 76 figuras em cena, que interagem com o público durante toda a apresentação.
Em cena
O Capitão, o soldado da guarita, o Mané do baile, o Valentão, o Pisa Pilão e o Barre Rua são algumas das figuras que fazem parte da roda e, um de cada vez, entram em cena para saudar a plateia. ;Quando começam a primeira toada, as figuras entram na roda, o que chamamos de alevante;, acrescenta Nice. Segundo a brincante, cada passo é guiado pelo som dos instrumentos. ;Em seguida, é o trabalho do tombo do magui e é aí que os fogazões fazem um circo;. Nas palavras da brincante, é por meio do olhar que um personagem chama o outro para começar a atuar.
Já que a história da brincadeira gira em torno da relação conflituosa entre Mateus e Bastião, esses são os únicos personagens que não saem de cena. Os dois dividem a mesma mulher, Catirina, e quando são chamados para tomar conta da festa do Capitão Marinho, a roda começa. ;O Mateus, personagem principal, é uma figura que usa roupas estampadas e chapéu colorido com fita e chicote.; O rosto de quem o interpreta é pintado de preto, ou com carvão machucado ou com a chamada pirna de panela, resquício preto que fica na panela de barro depois de ir ao forno de lenha.
Oficina
;Levar a brincadeira para Brasília é fortalecer a cena cultural pernambucana;, argumenta Nice. No interior, a tradição faz parte da vida das comunidades de um jeito tão intenso, que alguns atores chegam até a adotar o nome do personagem que vivenciam na roda. Os meninos que interpretam Mateus, por exemplo, na maioria das vezes tem outra identidade, mas atendem até pelo nome batizado no Cavalo-marinho.
[SAIBAMAIS] ;Mostrar na capital o que a gente aprendeu com os mestres é uma responsabilidade muito forte. É uma forma de retribuir o olhar que a gente recebe de fora e trazer nossa história.; Como explica Nice, na oficina de Cavalo-marinho ela vai mostrar de forma prática como se apresenta o espetáculo tradicional e contextualizar a brincadeira com o cenário histórico da região onde vive. ;A gente que tem a cultura no sangue tem que ser muito humilde para que as pessoas realmente sintam a vivência da nossa comunidade. É por meio do laço de amizade e carinho que vamos apresentar nossa cultura;, completa Nice.
Oficina de Cavalo Marinho
Faculdade Dulcina de Moraes (Conic, SDS, bl. C)
De 20 a 22 de maio, das 14h às 18h. Investimento: R$ 100. Não recomendado para menores de 10 anos.